Sílvio Bernardes
Na sala de aula do sétimo ano o menino, que eu vou chamar de Bernardo, é questionado por um colega novato de que “está gostando” da Anna (também um nome fictício para uma história verdadeira de amor infantil entre estudantes que ainda sonham com presentes no dia da criança). “Nada a ver”, ele responde e, mais que depressa, afirma que “já tem namorada”, a Isadora, do sexto ano. Para confirmar, exibe o braço esquerdo e no punho ele tem uma buchinha preta (dessas de prender o cabelo). Este é o sinal de que o garoto – de 12 anos – está comprometido com a garota – de 11 –, que ele trata de “minha mulher”. Foi a menina que lhe deu a buchinha, levemente umedecida com o seu perfume. O compromisso manda que ele exiba o pequeno elástico preto por onde for e, se possível, não o tire nem para tomar banho.
O Bernardo me contou do namoro assim que cheguei em sua sala na segunda-feira passada. “Sabe com quem tô namorando? Com a Isadora”. Mais tarde ela também me falou com alegria que aceitou o pedido do Bernardo depois de umas partidas de Free Fire no fim de semana – cada um em sua casa. “Custei a conseguir fazer o pedido”, me revelou o Bernardo. Se fosse a gente, tomaria uns uísques e outras doses de coragem para uma solicitação como essa. O Bernardo deve ter tomado um milk shake, duplo, antes de perguntar à Isadora se ela queria ser sua namorada.
O namoro desses pré-adolescentes, estudantes do ensino fundamental II – na escola existem inúmeros casos já revelados –, é inocente e muito alegre. Bernardo e Isadora estão muito animados com o seu e vivem trocando presentes: pequenos mimos, como bombons, pirulitos, chicletes, bijuterias e bilhetes repletos de ternura e de erros de ortografia. Os pequenos namorados não saem de mãos dadas, nem ficam se abraçando durante o recreio e nos intervalos das aulas. Creio que ainda nem deram o tal do “selinho”. Parece até aqueles namoros de dorama das séries coreanas. Não é comum esses garotos ficarem muito próximos; cada um deles anda com a sua turminha e essa é quem se incumbe de anunciar para todos a novidade. Os colegas mais chegados torcem de verdade por eles. “Tá namorando! Tá namorando!”.
Nessas interações infantis acontecem, de vez em quando, os ciúmes do menino ou da menina pois um outro – ou uma outra – queria estar no lugar de um deles. Os talaricos também são inevitáveis. De vez em quando a gente ouve, nas salas de aula, nos corredores, no refeitório, rumores que haverá briga depois do sinal. Ah, os desafetos de ocasião!
Mas, nas mais das vezes, há um clima romântico permeando essas relações. Um menino me contou outro dia que na sala de aula parece que se acende uma luz diferente quando a menina que ele gosta chega. “É como se um pedacinho do sol invadisse aquele ambiente… Mas quando ela falta, tudo fica sem luz, sem graça”.