Meu primeiro voto

Jovens estudantes de Itaúna falam sobre a sua estreia nas urnas neste domingo, dia 2

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De acordo com o site do Tribunal Superior Eleitoral, Itaúna tem 71.333 eleitores aptos a comparecerem às urnas no próximo domingo (2), e votarem nos candidatos a presidente da República, governador, senador, deputado federal e deputado estadual. Os eleitores itaunenses são 52% de mulheres e 48% de homens. Com biometria são 18.305 eleitores ou 25,66%; os sem biometria, a maioria, são 53.028, representando 74,34% dos eleitores.

Os dados do TSE ainda registram a participação de jovens no processo eleitoral com idade entre 16 a 18 anos. Confirmando o que o Jornal S’PASSO já havia verificado em conversa com alunos de algumas instituições educacionais da cidade, muitos em idade de votarem optaram por não fazerem ou se esqueceram dos prazos e perderam a oportunidade de inscreverem para obtenção do título de eleitor.  São apenas 1.377 eleitores nessa idade em Itaúna. Dos de 16 anos, são 130 mulheres e 86 homens; de 17 anos, 212 são mulheres e 194 homens; dos que completaram 18 anos, 42 são do sexo feminino e 353 do masculino.

Alguns jovens falaram das eleições 2022 ao Jornal S’PASSO e do compromisso, emocionante até, de votarem pela primeira vez para presidente da República, governador, senador e deputados. Eles responderam as perguntas encaminhadas pela redação:

1. No dia 2 de outubro iremos às urnas para eleger o presidente da República, o governador, o senador e os deputados. É a sua primeira vez que vota? O que isso significa para você?

2. O que os jovens têm a dizer sobre a participação política e o exercício da cidadania através do voto?

3. Como você vê essa polarização entre dois candidatos para o cargo majoritário nessas eleições?

4. Sobre as críticas às urnas eletrônicas e o processo eleitoral. Qual é sua opinião?

De um lado a verdade, do outro, o incentivo à violência e o uso de armas

Yasmim Pereira Ribeiro, 18, é estudante de Administração da Universidade de Itaúna. Para ela, que está em sua primeira vez como eleitora, é muito significativo este momento pois dele depende o futuro do país. “Nossa participação é muito importante, nós obtemos muitas informações e notícias sobre eleições e os candidatos através da participação política”, opina. Sobre a polarização, entende que de um lado “tem a verdade e do outro incentivo a violência e o uso de armas”. Das discussões sobre urnas eletrônicas, Yasmim afirmou que concorda com o voto digital, que “tem agilidade na divulgação do resultado, ao contrário do voto impresso. Além disso, ele é seguro e mais difícil de fraudes”.

Não acho válido votar nulo ou não votar

Também estudante de Administração da Universidade de Itaúna, Sarah Duarte Resende, 19, considera que por ser sua primeira vez nas urnas, seu voto significa uma decisão muito válida, “pois sinto que eu faço parte de algo e como meu voto pode ajudar o país”. Assim, afirma que o exercício do voto é muito importante para a construção da democracia. “Não acho válido votar nulo ou não votar, é algo que vai muito além de um clique, isso influenciará anos da história de um país”, avalia. Sarah diz achar estranho e até constrangedor essa polarização de duas forças antagônicas, mais ainda, é preocupante o jeito que as pessoas se importam com coisas pequenas. Sobre as críticas às urnas eletrônicas e o processo eleitoral a estudante ressalta que elas são um grande avanço em todo processo eleitoral. “Não acho válida a discordância que estão fazendo ao equipamento que facilita e nos ajuda ainda mais nos dias de hoje”, observa.

A direita fascista contra a direita liberal

O jovem Homero Gonçalves Magalhães Silva, 20, é estudante de Serviço Social em Divinópolis. É a  primeira vez que vota, mas não é o primeiro processo eleitoral de que participa como cidadão, já que é ativo militante dos movimentos estudantis e sociais. Homero, comunista assumido, entende essa participação como muito significativa, pois ela está atrelada a “um momento de agitação e denúncia”. Para ele, a maioria dos jovens expressa uma descrença em relação ao processo eleitoral de uma forma geral. “E isso acontece porque a gente não é ensinado sobre o que é política (economia concentrada). Na real, somos “chateados” diariamente pelo senso comum com a política e passamos a associá-la aos “políticos”, a algo negativo, a tudo que há de difícil no dia a dia. Por isso, o jovem em geral é avesso à política. Enquanto comunista, acredito que a participação política e o exercício do voto precisam estar unidos a uma consciência política, a um saber político: com uma postura séria e curiosa. Devemos procurar estudar e entender quais são os candidatos e seus partidos, quais as propostas deles, e por quem são financiados –  o que vai dizer muito sobre a favor de quem e do quê é a política de determinado candidato, ou seja, também vai dizer contra quem e o quê é essa política. Procurar entender a qual campo político cada partido está alinhado e a quais objetivos esses campos servem, e qual foi o resultado de seus programas políticos ao longo da história”, ensina.

