S’PASSO Entrevista: Correção dos emissários de esgoto, lixo e caçambas de entulho são alguns problemas enfrentados pelo Meio Ambiente em Itaúna

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O assunto do momento são as alterações climáticas, que trazem inúmeras consequências para as nações, como as inundações provocadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul, assim como o calor excessivo, a seca, as geadas etc. Crise climática, planos para o meio ambiente e ações efetivas que venham minimizar os desastres que afetam inúmeras pessoas em todo o país.

Em Itaúna os problemas dizem respeito aos emissários de esgoto sujando os rios, poluindo o meio ambiente e matando peixes; o lixo acumulado em vários lugares, principalmente com as caçambas destinadas aos resíduos sólidos da construção civil; e a mutilação de árvores na avenida que margeia o rio São João ainda é uma questão muito abordada e criticada.

O Jornal S’PASSO ouviu essa semana, Marcelo Augusto Nogueira Rezende, responsável pela Gerência Superior de Meio Ambiente, vinculada à Secretaria Municipal de Regulação Urbana. Marcelo atua no setor de Meio Ambiente desde 2010 e na Gerência Superior na Prefeitura, desde 2019. É formado em Gestão Ambiental pela Universidade de Itaúna, pós-graduado em Avaliação de Impactos Ambientais e Recuperação de Áreas Degradas, pela Faculdade UniBH.

Ações de infraestrutura para minimizar impactos das chuvas

No ano de 2021 para 2022 houve uma situação que podemos chamar de fora da curva com relação às chuvas, que trouxeram muitos danos para a cidade. Mais recentemente, o problema de inundações com maior incidência na avenida Jove Soares. Podemos dizer que a Prefeitura se preocupa muito com as questões de infraestrutura. Posteriormente, a esses acontecimentos várias obras foram executadas e ainda estão sendo realizadas, como a limpeza e desassoreamento do rio, aumento da vazão da água com instalação de aduelas, como, por exemplo, na avenida Manoel da Custódia, na Gabriel da Silva Pereira, na Várzea da Olaria. Eu não digo que os planos são para evitar essas tragédias, mas para minimizar os impactos de inundações, em decorrência das chuvas. Nenhuma cidade está preparada, em termos de infraestrutura, para receber o volume de vazão, sem que cause impacto, com relação à quantidade de chuva, como ocorreu no Rio Grande do Sul. Agora, o que tem que ser feito e é o que tem acontecido em Itaúna, é a melhoria das infraestruturas existentes, para fins de minimizar os impactos desses períodos de maior volume de chuva.

Prevenção com apoio de vários setores

Sim, a gente sabe quais são os períodos em que mais acontecem as chuvas, nos meses finais e do início do ano. A Defesa Civil faz o monitoramento das barragens, de pontos de possível deslizamento de terra, inundações, como no final da avenida São João, no fundo do Hospital. Então, esses pontos são monitorados, não sei com qual frequência. E a Secretaria de Infraestrutura e Serviços, sempre de prontidão e, no caso de alguma emergência, a atuação é imediata.

Emissários de esgoto no rio São João e afluentes

Muito se falou que o problema dos emissários de esgoto veio depois das obras de limpeza e de desassoreamento do rio. Mas não é isso; muitos desses problemas decorrem da vida útil, da idade mesmo, desses sistemas de esgotamento. O solo passa por manutenção constante, os sistemas são impactados, não têm flexibilidade e, ao longo dos anos, eles vão se rompendo. Pode sim ter havido algum dano por causa dos serviços que foram feitos, mas antes disso, no córrego Joanica, no ribeirão dos Capotos e no rio São João houve mesmo esse desgaste em alguns pontos por causa do tempo, ao longo de anos. O que acontece é que depois dessa intervenção da limpeza o problema ficou visível. Agora, uma informação do SAAE, que ainda é extraoficial, que as obras em todo o sistema de esgotamento sanitário devem ser iniciadas em julho para resolver todo o problema, em toda sua extensão, no rio São João, córrego Jonica e ribeirão dos Capotos.

