Sílvio Bernardes
Recorro-me novamente ao tema já escrito neste espaço (neste S’PASSO!) em outra época. É que me vêm à memória, com uma insistência aborrecida, as lembranças dos “Zés” que essa terra produziu a mancheias. Alguns desses eu conheci pessoalmente, outros, eu convivi muito de perto e alguns, nunca vi mais gordos, apenas soube que existiram noutras épocas e lugares. Meu amigo Zé Penido Elaide era filho do Zé Banana, que nos cumprimentava sorridente e amável todo santo dia com um “oi pexoal”. Era pedreiro dos bão, dizem. O Zé Liberato, lá da Rua da Ponte, também pontificava no ramo das construções, mas era marceneiro e carapina. Falando em Rua da Ponte, lembrei-me esturdia do Zé da Ponte, irmão do Lola e do Chico do Armazém, que eu pensava ter ganhado esse apelido por causa do bairro onde moravam, ‘Das Graças’, outrora Rua da Ponte. Soube depois que era Zé da Ponte por causa do seu armazém, instalado próximo da ponte, na entrada do bairro Santanense. Vai saber. O Zé Como-Vai era vendedor de loterias (cambista, como o povo dizia) e tinha o nome de Zé Fonseca. Também andava pelas ruas da cidade sorrindo e cumprimentando deus e todo mundo com o indefectível: “como vai?”. O Zé da Iara era sapateiro e o Zé Precata era chofer de praça. Mas tinha também o Zé Leite, que era retratista dos mió que havia na praça. Já o Zé Biscoitão era sindicalista e político meio esquerda. Também era meio esquerda, só que no futebol, o Zé Centeralfo (por causa de sua posição de center half nos campos de pelada?), que tinha a profissão de construtor de casas. E o Zé da Taipa? E o Zé da Mecânica? Tinha também o Zé da Caçamba, um tal de Zé C* de Rola e, até, um tal de Zé Aborricidinho – “ês fala que era chato pra caramba”, não posso falar porque não conheci. Perto da redação do “Jornal Brexó” tinha o Zé Sanfona, mas eu nunca soube que aquele senhor tocasse o instrumento, também conhecido como acordeon, como o “Rei do Baião” Luiz Gonzaga, fii de Januário e pai de Gonzaguinha.
Por aqui, no centro da cidade, tinha o Zé Canivete e, segundo as más línguas, era um sujeito pão-duro, mão de vaca, munheca de samambaia, que não abria a mão nem para dar tchau. É o povo que fala e a voz do povo… é muito da linguaruda. E tinha o Zé do Serjorbes, o Zé Boquinha, o Zé do João Lima, o Zé Enfermeiro, o Zé do Açougue, o Zé da Lata, o Zé Sapateiro, o Zé Bilau, o Zé do Calçamento, o Zé Boneco, o Zé Preto, o Zé Branco, o Zé Gilete, o Zé Chiclete, o Zé Barbeiro, Zé do Ozebe, Zé da Colchoaria, o Zé Pinto, o Zé do Gode, o Zé Coreia, o Zé da Bernardina, o Zé da Cruz, o Zé Conquista, o Zé Capela…
Creio que hoje em dia não tem mais Zé não. Os últimos que saíram são do início dos anos 50. Depois disso o povo aprendeu que nem só de Zé vive uma cidade. Ninguém mais batiza um filho com o nome José. Cê conhece alguma criança com o nome de José Maria? José Carlos? José Márcio? José Aparecido? José Januário? José Antônio? Eu não. Como diria o Carlos Drummond de Andrade: e agora, Zé? Mundo, mundo, vasto mundo; se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução.