Denúncia é de autoria do companheiro da vereadora Otacília Barbosa (PV) e foi aceita por 16 votos e uma abstenção
A reportagem do Jornal S’Passo encontrou na manhã de quinta- -feira (9) o vereador Lacimar Cezário da Silva (PSD), o Três, em trajes esportivos e mexendo numa obra na entrada do bairro Veredas. Ele estava cuidando de algumas árvores plantadas ali. Noutras oportunidades, o encontramos nessa mesma situação, com a mão na massa ao lado de operários que cuidavam de meio- -fio, reparos de calçamento e plantio de árvores nesta entrada do bairro, pela rodovia MG 431. Acerca dos serviços no bairro Veredas, Lacimar contou ao Jornal S’Passo que sempre faz isso, porque gosta e porque quer ver o bairro melhorado. Plantou as árvores e tem cuidado delas, às custas do seu próprio dinheiro. Também instalou na entrada de um terreno baldio uma câmera de segurança, que está desligada, para inibir as pessoas que jogam lixo nas imediações. Promete que continuará fazendo isso.
À tarde desse mesmo dia, quinta-feira, assistimos, por vídeo, Lacimar, ao lado do advogado Peter Gabriel, sendo cassado pela Câmara Municipal por um crime conhecido por “rachadinha”. Nesse processo, o edil é acusado de cobrar de sua assessora de gabinete, agora ex-assessora, Kariny Viana, parte do salário (R$ 500). A condenação apontou três meses de rachadinha, no valor total de R$ 1500. Em quatro horas de reunião, o que é inusitado nos últimos tempos – por causa da pandemia do coronavírus, foi lido o relatório da Comissão Processante, além da fala de alguns vereadores e um longo pronunciamento do advogado de defesa do parlamentar. Lacimar foi condenado por seus pares, 16 votos a favor e uma abstenção, num processo movido pelo cidadão Thiago Aníbal Ferreira Ribeiro, companheiro da vereadora Otacília Barbosa (PV) e, à época, seu assessor no legislativo. O vereador foi acusado de falta de decoro parlamentar e improbidade administrativa.
A defesa de Lacimar alegou em quase duas horas de argumentação que não houve crime, uma vez que a única prova material do denunciante é um vídeo, realizado no gabinete da vereadora Otacília Barbosa, por seu assessor na ocasião e que por ter sido editado por seu autor, foi descartado como peça acusatória pela justiça. Esse detalhe poderá custar à vereadora, de acordo com o advogado de defesa, uma ação, também, de quebra de decoro parlamentar. Ex-vereadores, atuais suplentes, votaram Histórica essa reunião. Nunca antes na história da Câmara Municipal de Itaúna um vereador foi cassado. Muitos foram caçados, especialmente pelos eleitores nas urnas. O inusitado também se fez presente com a participação de suplentes, ex-vereadores, investidos da condição de titular, com direito à fala e ao voto: Pedro Paulo Pinto, segundo suplente da coligação de Lacimar, que não pode votar no processo da própria cassação. O primeiro suplente, na ordem legítima, Aladim Pereira, chegou atrasado na reunião e não conseguiu participar; Léo Bala, substituiu a titular Gláucia Santiago (PL), que está em isolamento social por ter apresentado sintomas da covid-19; e Francis Saldanha, no lugar de Otacília Barbosa (PV), impedida por lei por ser companheira do denunciante e desafeta do acusado.
O rito da sessão de cassação do vereador foi feito da seguinte forma: leitura do relatório da Comissão Processante, pronunciamento dos vereadores e fala do advogado de defesa. Os suplentes de vereadores falaram mais que os titulares. Para Francis, a Câmara estava votando por justiça, num processo político histórico. Léo Bala, disse entender que o momento seria para resgatar princípios éticos e morais. Já Pedro Paulo, contou que não queria estar nessa situação e que desejou muito que o primeiro suplente, Aladim, tivesse chegado a tempo de participar até tentou passar a vez, quando o viu entrando ao plenário, depois do horário estipulado pelo presidente Alexandre Campos (DEM), 12h. Os parlamentares Joel Arruda (PL) e Antônio Miranda Silva (PSC) pronunciaram em nome da defesa dos resultados de um bom trabalho da comissão processante e pelo brilhantismo do relatório, “nada de pessoal contra Lacimar”. Joel foi presidente e Antônio Miranda, membro da CP. O relator foi Anselmo Fabiano (PDT). Hudson Bernardes (PSD) salientou que o momento era delicado e de tristeza, mas disse observar que, em outras oportunidades de denúncias, não houve a mesma disposição para julgar como agora. Márcia Cristina (Patriota) em sua fala colocou uma dose de raiva contra o colega acusado, dizendo que a justiça será feita para calar “a sua arrogância e demagogia”.
Uma legislatura de denúncias e acusações O advogado da defesa, que não usou máscara em nenhum momento diante de uma assembleia de mascarados, começou sua fala dizendo que “estão querendo pegar o Lacimar para Cristo” numa legislatura que “sofre pelo denuncismo e com tantas acusações”. Serenamente, na voz e na postura, ele pontuou diversas situações em que o processo não foi bem alinhavado e que os vereadores estariam favorecendo, apenas, o relatório, de uma ação malconduzida. No seu entendimento, essa situação poderia resvalar num “julgamento pessoal” e “suicídio eleitoral”, penalizando um “homem inocente”. Por fim chegou à conclusão, “não houve peculato, não houve corrupção, não houve crime. O Sr. Lacimar pode ser um bonachão, um sujeito brincalhão, um debochado, mas não é criminoso”. E se ele o for, as urnas irão julgá- -lo, acrescentou pedindo que “não sejamos Pôncio Pilatos”, que optou por Barrabás criminalizando um inocente.