Neider não poupa críticas às omissões do governo federal no combate à pandemia

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Prefeito diz que ao final da CPI, presidente Jair Bolsonaro deverá ser indiciado ao Tribunal Internacional de Haia por crimes contra a humanidade

O prefeito Neider Moreira de Faria (PSD) falou com exclusividade à reportagem do Jornal S’PASSO. Saindo da convalescença da Covid-19, ele respondeu as questões elaboradas pela reportagem. Primeiramente quisemos saber como ele, que foi vacinado recentemente (como médico), contraiu a doença. E, testado positivo, como sentiu os impactos da Covid. Neider respondeu que estudos mostram que 51% das pessoas vacinadas não vão ter a doença. Dos 49% restantes, 75% terão a doença com sintomas leves que não vão precisar de internação. Os outros 25% terão a doença com sintomas mais fortes, que eventualmente podem precisar de internação, mas que não vão chegar a óbito.

Ele ressalta, então a importância da vacinação. E acrescenta que é fundamental que as pessoas tomem a segunda dose do imunizante. “O Ministério da Saúde, as secretarias estaduais e municipais da saúde têm feito um esforço enorme para mostrar às pessoas a importância de tomarem a segunda dose para que a gente possa chegar a uma situação de esvaziamento da rede hospitalar no país”, reforça.

O S’PASSO quis saber como foram conduzidas suas atividades após ser diagnosticado com a Covid-19. Como foi o isolamento social, os cuidados necessários e seus compromissos como chefe do executivo e também em casa, com a família. Ele respondeu que naturalmente o isolamento teve que ser feito. Quando testou positivo ficou isolado durante o período necessário de transmissibilidade da doença, para não colocar outras pessoas em risco de contaminação. Afirmou que a família compreendeu bem, uma vez que a sua relação com a medicina sempre impôs algumas posturas, para as quais está acostumada. Acerca da condição de prefeito, também pontuou que não houve nenhuma dificuldade, já que continuou tomando as resoluções do cargo de sua casa. Os documentos eram levados para ele assinar e as decisões com os secretários e assessores foram feitas por telefone e whatsapp.

Nenhum prefeito passou pelos desafios de uma pandemia como essa

Outra abordagem do Jornal S’PASSO ao prefeito Neider Moreira passou pela questão política do momento. O afastamento do chefe do executivo do dia a dia na Prefeitura aconteceu num momento de grandes desafios, primeiramente por causa da própria pandemia da Covid-19, com excesso de contaminações na cidade, morosidade na liberação de vacinas e sobrecarga da ocupação de leitos no Hospital Manoel Gonçalves. Segundo, porque no cenário político, os vereadores relutam em aprovar um projeto de sua autoria de financiamento com o Banco do Brasil. Perguntamos-lhe: o que está acontecendo? O que fazer diante de tantos problemas?

Seu entendimento diz respeito aos desafios que são sempre grandes numa pandemia. E um fato novo para todos os dirigentes políticos do momento. “Sou o único prefeito de Itaúna que está vivenciando essa situação, de estar à frente da Prefeitura durante uma pandemia. Nenhum outro prefeito soube o que é isso”, frisou. Mas se os desafios são enormes, ele ressalta a competência de sua equipe para resolvê-los, especialmente de uma Secretaria de Saúde “que está voando baixo, fazendo um trabalho extraordinário”. Para o prefeito, isso significa que as coisas estão acontecendo, até mesmo a vacinação, que depende da aquisição e do plano nacional de imunização do Ministério da Saúde, está sendo realizada no ritmo que é permitido.

A Câmara precisa pensar grande, sem ideias provincianas e mesquinhas

“Nós temos feito o que é possível do ponto de vista prático e orçamentário. É claro que a gente quer ajudar mais a Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira, mas como o município não tem condições de emitir dinheiro – isso quem faz é o governo federal com a Casa da Moeda – é necessário que tenhamos que fazer remanejamento orçamentário dentro daquilo que nós temos. Para isso, eu preciso de dinheiro novo. Esse recurso vindo do Banco do Brasil, oferecido porque o município está absolutamente saneado financeiramente, seria importantíssimo para que fizéssemos remanejamento orçamentário e colocasse dinheiro novo na saúde”, avalia.