Sobre a polarização, o estudante de Serviço Social avalia que não existe polarização no sentido de dois “extremos” que no fundo são iguais, “porque isso seria relativizar o fascismo”. Entende que o que está acontecendo no Brasil é “um processo de tornar o cenário eleitoral cada vez mais ameno, como nos EUA, onde temos na disputa à presidência sempre dois partidos que são iguais no programa, mas um deles tem ares de progressismo, sendo social-liberal”. Ele vai mais longe ao que dizer que nos últimos tempos a esquerda cada vez mais tem “rebaixado” nos seus ideais políticos, tecendo alianças com os mesmos setores que em 2016 deram o golpe que depôs Dilma Roussef. Isto,  em nome de ser aceita pelas elites financeiras e assim conseguir disputar as eleições sem perder tempo de televisão, e poder permanecer nos cargos governamentais sem muitos problemas. “O que está acontecendo é que teremos direita fascista disputando com direita liberal ou, no máximo, um partido de centro. Temos que ampliar a mobilização popular em torno de um chamado para que o povo trabalhador, enquanto classe trabalhadora, conquiste a sua independência de classe; isto é, tenha seu próprio programa político (e também seus próprios candidatos, escolhidos entre o povo e pelo povo) – um programa que lute pela vida acima do lucro, por uma boa qualidade de vida por preços acessíveis para todos, e por direitos que sejam realmente universais para todos os grupos marginalizados da sociedade”, salienta.

O processo eleitoral beneficia os partidos com mais dinheiro

Sobre a polêmica das urnas eletrônicas, Homero Gonçalves afirma que não tem críticas às suas questões técnicas. “Em geral vemos essas críticas sendo feitas para tentar empurrar goela abaixo uma forma de voto que é mais fácil de ser adulterado ou cooptado. Exemplo disso foi a inscrição em massa de bolsonaristas como mesários para as eleições vindouras para que eles pudessem ameaçar os eleitores contrários à Jair Messias Bolsonaro. A minha crítica ao processo eleitoral está em como ele é “quadrado” e feito para colocar visibilidade nos partidos que têm mais dinheiro injetado e propostas iguais às que sempre vemos, e não propostas que tocam na nossa vida enquanto trabalhador: preço da água, luz, comida, gás etc., transporte público, saúde, etc.”, pontua.

As eleições como um “espelho distorcido da luta de classes”

Filipe Silva, 19, é estudante de História e servidor na Secretaria de Cultura e Turismo de Itaúna. Também estreante como eleitor diz que tem uma grande chance de escolher e avaliar propostas e candidatos. “Votar pela primeira vez em quem representa os meus ideais”. Ele ressalta que é  importante que os jovens escolham candidatos com propostas voltadas à juventude. “É preciso exercer a cidadania pensando no futuro da nossa geração. Pautas como meio ambiente, saúde e educação devem ser prioridades para o voto geral e para a campanha dos jovens que optem pela carreira política”, considera.

Filipe afirma que a polarização política ascendeu no Brasil após as manifestações de 2013. De lá para cá, grupos extremistas disseminam ódio, insultos e preconceitos através das redes sociais. “Eu vejo a polarização como um processo normal da democracia, com prós e contras. No final, todos almejam a prosperidade do Brasil, mesmo que um lado priorize o conservadorismo e o retrocesso”, afirma.

Ele considera as eleições no Brasil como “um espelho distorcido da luta de classes” A crítica do jovem estudante de História é com relação ao processo eleitoral, “financiado por partidos burgueses que elegem fundamentalistas religiosos, ruralistas e conservadores. A esperança é pensar um futuro em que os processos decisórios sejam verdadeiramente democráticos e participativos, que a demanda dos trabalhadores e da juventude seja ouvida e atendida”.  Sobre as urnas, considera seguras, transparentes e eficientes. “É a tecnologia mais avançada que temos para organizar as eleições”.

Para renovar as escolhas 

O coordenador do Centro da Juventude de Itaúna, Jéfferson Henrique Emiliano Silva, 33, já teve a oportunidade de votar  outras vezes, mas admite que é a  chance do eleitor renovar  suas escolhas. “Novos representantes na busca de uma vida coerente com que a juventude espera. Os jovens têm a força, mas pouca experiência.  Haverá decepção em algum aspecto, mas eles terão o poder do voto quando virem as coisas caminhando por caminhos que eles não acreditam. Aí vem a mudança”, analisa.  

Sobre a  polarização, Jéfferson evidencia que não é interessante termos dois candidatos em brigas constantes. “O interessante seria uma eleição com candidatos com mais ideias que realmente funcionassem”, observa.  

Já sua análise das críticas às urnas eletrônicas, ele afirma que não há o que questionar.  “O modelo de votação brasileiro é reconhecido por potência igual a dos Estados Unidos”, afirmou. 

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