As minhas lembranças de outros carnavais

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Neste clima de carnaval, especialmente depois de dois anos de jejum por causa da pandemia da Covid-19, o Jornal S’PASSO foi buscar a fala de alguns antigos carnavalescos sobre as suas histórias nos festejos momescos da Itaúna de outros tempos. As lembranças do carnaval de Itaúna foram contadas por alguns dos personagens desse período. Alguns, em razão da exiguidade do tempo, não puderam participar. Outros, prontamente compareceram com suas narrativas.

Dos tempos da casa do Jubitão

“É até difícil falar das lembranças que ficaram em minha vida do Carnaval de Itaúna. Diverti muito nos carnavais do Automóvel Clube, primeiro das matinés, depois dos bailes de carnaval. Diverti muito com o Zulu, quando as disputas eram com os eternos rivais Castores e Pães, com hegemonia do Zulu em disputas sadias, com os belíssimos desfiles na Rua Silva Jardim e Praça da Matriz (“Quem quiser ver, suba a praça da matriz, que a escola vai desfilar…”).

Tenho excelentes lembranças de sair com fantasias improvisadas no Bloco dos Farrapos da Lagoinha e depois na Banda Suja. Marcou muito minha vida o “Sai da Reta”, bloco de carnaval que nunca desfilou na avenida do samba na praça, mas desfilava no sábado de carnaval pelas ruas da cidade, com uma banda de música tocando marchinhas e em cima de um caminhão. O bloco era preparado no terreiro da casa do “Jubitão”, no Bar, na rua ou em cima do caminhão, ao som do Cá cá cá careco, de alegria quase explode o coração…). Sai da Reta concentrava no terreiro da casa do Jubitão, meu saudoso pai e depois tinha o glorioso desfile em cima do caminhão, era só alegria, só bom humor e alto astral.

“Um momento marcante foi na década de 90, após passarmos vários carnavais no Rio de Janeiro, resolvemos passar o carnaval em Itaúna. Era algo meio complicado pra nós, pois o carnaval de Itaúna estava parado. Aproveitamos o samba que tinha todos os anos no Bar 318, assumimos a Presidência do Tropical Tênis Clube. O samba que acontecia todos os anos no 318 subiu o morro e foi tocar no Tropical, daí surgiu a ideia do “Viajar? Nem Pensar…” slogan de carnaval do Tropical para tentar segurar as pessoas que viajavam por falta de opção em Itaúna. Nas domingueiras carnavalescas do carnaval e no Bar 318, provocamos as pessoas dos Castores, do Zulu e dos Pães, acirrando novamente a disputa. Surgiu daí as Escolas de Samba da Perdição e reascendeu a chama da Unidos da Ponte e o Zulu voltou a plena carga. Contamos com apoio da prefeitura, através do então Coordenador de Cultura, nosso amigo Fábio Scorza. Neste ano, tomou corpo a Banda Esplendor e Glória, concentrada no Bar 318 e que desfilava, como faz até hoje, na contramão da Av. Jove Soares, com banda de música tocando marchinhas carnavalescas. Bom demais. Surgiu a proposta de tirar o carnaval da Silva Jardim e levá-lo para a Av. Jove Soares. Voltamos a fazer animadíssimos e belíssimos carnavais.

Esta volta do Carnaval de Itaúna e o “sambódromo” da Av. da Praia e o grande sucesso do Carnaval do Tropical, com ricas e belas fantasias e muuuuuuuuita animação e a Banda Esplendor e Glória – estes são os momentos que mais marcantes na minha vida de então carnavalesco”. – Ângelo Braz de Matos – professor e carnavalesco

Da casa dos meus avós, na praça da Estação, para a passarela do samba

“Para mim o momento marcante do Carnaval, que é uma boa lembrança de minha infância, era vestir de Zuluzinha e subir a rua Silva Jardim. Eu deveria ter no máximo dois anos de idade… rsrsrsrsrs.

Na época do carnaval, a casa de meus avós, na avenida Dona Cota, era igual um barracão de escola de samba. Um entra e sai o dia todo… Pessoas de todas as classes sociais iam para lá em busca de informações e de suas fantasias. Arranjos, enfeites e demais adereços do Zulus pendurados pela casa e sendo confeccionados lá. Ali era um ponto cultural e a casa  era agarrada à Praça da Estação. Era uma alegria contagiante que nós, crianças, e depois, adultos, soubemos aproveitar.