O prefeito volta a afirmar que se a Câmara Municipal não autorizar o município a fazer o financiamento com o Banco do Brasil, não será possível colocar dinheiro novo na saúde. “Acho que a Câmara precisa pensar grande, acabar com esse pensamento provinciano, mesquinho, de pensar pequeno nas coisas. Somos uma cidade de 100 mil habitantes, importante em Minas Gerais, uma das trinta economias do Estado. Necessariamente ela não caminha só com os recursos gerados no dia a dia. Precisa de recursos novos, principalmente recursos baratos como esse”, salienta.

Neider explica que são recursos baratos oferecidos pelo empréstimo, porque o Banco Central melhorou a nota de crédito da Prefeitura de Itaúna. Isso permite ao município ter dinheiro barato, fazer investimentos de infraestrutura importantes e, ao mesmo tempo, fazer remanejamento orçamentário para colocar mais recursos próprios na saúde. Adverte que é o momento em que a sociedade deve se unir, todos na mesma direção, para que a cidade saia mais forte desse processo de pandemia. “Para isso é preciso pensar grande”, reafirma.

Sem recursos dos governos federal e estadual, precisamos de empréstimo

A última questão encaminhada ao prefeito Neider Moreira diz respeito à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instalada pelo Senado por orientação do STF, contra o presidente da República. O presidente Jair Bolsonaro, ameaçado por uma CPI que deverá investigar uma suposta omissão do governo federal no tratamento da Covid-19, tenta jogar nos estados e municípios a responsabilidade pela ineficiência na aplicação de recursos públicos. Qual é a opinião do prefeito de Itaúna sobre isso? De que forma é utilizado o dinheiro que vem dos governos federal e estadual destinado ao combate ao coronavírus?

O prefeito Neider disse que o dinheiro que veio do governo federal para aplicação na pandemia já acabou. Contou que nessa sexta-feira (16) estaria envolvido em atividades em Belo Horizonte, num movimento dos municípios mineiros com população acima de 100 mil habitantes. Houve uma reunião no Ministério Público, na capital, depois na Assembleia Legislativa e, finalmente um evento no salão nobre da Prefeitura de Belo Horizonte, para tratar dessas questões. O chefe do executivo acusou o governo do Estado de ter dinheiro em caixa e não pagar o que deve aos municípios, que necessitam desse dinheiro para continuar o enfrentamento da pandemia. Da mesma forma, apontou para o governo federal, que deveria continuar enviando recursos para as prefeituras. Com essas dificuldades, o prefeito afirma que não há outra alternativa a não ser colocar dinheiro novo através de empréstimos.

Estamos vivendo uma catástrofe, uma carnificina em todo o país, o Brasil é um pária no exterior”

“É evidente que a culpa de todo o processo que estamos vivendo é do governo federal, que tirou um técnico do Ministério da Saúde, que é o Mandetta (Luiz Henrique Mandetta), e depois o Teich (Nelson Teich) viu que não ia ter condição de fazer nenhuma mudança e saiu. Aí depois colocam um general que ficou batendo continência dez meses lá, enquanto a pandemia tomava conta do Brasil. Agora, estamos vivendo essa carnificina no país todo. Falta de leitos, falta de oxigênio, falta de kit intubação, ou seja, uma catástrofe”, considerou.

O prefeito contou que tem colegas da faculdade de medicina que moram em outros países, com os quais se comunica diariamente por um grupo de whatsapp. Estão na Autrália, na Itália, em Portugal, de onde relatam que o prestígio do país lá fora neste momento é horrível, desmancharam a imagem do Brasil no exterior. No seu entendimento isso, por si só, mostra que o Brasil hoje “é um pária”, no mundo todo. Na sua avaliação a situação vai trazer consequências que vão durar muitos anos. Ressalta ele que a XP Investimentos, num relatório lançado essa semana, antecipa um cenário de retração econômica para o país em 2022, sem nenhuma perspectiva de melhora. Sua análise também aponta para a fala do ministro Paulo Guedes, de que a economia brasileira vai decolar, o que não corresponde à verdade, sem a menor perspectiva de crescimento no momento.

Sem perspectiva de melhora para o país em curto prazo

Para o prefeito Neider a pandemia de Covid-19 vai durar 2021 inteiro. Pelo ritmo de vacinação, o país poderá conseguir vacinar todas as pessoas somente no início de 2022. “Então, não existe perspectiva de melhora para o país a curto prazo. Essa CPI vem num ótimo momento porque ela vai colocar de maneira muito clara todas as omissões do governo federal no decorrer dessa pandemia. Acho inclusive que no final dessa CPI, muito provavelmente, o Bolsonaro deverá ser indiciado pelo Tribunal Internacional de Haia, naturalmente por crimes contra a humanidade”, asseverou.

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