Alisson Diego Batista Moraes*
Valter Gonçalves do Amaral**
Se em nossa memória armazenamos, até hoje, instintos e inclinações necessárias para a sobrevivência desde os tempos mais antigos, o mundo em que vivemos atualmente é um tanto quanto avesso àquele.
Em nome da racionalidade, sobretudo a partir da racionalidade moderna cartesiana, as sociedades complexificaram as suas organizações, modificando regularmente, desde então, a maneira como as sociedades funcionam. Uma dessas formas de organização mais importantes e que se modifica a cada geração é o sistema político.
Com os antigos gregos, aprendemos a forjar um regime com base na vontade da maioria, afastando o poder oligárquico e unipessoal. Ainda que não tenha sido uma regra, desde aqueles tempos, o fato é que a “invenção” dos gregos nos trouxe importantes legados.
Com a democracia, não seria necessário, em tese, usar força para se chegar ao poder: a disputa não aconteceria por meio da violência nem pela consanguinidade, mas pela discussão de ideias e apresentação de propostas que melhor atenderiam a vida de todos. O ponto de partida, desse modo, partiria do convencimento dos cidadãos e de quem conseguisse, em tese, mais votos – grosso modo, essa era a regra para se alcançar os postos de liderança.
Mas democracia vai muito além do voto, como também admoestaram os gregos, é também uma forma de convívio e de respeito ao tecido social e suas idiossincrasias.
Os autores Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, no best-seller “Como as democracias morrem”, ressaltam que a democracia contemporânea requer respeito a várias regras comuns (muitas delas não escritas). Uma delas é o reconhecimento da legitimidade dos adversários, ou seja, é imperativo tratar os concorrentes a um cargo público com denodo e reconhecer a legitimidade de um processo eleitoral, com base, sobretudo, nos princípios da tolerância e do diálogo.
No Brasil de 2022, a demasiada polarização compromete muitas dessas regras, sobretudo a do convívio, da tolerância e do diálogo. Em uma sociedade bifurcada em apenas dois lados, ao menos um dos adversários comporta-se como vestal da moralidade e porta-voz das vontades da nação. Enxerga todos aqueles que não concordam com ele como inimigos, dinamita as bases do diálogo e incentiva as transgressões de todas as regras mais básicas de convivência.
No domingo (02/10) temos a oportunidade de superar parte dessa polarização doentia ao elegermos políticos que possuem efetivo compromisso para com a democracia e o Estado Democrático de Direito. Muito mais do que compromisso retórico, exercer a tolerância e o respeito, sobretudo com aqueles que pensam diferente de nós, é essencial para a construção de uma sociabilidade sadia, baseada em diálogos construtivos, dignidade e evolução humanista. Hoje, neste primeiro quarto do século XXI, uma sociedade evoluída não prescinde da democracia.
*Alisson Diego Batista Moraes, advogado, filósofo, mestre em Ciências Sociais pela PUC-MG, MBA em Gestão de Empresas pela FGV e mestrando em Administração pela Fundação Dom Cabral (FDC).
**Valter Gonçalves do Amaral, Advogado, pós-graduado em Direito Processual Penal e MBA em Gestão Pública – Pós Graduado em Direito Tributário pela Ênfase.
Por isso mesmo somos todos Bolsonaro Presidente.