Como tem noticiado o Jornal S’PASSO, grupos políticos que se assumem como direita estariam recomendando o boicote de estabelecimentos comerciais na cidade que supostamente apoiam a eleição do ex-presidente Lula (PT) à presidência da República. Tradicionais estabelecimentos comerciais da cidade foram relacionados nestas listas com alertas do tipo: “comércios que apoiam a campanha de Lula e que não devemos comprar nada”. Essa semana vários outros nomes, muitos sem qualquer vínculo com o comércio local, foram incluídos em listas aumentam indiscriminadamente. As informações foram transmitidas à reportagem por pessoas ligadas ao Movimento Conservadores Cristãos de Itaúna, assumidamente de direita e apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na edição digital de sábado (15) o Jornal S’PASSO entrevistou o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Itaúna – CDL, Maurício Gonçalves Nazaré, que disse desconhecer as orientações de boicote e que as mesmas poderiam ser ações isoladas, sem caráter de grupo e, muito menos, desvinculadas do pensamento de outros comerciantes.
Agora, diante do crescimento das informações e até mesmo da lista de comerciantes “lulistas”, a mesma CDL emitiu Nota Oficial onde condena o possível uso do nome da entidade em ações dessa natureza, contrariando o espírito democrático que deve prevalecer em todos os ambientes da sociedade. Segundo a entidade, as orientações de boicote veiculadas nas redes sociais estariam utilizando o nome da CDL e sua direção veio a público desmentir qualquer participação nesse tipo de ação, além de condenar os fatos em si.
A Nota Oficial da CDL
“A CDL Itaúna recebeu nos últimos dias, relatos sobre possível movimento de boicote nas redes sociais a empresas do município de Itaúna, por se posicionarem politicamente em favor de determinado candidato a presidência da república no atual pleito.
Desconhecemos a autoria desta ação, a repudiamos veementemente e informamos que tal ação configura crime e pode ser investigada e serem punidos os autores pelas autoridades competentes.
Reafirmamos que o pensamento livre e consciente é fundamental para o debate e a construção de um diálogo em prol de uma sociedade melhor.
Tal situação não condiz com o espírito de comunidade em que todas as opiniões devem ser respeitadas.
Portanto, condena possível boicote à qualquer empresa por simplesmente ter expressão de seus sócios acerca das convicções políticas.
A CDL Itaúna informa que a posição política de seus dirigentes é exclusivamente particular e livre, não representando, portanto, a entidade, que tem como fundamento básico a isonomia político-partidária e não compactua com ações que possam criar um ambiente separatista, pois defende os interesses de todos os seus associados de forma igualitária, com equidade, razoabilidade e boa-fé, independente de posição político partidária.
A entidade deseja a todos os associados e à comunidade itaunense, que a harmonia e o pensamento de união para o bem da sociedade possa ser a tônica desta e das demais eleições”.
Direita de Itaúna também nega boicote
Uma nota assinada por Emanuel Ribeiro e Lincoln Dionísio, encaminhada ao Jornal S’PASSO em nome do Grupo Direita Itaúna, os coordenadores da referida entidade dizem representar a mais antiga organização de direita do município e rebatem a informação, afirmando que “a Direita de Itaúna não orienta boicote a ninguém, muito menos tenta coagir qualquer pessoa. Embora tenhamos a liberdade de expressão e as escolhas individuais como premissas básicas de uma sociedade democrática, institucionalmente, nenhum “grupo de direita” da cidade de Itaúna tomou qualquer iniciativa neste sentido”.
