S’PASSO Entrevista: Padre Giovanni van de Laar, um dos fundadores da comunidade católica do Santo Antônio há 50 anos

“Jubileu de Ouro” está sendo comemorado na Igreja e no bairro, com celebrações, barraquinhas e atividades artísticas

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A Festa de Santo Antônio, realizada no dia 13 de junho no bairro que homenageia o santo católico, este ano tem um motivo mais que especial para suas comemorações: o 50º aniversário da comunidade religiosa. Os eventos comemorativos do Jubileu de Ouro, em homenagem a Santo Antônio e à Igreja, criada em 13 de junho de 1974, tiveram início no último sábado com uma série de eventos, que incluem celebrações de missa, procissão e as tradicionais barraquinhas.

O padre Giovanni van de Laar, é o mais longevo líder religioso da comunidade do Santo Antônio. Esteve à frente dos trabalhos sacerdotais na igreja, que pertenceu à Paróquia da Piedade e hoje compõe a Paróquia Nossa Senhora Aparecida, por mais de 20 anos. Nascido em Someren, estado de Nord Brabant, na Holanda, em 1º de novembro de 1938, padre Giovanni veio para Itaúna em 7 de novembro de 1965, para lecionar francês no Colégio Sant’Ana. Ele é membro da congregação internacional “Padres do Espírito Santo”, que trabalha em 60 países, com mais de 2.600 religiosos.  Foi ordenado padre em 18 de outubro de 1964 e, tão logo, a Congregação o encaminhou em missão para o Brasil e, “de modo especial”, para Itaúna, de onde jamais saiu.

Padre Giovanni é um dos últimos que vieram da Holanda e continua em Itaúna onde tornou-se Cidadão Honorário, título concedido pela Câmara Municipal em 24 de abril de 1992.

Na manhã da última terça-feira (4), o padre Giovanni recebeu em sua casa, no bairro da Piedade, a reportagem do Jornal S’PASSO para uma entrevista sobre a história de Santo Antônio e a vida em Itaúna. Além do repórter do S’PASSO, o jornalista Hudson Bernardes, membro da comunidade do bairro Santo Antônio, também participou da conversa. Ele levou de presente para o padre uma camisa comemorativa do Jubileu de Santo Antônio.

O início da história do padre com Itaúna

No dia 10 de agosto de 1971, Dom Cristiano, bispo D. Cristiano Portela de Araújo Pena – 1959-1978, primeiro bispo da Diocese de Divinópolis, fundou a Paróquia da Piedade. A Paróquia de Sant’Ana era muito grande, então, houve esse desmembramento. O padre Bernardo, meu colega da Congregação do Espírito Santo, ficou na Piedade e eu, na comunidade do Santo Antônio. Em 1972/73, padre Bernardo foi nomeado para Brasília; eu fiquei com toda a paróquia, dividindo as atenções para as duas comunidades, da Piedade e do Santo Antônio.

Ajudando a construir Itaúna

Quando o povo de Itaúna fala isso, de que nós, padres que vieram da Holanda e de outras partes da Europa, viemos ajudar na construção de Itaúna, é pura bondade dele. Itaúna é uma cidade muito generosa.

Atuação nos dias de hoje

Estou com 85 anos, enxergo pouco; para celebrar é complicadíssimo. Estou celebrando apenas aqui, aos domingos, na Capela Nossa Senhora do Silêncio, no bairro Piedade, ao lado da creche Casa Betânia, com algumas limitações, porque também não estou escutando bem, preciso usar aparelho.

A construção da igreja na comunidade do Santo Antônio

A construção de uma igreja em uma comunidade é o jeito para se formar uma comunidade. Para catequisar as pessoas, pois a comunidade cristã é muito importante na formação das pessoas. Assim, veio a construção da Igreja de Santo Antônio. A comunidade do bairro já tem mais anos. A benção da igreja faz agora 50 anos, no dia 13 de junho.

Comunidade presente na construção da comunidade cristã

Os moradores do bairro de Santo Antônio, bem como de outras regiões, estiveram sempre muito presentes na construção da igreja. Eu me lembro – já contei isso várias vezes, mas é muito bonito –, nós tínhamos vários mutirões para a construção e, num certo domingo, eu e o Naningo Neto, o grande Naningo, que me ajudou demais, fomos mobilizar o povo do bairro para buscar material. Nós tínhamos 20 caminhões neste domingo de manhã. Além de Naningo, ex-vereador e advogado, também estava lá o ex-vereador Joaquim Antônio Diniz. Esse pessoal foi buscar areia, brita… enquanto os homens trabalhavam neste serviço, as mulheres faziam café, biscoito. O pessoal foi chegando, tomando o café e começou a trabalhar com muito material que trouxeram. Estou dizendo isso porque a comunidade tem que se formar com a participação de todos. E a construção de uma igreja é muito bom para formar a comunidade.

