Sílvio Bernardes
Procuram-se pessoas que escutem, no talo, velhos LPs do Lupicínio Rodrigues para os dias de dor-de-cotovelo e que propaguem alto e bom som antigas marchinhas de carnaval do Lalá (apelido íntimo de nós, amigos, do Lamartine Babo). Procuram-se pessoas que ainda têm álbuns de fotografias escondidos na parte inferior da cristaleira, onde, em cima, estão guardadas porcelanas baratas de tempos mais bem vividos. Procuram-se pessoas que tenham em casa, num armário cheio de coisas velhas, um álbum de figurinhas e onde, naquela página amarelecida pelo tempo, falta a figurinha-carimbada, a chave que lhe daria o grande prêmio (sic). Procuram-se pessoas que tenham coleção de selos – chamados de filatelistas – e aquelas que escreveram e receberam cartas. E que as guardam nos envelopes originais dos Correios, em maços amarrados com barbante. Procuram-se pessoas que leiam e escrevem poemas. E sabem de cor alguns, definitivamente lindos. Procuram-se pessoas que assinaram cadernos de perguntas dos colegas da vizinhança. Procuram-se pessoas que falavam na língua do “P” e que escreveram bilhetes apaixonados, repletos de códigos, para a menina mais linda da classe do grupo escolar. Procuram pessoas que brincaram de guerra com mamonas verdes, muito antes de lerem as narrativas escritas pelo David de Carvalho. Procuram-se pessoas que puseram fé num namoro iniciado timidamente no portão. Procuram-se pessoas que ainda guardam o diploma do curso de datilografia e que sabiam manejar com agilidade e postura as velhas máquinas de escrever Remingtons e Olivettis. Procuram-se pessoas que frequentaram o Bar Azul e, no reservado do Bar do Cici, jogou um carteado com a Dona Lourdes. Procuram-se ouvintes da Rádio Atalaia de Belorzonte e dos programas matinais do Zé Bétio da Rádio Record de São Paulo. Procuram-se pessoas que frequentaram velórios para filar uns salgadinhos e até choraram um defunto desconhecido a fim de sustentarem a encenação funérea. Procuram-se pessoas que frequentaram festas como penetras e saíram, com a pança e os cornos cheios, amigos dos anfitriões e dos convidados mais ilustres. Procuram-se pessoas que morriam de medo do homem do saco e que acreditaram que o velho senhor que morava na rua de baixo virava lobisomem nas noites de lua cheia.
E se alguém souber dessa gente de antigamente, podemos marcar um encontro e revisitar aquela nossa velha conhecida chamada reminiscência.