QUE HISTÓRIA É ESSA: Que treta, hein?

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Sílvio Bernardes

Esse povo, como eu, da geração analógica, nascido entre 1940 e 1980, diferente dos nativos digitais (os millennials, da geração Z) pós 1980, tá tomando uma surra tendo que aprender um colosso de coisas para viver minimamente conectado com o mundo moderno. Essa semana comprei um caderno – para as anotações de minhas aulas – com uma capa bonitinha (se eu escrevesse aqui “Bonitinha, mas ordinária”, muita gente não ia saber bulhufas do que eu tô falando. Isso me dói demais. Mas, vamos lá, a capa era bonitinha, simples, com um escrito em inglês: “Good Vibes”. Gostei. Acabei entrando naquela vibe: colorida, leve, alegre. As coisas de hoje, em geral, são assim, ou muito densas ou bastante light, isso é a geração Z, na qual eu tento me incluir, por desfastio, por diletantismo ou mesmo por necessidade, já que trabalho num veículo de comunicação que é 100% digital e sou professor de uma galera muito antenada. Outro dia fui a uma reunião escolar e o coordenador, um cara com seus quarenta e tantos anos nas costas, era um desses tipos que quer parecer mais jovem, descolado. Usa brincos, tatuagem, roupas despojadas e um cabelo – embora um pouco escasso – parecido com o dos adolescentes de hoje, com aquele corte de Recruta Zero. Então, o coordenador tinha uma fala inusitada para aquele tipo de reunião com professores de todas as idades e, alguns, já próximos da aposentadoria. Era galera pra cá, galera pra lá, bombando aqui, bombando acolá, a pegada é assim ou assado, a treta é sinistra… “O professor tem que ter uma pegada manêra” (manêra, mesmo), “todo mundo sabe do corre de cada um”, “bobeou, tá cancelado, véi!”…

Para viver nos tempos de hoje a gente tem que aprender a linguagem da moçada, da galera que sabe tudo de tecnologia, que digita mensagens no celular usando as duas mãos e uma rapidez desconcertante. Que conhece os meandros da internet e que passeia com desenvoltura pelos caminhos do mundo digital. Um povo que posta conteúdos completos, de texto, som e imagens, em todas as redes sociais disponíveis. Todo mundo tem que saber do WhatsApp, do Twitter/X, do Kwai, do Telegram, do Instagram, do Facebook… Quem não é íntimo do Tik Tok, das selfies massas,  é parceiro da câmera Super 8, dos filmes da Kodak, dos retratos dos álbuns de família escondidos no guarda-louça da sala de jantar, tá mais por fora do que cotovelo de motorista.

Quem é da minha geração tem que aprender pra carai o palavreado moderno e ficar ligado diante de um crush (não é o refrigerante da minha época), do que é e do que não é cool, do briefing, do deadline; estar on-line ou off-line? E aí, babe (não é o porquinho atrapalhado)? Isso é  fake (fulano de tal é fake que dói)? Fulano é o namorido ou o ficante? Quem BV não entende. E vem muita coisa por aí: lacração, zueira, stalkear, printar, spoiler, sextou, treta, BO, perrengue, ranço, rolê, tankar, contatinho, talarico, biscoitar, cringe, flopar… chega! Nada a ver, né? Não, tudo a ver, meu, estudantadas, juventude transviada…kkkk, perdão!