Artistas e diversos voluntários para ajudarem nas obras sociais

As barraquinhas, instaladas em frente onde hoje é a igreja, no Salão Vicentino, foram muito importantes. Ali estavam o Naningo, o Baratinha, o Picolino e outros tantos artistas para animar os eventos que ajudaram a arrecadar dinheiro para a construção. Depois, vieram as barraquinhas organizadas ao lado da Igreja de Santo Antônio, com grande apoio do João José, promotor cultural. Do dia 31 de maio ao 13 de junho as barraquinhas estavam cheias mesmo. E o que era bonito, às 22 horas, tudo parava. Poucas vezes houve confusão, uma confusãozinha. Eu celebrava as missas, às sete horas e, depois, aconteciam as barraquinhas. Com isso conseguimos o dinheiro para as obras sociais da igreja.

O jubileu de Santo Antônio

Estou muito satisfeito porque a comunidade foi se formando com muita grandeza. Na época eu vi como era grande o investimento, da fé e do entusiasmo. E eu me lembro de muita gente que esteve presente desde o início. Os primeiros ministros foram o Naningo Neto, o Paulinho e o Rubens. Apenas o Paulinho está entre nós ainda, o Naningo e o sr. Rubens já partiram.

A benção de uma igreja ainda em construção

No dia 13 de junho de 1974 eu benzi a Igreja de Santo Antônio, que ainda não estava pronta. Havia o telhado, a laje, mas faltavam algumas obras que, aos poucos, foram sendo concluídas. Rebocando, colocando piso, os bancos… Ainda bem que nesse dia não tinha bancos porque a igreja estava lotada, não iria caber todas as pessoas sentadas. O Naningo Neto trouxe a imagem de Santo Antônio que estava no salão de São Vicente, em frente, para a igreja recém-construída. Foi feita uma procissão e a imagem foi colocada onde está até hoje.

Bispo Dom Geovane participa da celebração dos 50 anos da Igreja de Santo Antônio

Barraquinhas com comidas típicas e shows musicais acontecem durante a programação

Os organizadores dos festejos do Jubileu de Ouro de Santo Antônio enfatizam que a “Trezena e de Santo Antônio” é uma tradição que se repete há quase 50 anos em Itaúna. “Os dias da trezena são momentos de fé, oração e devoção à Santo Antônio. Durante todos estes anos, passamos por adequações, para realizar a festa dando mais segurança, aconchego e momentos de confraternização para os devotos. Mesmo depois da pandemia, onde tivemos que dar uma pausa, voltamos assim que foi possível e desde então a festa continua crescendo”.

Este ano, em comemoração ao ‘Jubileu de Ouro’, uma capela com a imagem de Santo Antônio percorreu 50 casas, representando o cinquentenário da comunidade. Assim, as famílias puderam se reunir e rezar juntas o terço e devocionário de Santo Antônio, se preparando para a trezena.

Foram convidados padres, diáconos e seminaristas de outras comunidades, outras paróquias e mesmo de outras cidades para participarem deste momento festivo. Na quarta-feira (12) o bispo diocesano, Dom Geovane Luís da Silva, irá presidir a celebração eucarística, às 19 horas. E no dia 13, quinta-feira, a celebração em homenagem ao cinquentenário da comunidade será feita pelo padre Gilmar Pinheiro Marques, quando serão convidados alguns dos primeiros colaboradores da construção da Igreja de Santo Antônio, além de professores e alunos da Escola Municipal Professora Celuta das Neves, que funciona no bairro.

São muitas pessoas envolvidas tanto nas celebrações quanto nas barraquinhas. “Os coordenadores das pastorais e equipes que formam o Conselho Pastoral se organizaram para receberem bem todos os devotos nos 14 dias de missas e celebrações. São mais de 150 pessoas mobilizadas de todas as pastorais entre ministros da Eucaristia, ministros da palavra, leitores, coroinhas, acólitos, acolhida, corais, ornamentação e equipe de apoio. Nas barraquinhas são mais de 120 pessoas envolvidas diretamente na preparação e venda das comidas típicas que são feitas para que a comunidade possa confraternizar após as celebrações. Também na organização dos eventos artísticos muitas pessoas envolvidas.

Nós da Comunidade Santo Antônio buscamos manter esta tradição que há gerações vem fortalecendo a fé das pessoas e marcando a vida religiosa na nossa cidade”, pontuam.