A “cracolândia da Lagoinha” está fechando o tradicional ‘Bar do Sandoval 24 Horas’

Odilon Campos, um dos donos do estabelecimento mais tradicional da cidade, reclama da imposição de um ambiente de consumo de drogas e confusão que impede o funcionamento do seu comércio e da falta de apoio da polícia e do poder público

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O bar e restaurante Sandoval 24 Horas, na Praça Francisco Marques, a ‘Praça da Lagoinha’, já não é mais o maior reduto da boemia itaunense. O velho estabelecimento comercial, onde se come a qualquer hora do dia e da noite o mais tradicional Prato Feito da cidade, está fechando as portas. “Fechando não por vontade própria, mas por causa das drogas. A ‘cracolândia da Lagoinha’ está fechando o Sandoval”, queixa-se um dos seus proprietários, Odilon Campos, 76, itaunense, irmão de Sandoval Campos.

A Praça da Lagoinha não é mais a mesma de um passado glorioso, onde nasceu o carnaval dos “Farrapos da Lagoinha”. Um diversificado comércio de lojas, bares, restaurantes, açougues, padarias e armazéns de secos e molhados funcionou nas imediações por muitos anos, como o famoso “Grilo da Lagoinha”, de Walter Marques e a loja de artigos de pesca e caça do Teco. E, claro, o bar e restaurante do Plínio, que deu origem ao “Sandoval 24 Horas”. Hoje, a movimentação estranha de drogas ilegais tem tomado conta do lugar, à noite. E este ambiente tem afastado as pessoas. Durante o dia, o comércio legal funciona normalmente e quem frequenta ou passa por ali nem acredita no que fala Odilon, já que na Praça da Lagoinha e imediações estão alguns dos estabelecimentos comerciais e de serviços mais procurados da cidade, como as lojas de variedades, clínicas médicas e odontológicas, advogados etc.

“Uma bagunça. Muitas drogas pesadas, agressões, confusão. De manhã, aqui na porta, temos que recolher os papelotes de cocaína e o resto de outros materiais de drogas consumidas. E, para acabar com as drogas é preciso fechar o bar. É o que muitos pensam”, afirma o comerciante.

Odilon fala com indignação e descontentamento e não se conforma com a situação e, principalmente, com a perspectiva de acabar com o bar e restaurante. Os proprietários do imóvel também acreditam que este é o caminho. “Ué, mas e os outros comércios na cidade onde a droga também existe? Na Prainha, é por todo lado, todo mundo sabe. De ponta a ponta, a droga está presente. A solução para isso é fechar tudo. Acabar com o comércio regular, legal?”, questiona.

“A PM precisa dar batidas, fazer uma ronda nesses lugares”

O que fazer, então? Odilon Campos afirma que é preciso mais ação da Polícia Militar e investimento em políticas públicas por parte da administração municipal. “A polícia tem que dar batida onde a droga está presente, fazer uma ronda nesses lugares. A gente chama a PM e eles não vem. Até desligam o telefone. Não atendem, podem até matar um aqui nessas confusões. Estamos sem proteção nenhuma. O mal está vencendo o bem. A droga vai fechar o ‘Sandoval”, relata.

Se preparando para o fim

O antigo restaurante não funciona mais nas madrugadas. Por volta da meia noite, às vezes um pouco antes, ou um pouco depois, o comerciante abaixa as portas e continua atendendo, apenas, quem já estava no interior do estabelecimento. A tendência é encerrar de vez as atividades se não houver outra medida. E, assim, colocar um ponto final numa tradição que resiste há décadas, que começou como “Bar do Plínio’, passou pelo Fagundes, Zé Maria, até chegar aos irmãos Sandoval, Odilon e Nilo, em 1985.

Hoje Sandoval e Odilon administram o negócio. Durante o dia é Odilon quem faz o atendimento e, à noite, o Sandoval. “Além de tudo isso, pra gente fechar as portas temos que nos preparar, não podemos parar de uma hora para outra, temos compromissos, contas a pagar, pessoas que trabalham com a gente. Tudo isso é lamentável”, pontua.  

PM diz não existem registro de chamadas dos comerciantes e que operações são feitas regularmente

O major Alexsandro Souza, da Cia. Independente da Polícia Militar de Itaúna pediu ao subcomandante, capitão Hélcio Tavares de Resende, que falasse com o Jornal S’PASSO sobre as informações do comerciante Odilon Campos a respeito da situação da Praça da Lagoinha durante a noite, uma vez que estava em reunião em Divinópolis.

Segundo o subcomandante, a reclamação do comerciante não condiz com a verdade. “Ele e nenhum outro em nome daquele estabelecimento procurou a Polícia Militar com essas queixas. Não temos conhecimento de nenhuma denúncia formal sobre o não atendimento da Polícia Militar quando solicitado seu serviço. É mentirosa essa declaração”, afirmou. 

O capitão esclareceu ainda que nas imediações da Praça da Lagoinha os militares fazem operações rotineiras, com registros de prisões por consumo e tráfico de drogas, roubos e furtos e até mesmo recuperando objetos roubados.

 “Nosso atendimento é pontual em toda a cidade, a PM não tem condições de atendimento 24 horas em determinado bairro ou estabelecimento comercial, temos que realizar as atividades em toda a cidade e isso é realizado. Agora, se a pessoa está em determinado lugar sem cometer nenhum crime, não podemos tirá-la dali. Se não há ilícito, não temos o que fazer”, explicou.

O capitão Hélcio ressaltou que o problema apontado pelo comerciante sobre o uso de drogas é mais do que policial, precisa efetivamente de abordagem de outras entidades além da PM, de políticas públicas, como a questão de saúde pois, “não basta somente prender”.