Pense em uma categoria profissional fundamentalmente atingida durante mais de um ano de pandemia da Covid-19, que impôs fechamento de escolas, cancelamento de viagens e eventos festivos, como futebol, entre outros. O transporte intermunicipal de passageiros, destinado a estudantes e viagens especiais, deixou de circular há mais de um ano. Como se fosse uma mágica, desapareceram do cenário de nossas ruas as vans escolares, as peruas, os micro-ônibus, assim como os estudantes uniformizados, com suas mochilas, merendeiras e algazarras. Há muito tempo que não se veem cenas desses veículos repletos de estudantes, crianças e adultos, circulando pela cidade à caminho dos colégios, da Universidade de Itaúna, do Senai, das faculdades da região. Ultimamente têm sido somente recordações os pontos de embarque de veículos especiais – repletos de pessoas – para os jogos do Mineirão, os passeios no Jardim Zoológico e no Museu Inhotim, as baladas no Iate Clube, na Girus e na Divina Expô. Esse público, com certeza se ressente de um passado não muito distante, de tempos mais bem vividos. Mas, quem mais se impacta por tanto tempo de ausência são os proprietários das vans, dos ônibus e micro-ônibus. Dizem que mineiro não perde o trem, mas, sabemos, a pandemia fez com que muitos perdessem seu carro, que era ferramenta de trabalho. Depois de tantos meses sem trabalho, muitos motoristas tiveram que vender o veículo, mudar de profissão, alguns perderam a ferramenta de trabalho para o banco que a financiou. Tem motoristas trabalhando como serventes de pedreiro, como motoboy e quase todos estão em sérias dificuldades financeiras e sem perspectivas de breve retorno às atividades.
Cooperativa da categoria foi impactada pela pandemia
O Jornal S’PASSO conversou com José Miguel Santos Júnior, empresário do transporte especial, um dos idealizadores e dirigente da Coopernossa – Cooperativa dos Transportadores de Escolares de Itaúna. Ele, que atua há vinte anos no mercado, disse que a situação está muito difícil, a começar pela própria cooperativa, que necessita fazer malabarismos para se manter de pé. Quando foi criada no ano passado, a Coopernossa, tinha 45 associados, hoje são somente 13 pessoas que estão conseguindo cumprir com os compromissos para que ela possa continuar funcionando. Mais de 30 cooperados, depois de perder o negócio, não conseguiram continuar pagando as mensalidades. De julho a dezembro, a Cooperativa ficou inativa. Agora se mantem ativa, apenas por questões de planejamento futuro, quando os motoristas vislumbram a mudança do cenário pós-pandemia. “Temos que continuar com ela porque quando tudo passar, criar uma nova cooperativa é muito mais difícil”, explica Miguel. Por sua vez, a Coopernossa pouco pode fazer pelos afiliados no momento. Muitos motoristas de vans estão migrando para outras funções. Ele mesmo, está trabalhando para um conhecido, proprietário de um caminhão-guincho. “Recentemente falaram que as aulas iriam voltar, mas por enquanto é somente projeto, e ainda que retornem, a situação não irá permitir o transporte como era e nenhum motorista vai dar conta de se manter com o carro na estrada levando dois, três passageiros”, considerou.
Perdendo veículo para os bancos
Outro empresário do setor ouvido pela reportagem é Mauro do Carmo Guimarães, o Maurinho, vice-presidente da Coopernossa. Ele conta que as dificuldades dos proprietários e motoristas de vans sãos as mesmas desde o início da pandemia. Estão se virando como podem, sem qualquer amparo do poder público e tendo que continuar honrando compromissos de ordem financeira, como quando tinham trabalho diariamente. Colegas seus estão perdendo para os bancos o veículo financiado e muitos estão em situação grave por falta de trabalho. “Em algumas cidades e noutros estados há notícias de que o governo tem auxiliado a categoria. Em Minas, o governador Zema prometeu, porém, não teve o dinheiro. Ou seja, deu e não deu. Aquele auxílio emergencial, o primeiro, os motoristas de van não tiveram direito porque declaram Imposto de Renda. Estão falando aí num Auxílio Emergencial de Itaúna, de R$ 200,00 ao mês, não sei ainda. Muitos só não estão passando fome porque estão correndo atrás, estão buscando outros segmentos porque as contas não param de chegar”, ressaltou. Maurinho atualmente trabalha como empregado dirigindo carreta.
Motoristas da Secretaria de Educação atendem noutros setores; terceirizados serão recontratados
Na Prefeitura de Itaúna, os motoristas que cuidam do transporte escolar são efetivos e estão trabalhando noutros setores depois de mais de um ano em que as escolas estão fechadas. “Alguns deles foram cedidos temporariamente para outras secretarias até o retorno das aulas presenciais”, conta o secretário de Educação, professor Weslei Lopes.
Lopes afirma ainda que este ano foi aberta licitação para contratação, novamente, de empresas de transportadores de estudantes da zona rural. Enquanto as aulas presenciais não acontecem, o serviço do transporte terceirizado está suspenso.