Secretaria de Segurança lança dois programas para enfrentar problema da população em situação de rua

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“Pop Rua” e o “De Volta Para Minha Terra” 

Moradores e comerciantes da Rua Professor Francisco Santiago, nas proximidades da Praça da Estação, têm manifestado crescente indignação com as condições sanitárias do local. O estopim da insatisfação ocorreu nesta última semana, quando o proprietário de um estabelecimento relatou ter encontrado mais de 14 ocorrências de fezes humanas em seu passeio. A situação, atribuída à população em situação de rua que frequenta a área, levanta sérias preocupações sobre saúde pública e o bem-estar da comunidade. Além do impacto visual e do forte odor que se espalha pelos arredores, a presença de dejetos humanos a céu aberto representa um risco concreto de contaminação, proliferação de doenças e degradação urbana. 

A cena não se limita a essa região. Em diversos pontos da cidade — sob pontes, praças, calçadas e marquises de prédios públicos e comércios — é possível ver o aumento expressivo no número de pessoas em situação de rua nos últimos meses. A realidade, que tem chamado a atenção da população e dos vereadores, é marcada não apenas pela ocupação irregular desses espaços, mas também pelo acúmulo de lixo, restos de colchões, tralhas recicláveis e, em muitos casos, pela prática de mendicância — frequentemente acompanhada de comportamentos agressivos quando a ajuda é negada. 

Diante do agravamento do problema, o Jornal S’Passo procurou a Prefeitura de Itaúna para entender quais medidas estão sendo tomadas. As respostas vieram na manhã desta quinta-feira, 5 de junho, em uma reunião no gabinete do prefeito Gustavo Mitre, onde foi apresentado o projeto “Pop Rua”, iniciativa da Secretaria Municipal de Segurança Pública em parceria com outras pastas como Desenvolvimento Social, Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Saúde. 

Durante o encontro, o secretário de Segurança Pública, coronel Alexandre Oliveira, apresentou dados que revelam um aumento de mais de 100% na população de rua em Itaúna: atualmente são cerca de 62 pessoas vivendo em condição de rua no município — em contraste com a média flutuante de 30 pessoas registrada no ano anterior. Um dado que chama atenção é que apenas 15% desse total são naturais de Itaúna, o que evidencia um fluxo migratório significativo vindo de outras cidades da região. A maioria das pessoas, segundo os levantamentos feitos com base em dados do IBGE e da Secretaria de Desenvolvimento Social, apresenta histórico de dependência química (principalmente álcool e drogas) e, em parte dos casos, passagens criminais. 

Os programas

O “Pop Rua” propõe uma atuação integrada e humanizada, sem uso de repressão ou métodos como expulsão forçada, o que contraria a legislação vigente e os princípios de dignidade humana. O projeto está fundamentado em três eixos principais: acolhimento estruturado, reinserção social e econômica, e organização do espaço urbano. Entre as ações práticas estão a oferta de abrigamento, atendimento psicossocial, campanhas de orientação e o programa “De Volta para Minha Terra”, que busca viabilizar o retorno das pessoas à sua cidade de origem, com apoio da assistência social. 

O secretário enfatizou que o projeto prevê ainda intervenções em chamadas “áreas cinzas”, como as margens do Morro do Engenho e regiões sob pontes e viadutos, onde há concentração de uso de drogas e pernoite. A meta é impedir a ocupação constante desses locais por meio de presença institucional e manutenção contínua, sem recorrer à chamada arquitetura hostil (estratégias urbanas que dificultam fisicamente a permanência dessas pessoas). 

A situação crítica na Rua Professor Francisco Santiago e em outras áreas levou a Secretaria de Regulação Urbana “a intensificação da limpeza emergencial, incluindo a remoção de lixo, fezes, entulhos e colchões deixados nos espaços públicos”. A administração reconheceu a existência de falhas no sistema atual de coleta, mas garantiu que está sendo elaborado um novo cronograma de ações integradas. Também está em análise a implantação de banheiros públicos provisórios em pontos estratégicos da cidade para tentar minimizar o problema sanitário. 

Foco na segurança 

Moradores da região central também se queixam da falta de estrutura para lidar com o impacto direto dessa realidade no cotidiano. Segundo relatos, alguns indivíduos chegam a ameaçar ou intimidar comerciantes e pedestres em busca de esmolas. Apesar disso, a Prefeitura reforça que não há autorização legal para qualquer tipo de condução forçada ou punição direta à mendicância, ainda que a prática seja tecnicamente proibida pela Lei Municipal nº 4.216, de 2011. 

Em relação à segurança pública, o comandante da 9ª Companhia da Polícia Militar de Itaúna, Major Antônio Carlos Teixeira de Souza, destacou que há monitoramento dos pontos críticos e que as equipes policiais estão orientadas a atuar com equilíbrio e discernimento. Ainda assim, o major afirmou que não há dados conclusivos que apontem correlação direta entre o aumento da população de rua e o crescimento de furtos ou delitos, embora a vigilância tenha sido reforçada. 

A secretária de Desenvolvimento Social, Gláucia Santiago, afirmou que o município oferece serviços como alimentação, acolhimento noturno e atendimento psicológico, mas enfrenta desafios como a resistência ao acolhimento por parte de muitas dessas pessoas, motivada por dependência química, transtornos mentais ou estilo de vida já consolidado nas ruas. Ela também confirmou que os dados são atualizados mensalmente por meio de ações do Posto do Imigrante, mas que um censo mais aprofundado deve ser feito ainda neste ano. 

O secretário de Planejamento e Governo, Marcos Júnior, garantiu que a situação é tratada como emergencial pela atual gestão. A Prefeitura estuda novas parcerias com entidades assistenciais, bem como a ampliação de recursos e equipe técnica para que o projeto “Pop Rua” tenha impacto real. A proposta, segundo ele, não é apenas conter o problema, mas oferecer soluções sustentáveis de longo prazo para evitar o agravamento da crise. 

O prefeito Gustavo Mitre destacou que o foco da gestão está em equilibrar o respeito aos direitos humanos com a manutenção da ordem urbana. “Estamos lidando com vidas humanas, mas também com a necessidade de proteger os espaços públicos e a segurança da nossa população. O que propomos é um plano humano, técnico e viável”, afirmou. 

Embora os desafios ainda sejam muitos, a apresentação do “Pop Rua” sinaliza uma tentativa concreta da Prefeitura de Itaúna de enfrentar um problema que deixou de ser invisível — e que hoje exige ação, coordenação e empatia de todos os setores da sociedade.