Mau cheiro em Santanense

Esse odor, característico de efluentes sanitários, será resolvido com essas obras nos emissários. O odor é o menor dos problemas, embora a gente saiba do incômodo causado na população. Mas o objetivo maior é dar um direcionamento adequado para a estação de tratamento e despoluir os recursos. Isso será um grande ganho para toda a população.

Mortandade de peixes

Foi um fato isolado. Antes da ETE ser inaugurada todo o esgotamento do Sistema Soma era lançado naquele barramento da MG050, abaixo da Cia. Tecidos Santanense, através de uma manilha de mais de um metro de diâmetro. Nunca foi relatado mortandade de peixes. As pessoas estão querendo associar a morte dos peixes aos problemas do esgotamento sanitário. Não é isso, mesmo sabendo que o esgoto é matéria orgânica, mas isso não é suficiente. Se fosse assim, por causa dos emissários, o Joanica e o Capotos teriam apresentado o mesmo problema.  Não dá para saber o que houve. Estivemos no local tão logo vieram as primeiras informações e não verificamos alteração na coloração da água e a vazão não mudou nada no rio. Não foi o esgotamento sanitário que causou isso, foi algum lançamento pontual – naquele local somente – de alguma substância que a gente não conseguiu identificar que matou os peixes. E isso não está mais acontecendo, não tem mais nada.

Ainda a supressão das árvores na avenida São João

É importante deixar claro que isso aconteceu posterior àquelas chuvas de 2021-2022, quando houve um grande volume na cidade e identificamos a necessidade de limpeza, além do desassoreamento no rio São João. Concordo que apanhamos demais por isso, mas muitas pessoas não entendem que o objetivo ali é aumentar a capacidade de acumulação da calha do rio e da velocidade de vazão, para que quando o rio extrapolasse desse a vazão de forma rápida e volte ao normal. Ao longo de décadas a própria população foi plantando árvores nas margens, de forma inadequada, sem espaçamento necessário, sem critério. No momento em que necessitou da utilização de equipamento pesado para as obras de manutenção, não teve como não retirar as espécies. Falei isso na Câmara, se você colocasse servidores com pás, enxadas e picaretas para realizarem uma obra daquela, iriam gastar mais de um ano, estariam lá até hoje. É desumano. Uma máquina, como a que foi utilizada, tem mais de 15 metros de eixo, não existe como um equipamento desse acessar a calha do rio para retirar os bancos de areia, outros materiais que serviam de obstáculos à vasão e facilitavam o transbordamento. Este foi o motivo pelo qual houve necessidade de realizar a limpeza das margens com a retirada das árvores.

Replantio de espécies na avenida São João

Agora, para a realização do replantio deste espaço, feito de forma adequada e responsável, você tem que observar se há conflito com abastecimento de energia elétrica. Grande parte do espaço tem rede de energia elétrica e é irresponsabilidade plantar árvores debaixo desses sistemas. A maioria dos municípios, não somente Itaúna, não está adequada para receber arborização urbana. O que se planta debaixo das redes de energia são plantas que não oferecem nenhum sombreamento para diminuir a questão da temperatura. Não se pode plantar árvores de grande porte. A própria Cemig recomenda. Outra questão importante sobre as margens do rio São João é o espaçamento entre as árvores. Não se pode plantar perto de sistema de drenagem de água pluvial porque podemos comprometer o sistema. Tem que ficar desobstruído. Naquela época, algumas árvores caíram e danificaram os gabiões, próximos do pontilhão, do Sesi, do centro esportivo da Universidade. Tem que haver critério e melhor entendimento. É por isso que é muito demorado o replantio. Se você passar lá agora vai ver diversas espécies de mudas plantadas; novamente não estão respeitando a proximidade, mudas inadequadas, como, por exemplo, mangueiras. Uma mangueira adulta, o pé dela, tem mais de um metro de diâmetro.