O texto diz reconhecer que não tem procuração para falar por “toda a direita”, mas que fala pela maioria, “com a devida anuência de coordenadores dos principais grupos da cidade”. O texto ainda pontua que o ‘Direita Itaúna’ representa vários grupos de voluntários em busca de aprimoramento e promoção do debate de ideias. “Nosso objetivo é a convergência dos resultados destes debates em mais eficiência e mais transparência na gestão pública. Estamos envolvidos na política atual sim e o fazemos em todos os âmbitos, sobretudo no municipal. Defendemos a liberdade, a ética e a moral, mas também promovemos o conservadorismo e os valores cristãos nas relações sociais e governamentais. Entendemos que o indivíduo tem todo o direito de não querer depositar o seu voto em políticos, bem como não investir o seu dinheiro em relações comerciais que não compactuam com sua própria identidade social, como bem prevê o artigo 5° da constituição federal de 1988. Hoje em dia qualquer pessoa na internet e nas redes sociais “tem voz”. Qualquer jornal ou veículo que tente calar uma voz sequer que seja, caracteriza tentativa de censura e intimidação”, ressalta a nota.
Virgílio Rocha diz que posição pessoal não deve ser motivo de perseguição
Um dos que tiveram seu nome vinculado à possível orientação de boicote, o político e profissional de saúde Virgílio Rocha, do Laboratório Prestolab, recentemente compartilhou um vídeo em suas redes sociais declarando seu voto no candidato Lula (PT). Ele disse ao Jornal S’PASSO que não tem visto os comentários posteriores à sua postagem e fez uma declaração “de natureza absolutamente pessoal, julgando-me no direito democrático de me expressar, como acho que todos têm o mesmo, independente da sua orientação política ou partidária”. Sobre o seu ambiente profissional, Rocha afirmou que seu sócio é declaradamente eleitor do Bolsonaro (PL) e sempre o respeitou, “como respeito tantos outros amigos e conhecidos que têm a mesma posição. A democracia, a meu ver, é a convivência pacífica dos contrários. É o que tenho a dizer”.
Regaço: “Quem semeia injustiça colherá a desgraça”
O comerciante Marcos Regaço, do Aviário Asa Branca, também incluído numa primeira lista de possíveis perseguidos por manifestarem sua posição ideológica, não quis tecer maiores comentários sobre o tema. Limitou-se a dizer que “Quem semeia a injustiça, colherá a desgraça! Provérbios”. E pediu: “Põe lá!”.
Padre Amarildo afirma: “não estamos escolhendo um líder religioso e sim um presidente da República”
O padre Amarildo José de Melo tem sido uma figura bastante questionada por causa de suas posições políticas. Não faz muito tempo ele teve sua participação numa manifestação em favor da esquerda divulgada nas redes sociais debaixo de inúmeras críticas de vozes da direita. Diferente de outros padres da Diocese, que foram pródigos em manifestações pró-Bolsonaro, Padre Amarildo, segue uma linha mais à esquerda com apoio às causas sociais e em preferência pelos mais humildes. Ao ser questionado pelo Jornal S’PASSO ele também se manifestou sobre esse momento. Disse que por estar há muito tempo fora de Itaúna não conhece mais profundamente o Movimento Conservadores Cristãos (MCC). Mas, afirma que “acredita no direito de organização e na obrigação de todo fiel, ser um bom cidadão na busca da justiça social. Eu acredito na democracia representativa, no Estado laico como garantia do respeito a todas as religiões, creio que a política é o meio mais eficaz de se resolver os graves problemas econômicos, sociais e ecológicos de nosso país, a forma mais perfeita de se praticar a caridade mudando as leis injustas e garantindo a harmonia social e a paz”. O padre Amarildo, que hoje atua em Nova Serrana, pontua que está profundamente preocupado com o momento atual, “sobretudo com a manipulação do sentimento religioso de nosso povo. A democracia se baseia na escolha livre das pessoas, cidadãos e cidadãs, na organização da sociedade e no império da Lei. Não estamos escolhendo um líder religioso e sim um Presidente da República. E pra isto é preciso programa de governo, organização, diálogo social, planos para o desenvolvimento integral que envolva crescimento econômico, superação da miséria, do desemprego, justiça social e respeito ao bem comum. Quero participar das eleições do próximo dia 30/10 como festa da Democracia e não como batalha. Que viva o Povo Brasileiro e viva o Brasil!”, finalizou.