Para iniciar os dizeres cotidianos contemporâneos faz-se necessário entender sobre a cultura em que se insere o sujeito. Esse composto por sua própria subjetividade constituinte de sua essência. Movidos pela linguagem, somos sujeitos formados pelo aparelho psíquico e pelas pulsões, e sendo assim a psicanálise se mantém viva durante a modernidade baseada na individualidade.
A subjetividade é pautada em aspectos da condição humana nomeada como inconsciente sendo parte deste aparelho regido por leis próprias partilhado com outra parte chamada consciência. De acordo com os dizeres freudianos o inconsciente é manifesto de maneira particular em cada pessoa, ordenado de modo singular para o funcionamento da consciência pois as formas de manifestações através de atos falhos, chistes, sonhos e lapsos comprovam mais uma vez que funcionamento do sujeito não é semelhante ao outro.
Uma outra forma apresentada para o funcionamento do inconsciente é a entrada do sujeito na cultura marcada pela linguagem capaz de ser entendida por diferentes manifestações e não somente pela fala. Supostamente pode ser identificada pela aproximação entre o mecanismo de funcionamento da linguagem e do inconsciente, com a possibilidade de identificar as leis ordenadoras desses funcionamentos, “ o inconsciente é estruturado como uma linguagem” Lacan (1964/1988 p.25). É a partir desse modo de comunicação que o inconsciente pode surgir de forma estrutural. Freud pôde observar essa estrutura quando seu neto brincava com o carretel de linha enquanto a mãe trabalhava. Essa brincadeira simbólica nomeada como “Fort- da “ possibilitou a observação entre a ausência e falta da mãe, e que Lacan, posteriormente nomeia como signo, significado e significante.
A linguística estrutural demonstra a importância de se estudar sobre a língua uma vez que ela passa por transformações percorridas ao longo do tempo.
Dessa forma, vale ressaltar que o sujeito se constitui nas relações com o Outro a partir da linguagem simbolicamente internalizada necessária para organização psíquica constituída também pelas pulsões, essas que compõem o corpo infantil no processo erógeno. Para isso, é importante entender sobre pulsão. Ela caracteriza-se como psique-soma, questões corporais manifestadas no psiquismo. A forma como o sujeito responde a essas marcas são de vivências infantis atravessadas pelo sintoma necessário a ser desvendado. Sintomas esses manifestados de diferentes maneiras na nossa vivência cotidiana. A pulsão é somente uma, mas ela se apresenta em duas formas: em pulsões de vida que são variadas e barulhentas, e as pulsões de morte que são silenciosas, sem nomeações e despercebidas
Dessa forma, na atualidade nos deparamos com mudanças sociais extremamente apressadas, e a busca das satisfações esbarra em constantes gozos que podem ter sido experimentados no processo faltoso quando crianças. A alienação – a completude de objeto pulsional para função materna- e a separação – saída do lugar de objeto e entrada da falta – pode ter sido falha. Tanto pelo excesso durante a fase alienante e consequentemente uma dificuldade de separação, quanto pela falta do processo de alienação. Essas situações podem afastar o sujeito de sua subjetividade, consequentemente de seu potencial criativo, se mantendo como objeto do outro.
Contudo, na modernidade podemos observar que com algumas facilidades e conquistas características da civilização adquiridas no mundo contemporâneo, é apresentado também a busca incessante por essa felicidade posta como satisfação de maneira imediata. Mas isso não quer dizer que estamos felizes, podemos ressaltar que a forma de gozo mudou e consequentemente também as frustrações a qual questiono: como as pessoas têm lidado com as frustrações ?
Podemos citar Freud (1930/2007f) que sempre traz à tona suas ideias para se pensar na atualidade sobre a constante procura da felicidade e afirma que para ela existem dois caminhos a seguir: a busca desse prazer ou evitar o sofrimento. São caminhos múltiplos como a satisfação de todas as necessidades, posição de sucesso, felicidade plena a partir da disposta positividade tóxica, a intoxicação química essa promovida pelas medicações e drogas fazendo o sujeito desaparecer destruindo as preocupações e a qualquer momento se desligar da realidade com todas suas questões. O sujeito deixa de ser subjetivo, mas ao mesmo tempo afirmando o afastamento dolorido da posição de objeto na presença de um Outro.
Entretanto a sublimação caracteriza-se no destino das pulsões nas diferentes formas artísticas de expressar, tende a ser um lugar glorioso de escape podendo nos fazer bem. Vale lembrar que o lugar e atividades buscadas para preencher um vazio – que é inerente à condição humana – tendem a não ser duradouras. O ideal é buscar lugares em que consigamos nos satisfazer utilizando um lugar de implicação pessoal, utilizando o amor e aceitar o nosso vazio.
Referências:
TOREZAN, Z. C. F.; AGUIAR, F. O Sujeito da Psicanálise: Particularidades na Contemporaneidade. Revista Subjetividades, [S. l.], v. 11, n. 2, p. 525–554, 2016. Disponível em: https://ojs.unifor.br/rmes/article/view/4993. Acesso em: 14 jul. 2023.
Freud, S. (2020). O mal-estar na cultura. In Obras incompletas de Sigmund Freud. Cultura, Sociedade, Religião: O mal-estar na cultura e outros escritos. Belo Horizonte: Autêntica. (Trabalho original publicado em 1930)
Larissa Alves Santos,
Graduada em psicologia. Psicanalista. Pós- graduanda em psicanálise com crianças e adolescentes- teoria e clínica.
Atuo em clínica com atendimento on-line e presencial para o público crianças , adolescentes e adultos.
@larissalvesantos
lalvespsi@gmail.com