Sílvio Bernardes
Como diz o outro, o povo de hoje é muito mais bonito que o povo de antigamente. Um amigo me diz, com uma convicção de “adevogado” de defesa, que já não nascem mais pessoas feias… o último deve ser esse meu amigo. Mas, bonitos ou não muito feios, os jovens de hoje em dia usam umas coisas que eu vou te contar. Não sei, é questão de gosto, opções de escolha. Eu respeito e não serei aquele que irá condenar certas posturas, mas a minha opinião não posso esconder. Vejo com certo espanto alguns modismos da nossa juventude. Penso que muitos estão na contramão da autoprodução, em vez de ficarem bonitos, ficam feios… ou mais feios. Muitos chegam a ficar assustadores. Um exemplo: aquelas argolas enormes enfiadas nas orelhas – por eles chamadas de alargadores. Outro: aqueles “piercings” espetados no nariz, na língua, no queixo e no sobrolho (ô palavrinha esquisita). E as exageradas tatuagens pelos braços pernas, pescoços?… Os cabelos, ah os cabelos! Uns cortes esquisitos, penteados estranhíssimos e cores demasiadamente alegres. Oi, cheguei! Creio que essa gente está é querendo imitar, consciente ou inconscientemente, os seus parentes índios ou os antigos vikings.
E as falas? Essas tribos urbanas falam (e escrevem nas redes sociais) uma linguagem muito estranha, com palavras ininteligíveis, tipo assim: “:) / =] / =) ;)”, ou assim: “rsrs, kkkkk, Ahaha, Ehehe, blza, naum, kdê, cfei, véi… e é veado pra cá, veado pra lá. Todo mundo é veado, todo mundo é mano, todo mundo é chegado”.
– Ô veado, cê vai no cinema?
– Sei não, mano, cinema tá muito caro, véi!
– Ah, carai, sô…
– Tô sem grana, veado! Vamos sair só pra bebê…
De primeiro, como diz o outro, o povo era mais preocupado com a aparência, se produzia melhor. As moças não saíam de casa com as roupas rasgadas e nem com calça pega-frango, nem as mais pobrezinhas. E os moços penteavam o cabelo antes de botar a cara na rua. O João Felpudo era só um personagem no livro do Grupo Escolar. As moças eram as que mais gastavam tempo (e dinheiro) com a beleza. Usavam batom, pó de arroz, ruge, lápis creon, leite de rosas, água de colônia, brincos de cabacinha, laços de fita no cabelo. As unhas eram cuidadas e pintadas com esmalte Risqué. Já os rapazes, andavam barbeados – ou, se barbados, a barba era bem aparada e limpa –, cabelos bem cortados (e ou penteados) e muitíssimos perfumados. A boca cheirava a creme dental kolynos ou a chicletes Ping-Pong, ou mesmo a bala de menta. É claro que alguns homens não tinham muitos dentes, havia quem os tinha amarelos de nicotina, com cheiro de cigarro Continental e até aqueles que seguiam à risca a indicação (nojenta) de se tomar banho somente uma vez por semana, aos sábados.
Mas, em geral o povo era arrumadinho, limpinho. A gente se produzia para sair, para passear, para fazer o footing (ou a avenida) na Praça da Matriz. Roupa nova, sem nenhum furo, para ir à missa aos domingos. Roupa chique, maquiagem, perfume e salão de beleza para as festas. Havia um certo glamour entre os que frequentavam o cinema, os teatros, os bailes no Automóvel Clube. Hoje é um tal de chinelinho de dedo, rasteirinha – com uns pés muito sujos e encardidos – roupas customizadas, ah! Como dizia minha mãe, “Uma marmota! Ah, se feiura pagasse imposto! Ô povinho manoteiro, sô!”.
Cê fei, minino!