Sílvio Bernardes
Não foi somente as “Anedotas do Pasquim”, livro da editora Codecri, que eu li na minha primeira juventude, no século passado, emprestado da Biblioteca Waldemar Gonçalves de Souza, que funcionava ao lado do Banco do Brasil, na Praça da Matiz. Foi por esse tempo que conheci também “O menino maluquinho”, “Uma professora muito maluquinha”, “Flicts”, “O papel roxo da maçã” e tantas outras delícias da nossa rica literatura.
Depois veio o próprio “Pasquim”, jornal comprado nos anos de 1970/1980, na banca de revistas do Geraldo Turruca, na mesma Praça da Matriz; e em jornaleiros anônimos no Belorzonte.
Apaixonei-me, perdidamente, tempos depois, com as revistas da “Turma do Pererê”, adquiridas sabe lá Deus como, já que o dinheiro era curto. Mas como não se apaixonar pelas narrativas e os personagens do mestre? O Pererê, o Tininim, o Galileu, o Geraldinho, a Boneca de Piche, o Moacir, o Pedro Vieira, a Tuiuiú, o Alan, a Mãe Docelina, o Rufino e o Flexa Firme… Mais tarde tomei contato com suas posições políticas, cujas ideias já me davam energias nas páginas do “Pasquim” e nas tirinhas publicadas noutros jornais. E o mestre de Caratinga, o mineiro mais legal do planeta, veio com “Bundas”, em 1999, uma revista que contrapunha em humor e inteligência com a “Caras”. Sempre preferi “Bundas” à “Caras”; algumas ainda as tenho guardado no meu acervo histórico.
Tive o prazer de estar com ele pessoalmente, numa entrevista coletiva em Belo Horizonte, em 1995, no lançamento do primeiro filme “O menino maluquinho”, do Helvécio Ratton. Eu, Gutto Terranova e Cláudio Bernardes conversamos com ele, o mestre Ziraldo, e com parte do elenco do filme, inclusive o garoto Samuel Costa, estreante como ator aos 9 anos.
Ziraldo foi para mim, naquele momento, e sempre, um cara muito gente boa, e um genial artista da comunicação. Se me permitem, foi um agitador cultural e um guerrilheiro jornalístico contra as caras feias, a truculência e o mau humor que grassaram neste país nas últimas décadas do século XX.
Estamos lendo e vendo essa semana, com muita insistência, sobre a partida do Ziraldo para a pátria espiritual. Morreu o Ziraldo Alves Pinto!!! – disseram os jornais, a televisão e a internet. Partiu de mansinho, como falou sua filha Daniela Thomas, e como bom mineiro que era. Deixou a todos nós sem graça… pelo menos até que a gente recorra à sua vasta produção de livros, desenhos cartoons, textos jornalísticos, filmes de cinema e televisão, teatro etc. para matar a saudade. E se deliciar, novamente, com tanta criatividade.
PS. “ETC” era um programa de entrevistas, na televisão, comandado pelo Ziraldo. Isso foi há muito tempo.