Adolescência

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Larissa Alves Santos

O período da adolescência é percebido muitas vezes pelas famílias, como a rebeldia. Talvez na contemporaneidade esse período tenha sido um dos mais desafiadores a ser analisado. O objeto de estudo para psicanálise, como sabemos, é o inconsciente, e este não tem tempo cronológico ou idade e sim lógico, o que não depende dos anos vividos. Vale relembrar que nos escritos feitos por Freud, é considerado os entornos do sujeito que podem impactar no psiquismo humano. Alguns acontecimentos como guerra, religião, arte contribuem para o entendimento da época em que o sujeito está inserido e como ele também pode ser afetado pelos eventos ocorridos em sua história.

A adolescência é apresentada como resposta sobre um tempo determinado da sexualidade, a puberdade e sendo assim cabe buscar compreender melhor a dificuldade psíquica que é provocada no adolescente. Assim é importante destacar sobre atuação da figura paterna, que está em declínio, uma vez que o lugar transformador de exigência tem dificultado o processo de subjetivação do sujeito. Esse papel que se presta na função paterna como regulador de normas e leis auxiliava para que o adolescente se organizasse e respondesse às suas próprias perguntas, mesmo que as respostas fossem de maneira que pudessem contestar o pai, podendo gerar o conflito. No mundo contemporâneo essa ajuda tem sido cada vez mais escassa fazendo com que o sujeito busque amparo em outros objetos o que justifica o aumento de sintomas que sinalizam para a separação desse Outro. O apoio tem sido na toxicomania, no suicídio, na depressão aumentando assim os sintomas contemporâneos . (entender pai a quem faz a função paterna)

Vale ressaltar que a psicanálise não se presta a fazer nenhum juízo de valor. É preciso cuidado para não supervalorizar a adolescência, como não esbarrar em discursos relatados de que antes a adolescência era mais fácil. Não se coloca em questão em qual época era melhor e sim sobre à época a partir das especificidades históricas e constitutivas do sujeito. Por aqui, será utilizado a adolescência como resposta ao processo da puberdade, e não sobre alguma possível questão psicológica uma vez que a adolescência não cessa com a chegada da vida adulta, já que é abordado o tempo lógico do sujeito, este não tem prazo para ser finalizado. Talvez seja essa uma das dificuldades relatadas por Freud, quando diz em abandonar alguma forma de funcionamento psíquico em função de outra. Dessa forma sempre teremos traços que ainda permanecem no psiquismo humano, seja infantil e/ou adolescente.

Portanto ao se deparar com a puberdade ocorre uma revivência do Édipo experimentado na primeira infância. É revivida várias escolhas, e com questões em que não se pode contar mais com o Outro. O corpo agora se mostra como real a partir das variadas mudanças, inicia-se a rivalização com a família e as identificações com outras pessoas são experimentadas em diferentes ciclos de amizade. O sujeito questiona tudo sobre o mundo, experimenta a sua própria posição diante da sexualidade, dentre outras mudanças . Essas são algumas respostas que a adolescência dá ao encontro com a realidade que a puberdade apresenta, e nomeadas pelo senso comum como crise da adolescência.

As indignações sobre o saber do Outro, provoca no adolescente questionamentos que podem se apresentar em mudanças significativas com familiares, questionando esse saber dos pais como também questões culturais. Mas vale relembrar que essas transformações não seguem um padrão a todos os adolescentes, uma vez que os sintomas para psicanálise são subjetivos e a forma de respostas podem também ser variadas. É importante atentar para aqueles sintomas que apresentam como mudanças culturais, ou mudanças de uma ordem revolucionária não serem padronizadas como graves, pois às vezes esse lugar de recuperação do saber no Outro pode apresentar um lugar inverso, como uma alienação maior e de não acreditarem no real apresentado. É possível perceber, jovens que esbarram com a sua imaginada completude do saber que foi perdida ao se encontrar com o real, estudarem muito porque não acreditam que seu saber seja suficiente, ou de tentarem responder imposições impossíveis do Outro. Alguns dos exemplos claro é a estética exageradamente imposta como lugar de melhora corporal, e que tem sido padronizada, e o consumismo do mundo capitalista onde o ser é rotulado pelo que se tem. Então cabe entender que esses sintomas dos jovens que não fazem tantas mudanças revolucionárias, ou que não há tantos conflitos com familiares, não sejam apresentados com menor gravidade. Talvez seja um lugar de mais atenção aos adolescentes que se entregam a padronização de um corpo dito como ideal que é mostrado pelas mídias. E a situação apresentada como a mais agravante é quando há um fracasso na fantasia e o jovem se aliena ao desejo dos pais, tendo a responsabilidade de realizar possíveis mudanças de vida da família, como uma espécie de loteria humana, familiar. Mas a partir de um possível insucesso, uma saída desse desejo dos pais, o jovem pode sacrificar até mesmo a sua própria vida.

Portanto, vale lembrar que os sintomas precisam ser analisados de forma particular, mesmo sendo possível perceber algumas formas de comportamentos como resposta que vão desde a separação a alienação com o Outro, eles são apresentados na puberdade a partir do encontro com o real.

Referência

Oliveira, Humberto Moacir de e Hanke, Bruno Curcino. Adolescer na contemporaneidade: uma crise dentro da crise. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica [online]. 2017, v. 20, n. 2

[Acessado         14         Setembro         2023],         pp.         295-310.         Disponível         em:

<https://doi.org/10.1590/1809-44142017002001>. Epub May-Aug 2017. ISSN 1809-4414. https://doi.org/10.1590/1809-44142017002001.