Que história é essa? Tinha um que usava crocs; outro, que era um maconheiro contumazQue história é essa?

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* Silvio Bernardes

Minha mãe chorou muito quando meu irmão do meio disse para ela, assim, na lata, que o nosso mano caçula estava usando Crocs. “Você tem certeza disso, Carlos Augusto? O Juninho?. Cê tá de brincadeira comigo, né? Cê tá querendo me matar, né?”, ela retrucou aos gritos, para depois cair no choro. E prometeu ali mesmo, no batente do fogão, que iria matar o Juninho, “picar ele em pedacinho, esse FDP!”. E chorou com sinceridade, como somente as mães o fazem. “Eu não mereço isso não, Deus é testemunha que eu sou uma mãe dedicada e não uma vaca parideira! Eu vou matar o desinfeliz do Juninho… e depois vou tomar formicida. Como é que é o nome do trem? Cracs, crocs. Eu não criei filho meu para mexer com essas coisas”. Aí meu irmão Carlos Augusto consertou o mal feito… “É trolagem, mãe…”.

– Trolagem? Mais coisa ruim, Cartlos Augusto? Pelamordedeus, menino, não me conta mais nada.

– É brincadeira, mãe, tô brincando com a senhora. O Juninho tá usando Crocs, aquela sandália de via… que o pai deu pra ele, aquela que parece um tamanco. Não tem nada de droga, não. É uma sandália, Crocs, é o nome, tá ligada?

– Tô ligada é no raio que o parta, na pqp, seu fi da égua! Tô até passando mal, com dor de cabeça, dor de barriga. Some daqui antes que eu arrebente a sua cara com o meu tamanco de madeira, esse sim faz um estrago danado.

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O Seu Dico da Maria Rosário era um tipo muito divertido. Contador de causos. Engraçado demais quando pitava seu cigarro de palha e tossia e se sacudia e ria das suas tosses e sacudidas. Era pai do meu amigo de juventude, Delber (o Delbinho) e de uns outros meninos que eu não tinha muita amizade. Quando o Delbinho começou a usar a erva, que a gente chamava de maconha ou chincha, o pai ficou até contente. Ele não entendia muito dessas coisas e como o filho, que viera de um passado de muitas trapalhadas com pequenos furtos e uns bons meses de xilindró – onde pode ver o sol nascer quadrado quase todos os dias –, aquilo ali só podia ser coisa menos pesada. E ele contava para todo mundo que o filho agora, “não mexia nas coisas do zoto”, nunca mais fora preso, que conhecera uma tal de ‘inconha’, e que estava feliz com ela. A verdade é que o Delbinho era um maconheirozinho bastante regular. Dia sim e outro também ele puxava o fumo. Aprendera como ninguém a enrolar seus baseados que o deixavam de olhos de brasa, rindo que nem um bobo alegre. Não chegou a vender a erva, fumava sim e, até, fornecia, graciosamente, para os amigos uns beques de boa qualidade – dizia ele, sempre rindo, sempre de olhos vermelhos. Houve um tempo em que ele até brincava quando lhe perguntavam sobre a maconha. “Eu fumo mas não num trago, quem traz é um amigo meu, o Gaivota, bicho do bico de brasa, de olhos pregados no céu”.

O Delbinho morreu há pouco tempo, ainda muito moço, de cirrose hepática. Tava bebendo demais. Depois dos baseados, entornava litros de cachaça e quase não comia. Era um bom sujeito, o Delbinho. O Dico é que dizia. Tenho boas lembranças do meu amigo Delber.