Que história é essa? Piso de “vermeião”

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Sílvio Bernardes
smabernardes@hotmail.com

De primeiro, como diz o outro, o piso das casas era de chão batido ou de taco ou, ainda, de um cimento liso e colorido que muitos chamavam de “vermelhão” (ou “vermeião”). O teto era de telhado, muitas vezes com um forro de madeira, de palha ou mesmo de plástico. Poucas casas eram de laje. Mas o piso, do vermeião, era, muitas vezes, verde, amarelo ou sem cor definida. Mas, para quem já viveu numa casa com vermeião – não importa a cor –, sabe que o troço escorrega pra danar. E era comum nas casas de antigamente – com chão taqueado ou de vermeião – o uso da enceradeira ou do escovão, ou dos dois. Antes, passava-se cera, se não me falha a memória, Parquetina ou Ingleza. Puts, mas era tanto brilho… e tanto tombo, que eu vou te contar.

Lá em casa, de primeiro, não tinha enceradeira, nem escovão. Creio que nunca tivemos uma enceradeira para chamar de nossa. Primeiro, por conta da falta de cobres. Enceradeira era um instrumento muito caro para a nossa indisponibilidade capital. Mais tarde, já bastante endinheirado (kkkkk), não precisávamos mais dela, os produtos se incumbiam, por si só, de dar o brilho de que necessitávamos. O próprio piso da casa já era brilhante por natureza. Mas, naquela época se não possuíamos enceradeira, tínhamos o piso de vermeião. E a mãe, coitada, queria sempre aquilo brilhando. A meninada ajudava nas tarefas do lar. Na hora de encerar a casa a gente usava molambos de pano e aí começavam as brincadeiras pelo chão da casa: de carrinho, de dança de salão, de escorregador. Era um puxando o outro, era outro empurrando o um. Aquela fuzarca no meio da casa e o vermeião ficando tinindo de brilhante… e de perigoso.

Lembro-me uma vez em que minha família esperava uns convidados para um café. A mesinha simples cheia de quitandas estava preparada para os convidados, os padrinhos do meu irmão caçula – à época –, Cláudio. Meu mano mais velho, Marcinho, ficara de tocaia, espreitando a chegada dos convidados. Quando o carro de praça apontou lá em cima, o rapazinho saiu que nem um foguete para dar a notícia de que “o povo evém aí”. O menino entrou correndo pela sala e, desatinado como ele só, escorregou no tapete e saiu derrubando tudo pela frente: gente, cachorro, cadeira e mesa, com os comes e bebes. Pratos e travessas viraram cacos ao meio de pedaços de bolo, pão de queijo, rosca e outras quitandas.

Não me lembro do desfecho deste ocorrido. Penalizado e deveras decepcionado com a situação, internei-me no mato onde brincávamos e nos escondíamos ante o perigo de uma surra de vara de marmelo.