Que história é essa? Retratos

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* Silvio Bernardes

Três fotografias, acima, tiradas da sacada do prédio da Prefeitura, na Praça Dr. Augusto Gonçalves (Praça da Matriz), no início dos anos de 1990 – com diferença de uns meses entre elas. Fico olhando-as e tentando ver alguns traços dessa paisagem hoje, passados mais de 30 anos. Ainda havia ali a casa do Tucha ao lado da Prefeitura, depois transformada em ponto comercial. O conjunto desses imóveis era ocupado, também, pelo Bar do Cilico e por uma pequena hamburgueria. Depois a casa do Tucha e todo o resto foram ao chão e hoje, em seu lugar, estão a Caixa Econômica Federal e algumas lojas modernas. Meus olhos vão um pouco adiante encontrando um velho casarão que já foi estúdio fotográfico, lotérica e, num passado mais antigo, o bar do Onofre Bacaiau e a farmácia do César Pincer Rafael. Mais adiante, rumo à Casa do Padre José, havia o prédio da churrascaria Chiken-In. Lá mais pra riba, onde a vista ainda alcança, acima do Colégio Sant’Ana, a paisagem não mudou muito entre uma fotografia e outra. Em duas delas dá para ver a Capela do Rosário, que a tudo olha e comanda como a mais antiga moradora dessas paragens do São João Acima. As árvores na praça, tirando a secura do tempo numa delas – talvez outono ou inverno – são as mesmas. Os carros são antigos nesses retratos que eu mesmo tirei há mais de trinta anos. Alguns deles muito antigos e fora de série. Dá para ver a velha camionete de serviços de carreto do Agnelo dos Garcias e, com ela, vem uma saudade do singelo carreteiro e de nossas conversas fiadas. Quando eu mudava de casa – e não foram poucas vezes desde que eu e Márcia nos casamos – o Agnelo era um dos profissionais contratados para nos auxiliar na mexida com os trem de menor tamanho. Tira dali leva pra lá, ajeita daqui, empurra para lá. Cabe não cabe, levo ou não levo.

Num dos retratos, vemos um ônibus-lotação azul. As cores e o formato do veículo indicam que os tempos do transporte público são os da empresa Redentor, que substituiu as antigas concessionárias paroquiais, do João Ruela, do Geraldo Melado e do João Morais. Os singelos ônibus azuis não escondem os problemas e as reclamações de sempre do transporte público, mesmo sem a proposta de subsídio milionário para a concessionária que agora tira o sono de muita gente. Alguns prédios já existiam nesse ambiente do centro da cidade, há mais de três décadas, outros ainda estavam no projeto e muitos nem sonhavam em existir. A cidade ‘deferençou’ muito nos últimos anos.

Quem seriam as pessoas que caminham nessas fotografias?  De onde vêm, para onde vão? Elas não parecem, definitivamente, que estão presas nessas imagens. Estão em movimento, vivas. Não imaginavam que seriam retratadas por um jovem repórter da sacada da Prefeitura – e que o seriam novamente, anos depois, por esse mesmo repórter, já não tão jovem assim.