Comerciantes relatam estragos em decorrência de inundação na Prainha: “Sujeira e prejuízo!”

Para comerciantes, as chuvas fortes são prenúncio de prejuízos para os seus negócios. Profissional de arquitetura e engenharia aponta possível solução

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As imagens recentes de vídeos e fotos parecem de outro ambiente e não da conhecida avenida Jove Soares, a Prainha. Ponto de barzinhos, cenário dos desfiles de carnaval, Sete de Setembro, manifestações populares e um dos lugares preferidos para as caminhadas matinais e das tardes de verão, a Prainha se transforma durante as tempestades. Quando chove forte, grande parte fica totalmente inundada – uma verdadeira praia, de lama e de correntezas fortes – e a destruição é inevitável, causando medo e prejuízo. Comerciantes reclamam, motoristas e pedestres temem andar por ali nesses dias de grandes enxurradas.

Recentemente a Câmara Municipal aprovou projeto de lei de remanejamento orçamentário, no valor de até R$ 1 milhão, para o planejamento de obras de captação pluvial da avenida Jove Soares. Depois dessa iniciativa do poder público, pelo menos em três ocasiões houve inundações e nenhuma ação concreta foi iniciada. Aliás, a única providência nesse sentido na cidade é a limpeza dos bueiros. O lixo jogado nas ruas tem sido um dos grandes responsáveis pelas inundações e a Prefeitura, através da Secretaria de Infraestrutura, tem procurado retirar esse lixo e mostrar à população que a manutenção da limpeza das ruas é tarefa de todos. 

A comerciante Fabiana Amaral contou que a última grande chuva que caiu causou estrago em alguns pontos da Prainha. Seu comércio de sorvetes foi atingido com a água e lama entrando até no fundo, perto do balcão. Sujeira e prejuízo foram o resultado. Ela cobra do poder público uma rápida solução para que esse tipo de situação não se repita.

Marcos Paulo Matos e Souza é proprietário de uma hamburgueria num dos pontos mais afetados pelos alagamentos na avenida Jove Soares. Ele conta que quando vem a chuva forte tem que agir com rapidez para que a água não danifique mais os móveis e até as paredes da loja.

A gerente de um comércio de produtos naturais, Raquel Cristina Ferreira, diz ao Jornal S’passo que o estabelecimento em que trabalha é até privilegiado pois, mesmo estando no ‘olho do furacão’, não é atingido pelas enxurradas. A porta da loja está em um ponto mais elevado e, por isso, a água não entra. Mas, ainda assim, ela e as colegas de trabalho têm assistido cenas de muita apreensão e prejuízos na Prainha decorrentes das inundações. Pessoas desorientadas buscando proteção, vizinhos sendo atingidos são situações constantes durante as chuvas fortes. Raquel diz que chegou a hora de providências serem tomadas a fim de evitar maiores consequências para o comércio e para os cidadãos. 

Asfalto permeável ou ecoarquitetura

Para o profissional Saulo Campos, a tecnologia e algumas leis construtivas é que vão sanar o problema das inundações. Ele diz que Itaúna precisa adotar nas pavimentações os asfaltos permeáveis que consistem em material poroso. Parte das águas vão ficar no solo encaminhando para o lençol freático e se este encharcar não será mais no momento crítico do temporal. Vai-se ter um ganho de tempo para o escoamento das águas.  

“Também temos o ‘concreto permeável’ que pode ser usado nas calçadas que também é um método eficaz de diluir o escoamento das águas com o mesmo critério do asfalto permeável. Já em referência às áreas privadas, é dever do setor público incentivar o uso das águas pluviais nas edificações em reservatório próprio e esta mesma água ‘das chuvas’ pode ser utilizada para uso doméstico, na lavagem de pátios e outros usos que não precisam de água tratada. A ‘arquitetura verde’ ou a ecoarquitetura abrange este tema. Ela é sustentável, pois assim estaremos utilizando recursos naturais, que vem do ‘céu’ para ajudar a evitar as inundações, bem como diminuir o consumo das águas tratadas. Para a lei ser comprida basta incentivos fiscais e construtivos. Por exemplo, ‘ganhar um pavimento a mais’ no direito à construção”, explicou Campos, que é arquiteto e urbanista e pós-graduado em Engenharia das Estruturas.

Aprofundamento do canal entre as avenidas Jove Soares e Dr. Miguel Augusto

Mais especificamente acerca da avenida Jove Soares, ele avalia que os apontamentos acima ajudam e muito a reduzir o volume de água diminuindo significativamente os alagamentos. Só nas vias públicas, na bacia de captação que abrange parte da área central, bairros Cerqueira Lima, Nogueirinha, Nogueira Machado, Morro do Sol, Piedade, Bairro das Graças além de Santo Antônio e outros que já estão altamente permeabilizadas, se trocasse tão somente a pavimentação pública já haveria um ganho exponencial de diminuição do escoamento das águas pluviais e, consequentemente, do canal da Prainha. 

Saulo reforça que com a adoção da “arquitetura verde” o município daria mais um “plus” na solução. O profissional aponta outra abordagem para esse grande problema, que é o tipo de solo que temos na interseção entre as avenidas Jove Soares e Dr. Miguel Augusto. “Pelo que me consta, neste trecho está o maior “gargalo” das águas, uma vez que o ponto culminante de toda a drenagem de escoamento da bacia de capitação da avenida Jove Soares.

Se o solo for gnaisse como imagino, pode-se efetuar aprofundamento do canal na interseção das avenidas levando-o até ao rio São João, gerando maior vazão as águas. Ou seja, se o solo de fato for gnaisse não vai gastar nenhum metro cúbico de concreto, ferragem ou outro material. O próprio solo é que será a estrutura do canal. Com um simples martelete rompedor consegue-se efetuar a obra. Para tanto deve haver uma sondagem e laudo de um geólogo. Ao contrário, pode-se fazer o aprofundamento e o canal com materiais apropriados ou concreto armado. Se por acaso atingir o lençol freático não haverá impedimento técnico da obra, pois a “entrega”, o desaguar pode ser mais abaixo no curso natural do Rio São João, uma vez que a topografia permite este conceito”, ensina.

Prefeitura está efetuando estudos

O secretário municipal de Regulação Urbana, engenheiro Thiago Moreira Araújo, contou que os estudos para o projeto de captação pluvial da avenida Jove Soares foram iniciados recentemente e que, devido à extensão e complexidade da matéria, ainda são poucas as informações. “Ainda não temos nada de concreto para solucionar o problema, apesar que o município não está medindo esforços para que a equipe técnica encontre o melhor estudo viável para a execução do projeto”, afirmou.

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