Até hoje esse clima existe. As conversas da família nessas semanas são de como iremos customizar nossos abadás e fazer arranjo de cabeça…” –  Virgínia Quadros – professora e carnavalesca

Do improviso ao aperfeiçoamento com a escola do Rio de Janeiro

“Vivi momentos muito significativos no carnaval de Itaúna. Vi o crescimento dos blocos e sua transformação em escolas de samba. No começo era tudo muito amador, muito improviso. Depois, muita gente saía de Itaúna e ia ao Rio de Janeiro, ver o desfile das campeãs, buscar informações com as escolas de samba, trazia fantasias, ideias de carros alegóricos, adereços, de fantasias. A partir daí o carnaval cresceu e tornou-se uma grande referência não somente para Itaúna, mas para todo o Estado. As pessoas queriam participar ou mesmo assistir aos desfiles das escolas e dos blocos. Estou no carnaval desde muito tempo, com os Cuecões, a Banda Suja, a escola Clube dos Zulus e também a banda Esplendor e Glória. Fui mestre de bateria, fiz samba enredo, desfilei e fui colunista de carnaval do Jornal Brexó. Posso dizer que Itaúna sempre gostou de carnaval. Eu também”. – Eustáquio Jorge – Taquinho da Viola – músico e carnavalesco

Minha vida é um eterno carnaval

“Minha vida sempre foi de um eterno carnaval. Meu pai trazia confetes e serpentinas de Belo Horizonte pra gente brincar no Automóvel Clube e no União. Ele também adorava. Ia nos blocos, nos Farrapos da Lagoinha, fazia fantasias. Depois que veio a Itaúna uma escola de samba de Cláudio, nos anos de 1960, todo mundo ficou entusiasmado. Aí nasceram as escolas de Itaúna: Castores, Pães e Zulus. Minha família tornou-se Zulus e meu pai, eu e meus irmãos, éramos destaques nessa escola. A casa de minha mãe virava uma sede do Zulu, onde eram guardados instrumentos e confeccionados fantasias e adereços. O Carnaval de Itaúna foi crescendo e tornando-se muito rico, muito luxuoso, com carros alegóricos e baterias excelentes. Vou falando aqui e me lembrando de muitos, Rogério Duarte, o maior estilista que tivemos; João da Cuíca, Heli Caroço, Dunga, Mário Coqueiro, Adelino, pai e filho, minha mãe, que comandava a ala das baianas, o Tondé, a Maria José, diretora de fantasia; a Maria de Fátima, meus filhos, sobrinhos… Várias famílias colaboravam, abriam suas casas e seus quintais para as atividades da escola de samba. Chegou uma época em que muitas pessoas começaram a cobrar para participar e o carnaval foi ficando muito caro. As escolas foram perdendo o entusiasmo e acabou. Agora, felizmente, está voltando e nós estamos muito satisfeitas porque somos da folia, onde tem uma batucada, estamos lá. É assim a família do Adelino Pereira Quadros e da Maria do Carmo”. – Maria Helena Quadros – professora aposentada e carnavalesca

Os desfiles nas ruas começaram com os bloquinhos das moças no Automóvel Clube

“Antes, quando não havia carnaval de rua, a festa era feita nos clubes, os três que existiam em Itaúna: Automóvel Clube, União e Flor do Momo. No Automóvel Clube as moças criavam bloquinhos e se fantasiavam, de gatinhas, de odaliscas… Foi nessa época, por volta dos anos de 1960, que nasceu o bloco da Ponte e os Farrapos da Lagoinha. O primeiro era a bateria nota 10, comandado pelo Braguinha e o Mário Coqueiro. O segundo, primava pela irreverência e a crítica às questões sociais e políticas da época. Num carnaval o presidente do Automóvel Clube, Marcelo Dornas de Lima, convidou a bateria do bloco da Ponte para entrar no seu salão numa madrugada. Foi a maior sensação. Depois veio a Itaúna um bloco carnavalesco da cidade de Cláudio e, a partir daí, começaram as organizações e os desfiles nas ruas de Itaúna. Surgiram as três escolas de samba: Castores, Pães e Zulus e muitos blocos em vários anos de eventos. As escolas criavam enredos muito interessantes sobre fatos da história, personalidades da arte e da cultura e os sambas eram feitos em cima desses temas. Eram impressos folhetos contando toda a estrutura do desfile e distribuídos nas arquibancadas. Dias antes do carnaval as pessoas já conheciam os sambas-enredo e cantavam em suas casas. Eu pude participar ativamente de muitos carnavais dos Zulus e compus alguns sambas enredos marcantes dessa história”.  – Raimundo Rabelo – bancário aposentado – escritor e carnavalesco

O carnaval sempre presente em minha vida

“Minhas lembranças são muitas. Comecei muito cedo, no bloco Os Terríveis, depois n’Os Cuecões. Lembranças muito boas do Allfaces na Praça da Estação. Lembranças das escolas e blocos subindo a Silva Jardim e alguns desfiles muito marcantes em minha vida. Depois tem o período da década de 1990, quando ajudei na Escola de Samba Unidos da Ponte, junto com o Braguinha e o Bolão. A turma do 318, com a banda Esplendor e Glória, num período em que não houve carnaval e a banda salvou o carnaval de Itaúna por muito tempo. São tantas as lembranças que dariam muitas páginas”. – José Flávio Alves (Flavinho) – músico, comerciante e carnavalesco