Um itaunense no “Jabuti”

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Toni Ramos Gonçalves

@toniramosgoncalves

Itaúna sempre foi um grande celeiro de talentos, em todas as artes. Vez ou outra somos surpreendidos com notícias de artistas nascidos nesta terra barranqueira e que buscaram em outras paragens o sucesso profissional e artístico. O caso mais recente foi do escritor infanto-juvenil Jim Anotsu, finalista do “Prêmio Jabuti”, o principal concurso literário do Brasil. Seu livro finalista na categoria infantil é O serviço de entregas monstruosas, publicado em 2021, pela Editora Intrínseca, que pode ser adquirido em qualquer livraria online ou física.

Nascido em Itaúna em 1988, residiu nos bairros Morro do Sol e Santanense. Em 2014 tive a honra de conhecer Jim Anotsu, na Escola Estadual de Itaúna, durante o evento de lançamento de seu livro Rani e o Sino da Divisão. Dois anos depois, na minha gestão como presidente da Academia Itaunense de Letras (AILE), fiz o convite para que ocupasse uma das cadeiras da entidade. Na oportunidade agradeceu gentilmente o convite, pois naquele momento seu objetivo era outro e, convenhamos, que ele estava certo, mediante ao seu grande sucesso no universo literário.

Nesta breve entrevista concedida a mim, por e-mail, Jim Anotsu fala um pouco de sua relação com Itaúna, sua bem sucedida carreira e seus projetos futuros. Fica a nossa torcida para que conquiste o primeiro lugar, mesmo sabendo-se que desde agora é um dos grandes nomes da literatura itaunense.

A entrevista

  1. Quem é Jim Anotsu? Fale um pouco de sua relação com sua cidade natal, Itaúna.

Eu sou apenas o mesmo cara que sempre fui. Eu cresci no bairro Morro do Sol e depois passei parte da minha adolescência em Santanense. Minhas maiores amizades daquela época permanecem (ainda que mais afastadas pela distância e as obrigações da vida adulta) as mesmas de antes. Eu ficava no posto de gasolina da Jove Soares com a minha turma, jogava RPG nos fins de semana e ficava discutindo música e bandas de rock com meus amigos na antiga Locadora Itaúna Vídeo. Eu cresci frequentando a biblioteca municipal, que na época ficava no SESI e estudei inglês na escola Number One. Sou a pessoa mais comum que já saiu daí, mas ao mesmo tempo eu era o mais diferente, observando, criando histórias e nem sempre me encaixando bem. Eu estudei na Escola Estadual de Itaúna e foi por lá que encontrei os primeiros professores que realmente me incentivaram a criar – o Professor Levy de artes, a Professora Marília de português – e uma de redação que falou que eu não seria nada na vida. Ainda bem que ela errou. Acho que por causa dessa vivência eu acabo trazendo Itaúna para muito do que faço. Um dos meus livros, Rani, se passa aí, em outros trabalhos eu cito o nome da cidade e acontece de alguma experiência ou pessoa me inspirar a criar coisas. Pode ser a lembrança de alguma coisa que o Pastor Itamar falou na Central, histórias de um carrancudo padre holandês na minha infância ou minha tentativa de colar nas provas de matemática do Professor Vicente (a pessoa mais assustadora e, fora de aula, prosa boa). Pode ser uma imagem dos meus amigos na lanhouse X-Plode no início dos anos 2000. Tudo entra, tudo sai.

  • Qual a sensação de ser finalista do Jabuti? Isso fazia parte de seu objetivo?

É uma sensação de alegria pura. É o resultado de anos de trabalho em silêncio, sozinho com o papel e a caneta. Eu também recebi o Prêmio CCXP Awards de Melhor Livro do Ano (competindo com autores geniais e respeitados) no meio do ano, numa cerimônia muito bonita em SP, e o Prêmio Odisseia Fantástica de Literatura, além de finalista do Prêmio AEILIJ. Foi um ano muito recompensador. Então, existe um sentimento de conclusão: fiz o melhor que eu podia fazer e o meu melhor está lá fora no mundo. Não é o melhor do mundo, mas é o melhor que o meu mundo poderia oferecer. Existe um sentimento de humildade adjacente, porque milhares de trabalhos foram  inscritos, trabalhos aos quais seus autores se dedicaram. Então, é um momento de alegria para mim, de fechamento de um ciclo e de início do próximo. Tento não me deixar levar porque o ego é o primeiro passo para a estagnação de um artista. Prêmios são legais, mas não são tudo. Então, agora é hora de pensar: o que acontece agora?

  • Num evento em Itaúna, em 2014, quando o conheci, você disse que sofreu muito bullying na escola. Recentemente, sofreu um caso de racismo. Como isso influenciou ou influência na sua escrita?

Acho que o mundo sempre vai colocar desafios na nossa frente – alguns por circunstâncias da vida, por causa de outras pessoas, por causa de condições sociais. O que isso fez para mim foi abrir a minha cabeça para a empatia e para me colocar no lugar de outras pessoas. Quem já lidou com algum preconceito, com bullying ou com o mundo em geral, aprende que existem dois caminhos: o ressentimento ou a superação. Eu escolhi usar o meu ressentimento e superar, criar alternativas para que outras pessoas, no meu caso os leitores infantis, tivessem outras ferramentas. É um trabalho de melhoria constante e não se deixar ser definido por um ou outro acontecimento.

  • Qual é seu público leitor, e quais seus projetos futuros?

Escrevo para o público infanto-juvenil, infantil e adolescente. Também sou roteirista de filmes como o recém-lançado sucesso de bilheterias nos cinemas Acampamento Intergaláctico e o filme Alice no Mundo da Internet que também foi um sucesso na Netflix. Estou escrevendo agora um filme adolescente de zumbis, coisa rara no nosso país e também o roteiro da nova versão do Picapau Amarelo de Monteiro Lobato. Já escrevi roteiros de publicidade para marcas grandes como Barbie, Polly Pocket e outras. Estou escrevendo um livro novo, mas ainda não tenho muito a dizer, alguns contos e livros ilustrados estão por vir. Meus livros estão publicados em mais de 13 países e foram best sellers em lugares como Alemanha, Itália (tanto que escrevi dois livros só para o mercado italiano) e Portugal. Nunca paro, sempre correndo. Gosto de escrever o tempo todo e gosto de criar histórias engraçadas que façam as crianças rirem.

*Escritor e Jornalista

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