TEMPLOS DO SABER

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@toniramosgoncalves*

Volto mais uma vez ao tema do meu texto anterior, “Por que as bibliotecas físicas ainda são essenciais na Era Digital”, devido ao grande número de mensagens que recebi dos leitores, que fizeram questão de compartilhar suas opiniões. Sabemos que as bibliotecas são arquivos da memória e da imaginação humana – ou, mais precisamente, da parte da humanidade que usa a escrita para armazenar e compartilhar ideias. Por isso, decidi ampliar esse debate.

A escritora e poeta Maria Lúcia Mendes considerou o assunto oportuno, pois os fatos tratados no texto são absurdos: “Por que as obras de reparo da biblioteca não terminaram? É algo inédito em Minas Gerais, e talvez no Brasil, acabar com o museu municipal instalando uma lanchonete em seu lugar. Isso nos revolta. Outro fato inacreditável é a mudança do nome de uma escola, desvalorizando João Dornas Filho, um escritor itaunense reconhecido internacionalmente. Que venha a próxima eleição municipal e que uma pessoa realmente capacitada ocupe a secretaria de cultura.

Pedro Santos, poeta itaunense, se manifestou da seguinte forma: “A fala de Toni Ramos Gonçalves no S’Passo é um grito em terra de surdos. O desprezo por esses locais sagrados não ocorre apenas aqui. Recentemente, ouvindo um podcast com o professor e filósofo Glauber Athaíde, um mineiro que vive na Alemanha, ele desabafou: Estamos enfrentando a Ditadura da Ignorância! A extrema direita está aí para confirmar. Parabéns, Toni! É preciso desentupir os tímpanos de nossos mandatários.

O poeta Almir Zarfeg, residente em Teixeira de Freitas-BA, elogiou meu texto e trouxe à tona um evento histórico da Biblioteca Pública da Bahia, que, em seus 213 anos de existência, passou por uma verdadeira ressurreição, como a mítica fênix que renasce das cinzas. Ao longo de sua história, a biblioteca – na época, com trinta mil exemplares – sofreu um bombardeio em Salvador, em 10 de janeiro de 1912, por ordem do presidente Hermes da Fonseca, durante um conflito político entre J.J. Seabra e Rui Barbosa após a renúncia do governador Araújo Pinho, quando a biblioteca estava instalada no Palácio do Governo. Muitos prédios foram danificados por projéteis de canhão, tiros e granadas, desencadeando incêndios e conflitos entre as forças policiais estaduais e os soldados do exército federal. Além do fogo que se alastrou entre a Praça Castro Alves e a Praça Municipal, houve saques generalizados; incluindo móveis, com a polícia local mostrando total indiferença. Segundo Soares (2011), apenas 300 volumes da coleção da biblioteca foram recuperados: principalmente porque estavam emprestados.

A professora Cristina Labanca, mestre em Literatura Brasileira, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, atualmente residente na cidade do Rio de Janeiro, considerou relevante mencionar a Biblioteca de Alexandria, pois é reconhecida como o ponto de partida e o modelo original para todos os projetos de preservação da memória escrita.

 Embora a Biblioteca de Alexandria não tivesse como objetivo principal a disseminação do conhecimento, mas sim a posse e o controle do pensamento escrito mundial, todos os livros encontrados nos navios que chegavam ao porto da cidade, fundada por Alexandre, o Grande, eram confiscados e acrescentados à biblioteca, com uma cópia devolvida ao dono. Os textos assim reunidos eram traduzidos para o grego, realçando a importância desse idioma e incorporando os saberes de diferentes povos ao contexto cultural e intelectual do helenismo. Essa dominação simbólica e linguística também buscava afirmar a universalidade do conhecimento como meio de ampliar o poder do império alexandrino.

Diante das diversas vozes em resposta ao meu texto sobre a importância das bibliotecas físicas na Era Digital, é evidente o clamor por uma reflexão mais profunda sobre esse tema. As palavras da escritora e poeta Maria Lúcia Mendes, assim como as observações dos poetas Pedro Santos e Almir Zarfeg, ressaltam a necessidade de proteger e valorizar esses espaços de conhecimento e cultura, que muitas vezes são alvo de descaso e negligência, como o ocorrido em Itaúna-MG. Além disso, a referência à Biblioteca de Alexandria, trazida pela professora Cris, nos lembra das raízes históricas desse legado de preservação do saber. Diante de tantos desafios, é crucial que a sociedade e as autoridades se unam para garantir o acesso universal à informação e promover a cultura como um pilar essencial do desenvolvimento humano.

Como disse o poeta e professor Antônio Carlos Secchin: “Salvar os livros, para que eles nos salvem.”

* Toni Ramos Gonçalves (Não é o Global)

Professor de História, Escritor, Editor, ex-presidente e um dos fundadores da Academia Itaunense de Letras – AILE.