Lixo e caçambas de entulho nas ruas

O lixo doméstico é responsabilidade do SAAE, os demais são de responsabilidade do gerador. O problema das caçambas se arrasta há mais tempo, os caçambeiros insistem em dizer que a responsabilidade é da Prefeitura que deve disponibilizar uma área para o descarte. Só que essa atividade é passível de licenciamento, outra coisa, essa atividade de recebimento, aterro, beneficiamento, falo dos resíduos sólidos da construção civil, as áreas são exclusivas para os resíduos sólidos. Mais uma vez chamamos a atenção para a responsabilidade das pessoas. Todo mundo joga um saquinho de lixo dentro da caçamba. Agora, depende dos caçambeiros ou de quem contrata o serviço fazer a orientação, realizar a limpeza, a triagem para que ali seja colocado apena os resíduos da construção, o que deve ser transportado para esses locais. Em Itaúna existe uma empresa devidamente licenciada e que está enfrentando dificuldades em receber essas caçambas devido à grande contaminação de outros rejeitos. Esse empresário não está licenciado para isso, não pode receber o produto que não seja o resíduo da construção civil.

Local de descarte

Existe sim o local para descartar. Agora, porque não estão descartando por lá, eu não sei. É uma questão particular deles, entre a empresa privada que vai beneficiar o material e a empresa que vai retirar da obra. Uma resistência ao serviço é com relação ao custo das caçambas, mas o município não tem responsabilidade em regulamentar os valores que são praticados. É uma questão comercial entre particulares. Sem citar nomes, num passado não muito distante o que havia era bota-fora, sem nenhum cuidado com o tipo de material, sem tratamento, sem triagem, sem segregação, sem beneficiamento. Era encaminhado animal morto, resíduo contaminado, filtro, estopa de uma oficina mecânica, raspa de couro etc. Hoje, o empresário sabe que ele não pode receber determinado material, porque não está licenciado para isso e não existe uma destinação para certos resíduos. Hoje, o único problema é dos resíduos sólidos da construção civil, os demais estão funcionando bem com as empresas prestando o serviço adequadamente.

Falta educação ambiental

A Gerência de Comunicação tem desenvolvido campanhas em todos os setores e com o Meio Ambiente não é diferente. São feitas juntamente com o SAAE, que tem a Gerência de Resíduos Sólidos. Não sei qual é a frequência, mas nos canais oficiais da Prefeitura são realizadas campanhas. Em datas comemorativas, as campanhas são mais pontuais, com plantio de árvores, panfletagem, que são formas de educação ambiental.

Queimadas

Historicamente, o número de queimadas em Itaúna diminuiu bastante. Já no ano passado quase não tivemos casos. Existem situações pontuais porque há ainda uma cultura de pessoas que querem limpar o seu quintal colocando fogo. Há uma postura ostensiva de notificação dos proprietários de imóveis, para realizarem limpeza, cercamento. Isso é anual e não somente em determinado período. São muitas notificações para se evitar esse tipo de problema. Infelizmente, tenho que falar, não é a Prefeitura que bota fogo, não é a Prefeitura que descarta resíduo de forma irregular, não é a Prefeitura que joga produtos no rio que pode causar a mortandade de peixes.  Eu penso que essa situação de queimadas, as pessoas estão melhorando o entendimento.

Nenhuma cidade está preparada, em termos de infraestrutura, para receber o volume de vazão, sem que cause impacto, com relação à quantidade de chuva, como ocorreu no Rio Grande do Sul. Agora, o que tem que ser feito e é o que tem acontecido em Itaúna, é a melhoria das infraestruturas existentes, para fins de minimizar os impactos desses períodos de maior volume de chuva.

Existe sim o local para descartar. Agora, porque não estão descartando por lá, eu não sei. É uma questão particular deles, entre a empresa privada que vai beneficiar o material e a empresa que vai retirar da obra. Uma resistência ao serviço é com relação ao custo das caçambas, mas o município não tem responsabilidade em regulamentar os valores que são praticados.

As pessoas estão querendo associar a morte dos peixes aos problemas do esgotamento sanitário. Não é isso, mesmo sabendo que o esgoto é matéria orgânica, mas isso não é suficiente. Se fosse assim, por causa dos emissários, o Joanica e o Capotos teriam apresentado o mesmo problema.