“Mesmo abalada, equipe não vai desistir”, diz Diretor do hospital sobre morte do enfermeiro

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Em entrevista, o Dr Vinícios Bicalho explicou os desafios da equipe e pediu a colaboração da população

Os profissionais de saúde têm passado por duras batalhas durante o período de pandemia da Covid-19. Estar à frente das equipes é ainda mais desafiador, porque além da rotina diária de cuidados, é preciso combater a desinformação e o medo. Nesta semana, o JORNAL S’PASSO conversou com o diretor clínico do Hospital Manoel Gonçalves e ortopedista, Dr. Vinícius Bicalho Rodrigues, para entender como tem sido a dinâmica de trabalho na unidade de saúde. Logo no início da pandemia, a notícia de que o Hospital Manoel Gonçalves seria referência no atendimento à Covid-19 causou apreensão em muitos itaunenses e gerou polêmica.

Entretanto, o que não era de conhecimento geral é que a unidade já funcionava como referência para a microrregião, que engloba os municípios de Itaúna, Itatiaiuçu, Piracema e Itaguara. “Com a pandemia, o Estado fez um plano de contingência que colocou o nosso hospital como uma unidade de referência. Desta forma, o funcionamento continua normal, não fechamos nenhum setor do hospital, não trocamos nada, só que, além do que já existia, tivemos que criar setores isolados para atender pacientes contaminados pela Covid”, detalhou Dr. Vinícius. Para atendimento aos pacientes com coronavírus, foi duplicada a capacidade de leitos do CTI e criada uma enfermaria em área isolada. Na opinião do ortopedista, esse aumento é positivo e pode ajudar no futuro, após a pandemia, já que com os leitos já liberados, fica mais fácil para o hospital lutar para mantê-los ativos. À frente da direção clínica do hospital itaunense desde julho de 2019, Dr. Vinícius faz questão de ressaltar que os serviços de assistência de outras enfermidades permanecem funcionando normalmente. “O que foi diminuído foi a quantidade de cirurgias eletivas, que foram praticamente suspensas para poupar os medicamentos utilizados para fazer a sedação e anestesia geral. Os pacientes que vão para o CTI precisam de um desses medicamentos e, como as eletivas podem esperar um certo prazo, estamos segurando estes procedimentos por orientação do Estado. O nosso hospital, por exemplo, está com uma taxa de ocupação nesse exato momento (quinta-feira), de 55%, considerando o total, maternidade, pediatria, CTI, todas as alas. Temos respiradores disponíveis, medicamentos suficientes, e estamos bem equipados para o que está acontecendo”, esclareceu.

A transformação do Manoel Gonçalves em referência da Covid19 também significa a integração da unidade em um sistema de trocas mútuas. Da mesma forma que são recebidos em Itaúna pacientes de outras cidades que já estão com hospitais sobrecarregados, se a unidade itaunense precisar de vagas, também receberá esse suporte de outros municípios. Dr. Vinicíus afirma que o paciente não ficará sem atendimento e garantiu que a possibilidade de isso acontecer é só em caso de colapso do sistema de saúde em nível estadual, o que para ele, não deve acontecer, já que há um esforço coletivo de estruturação dos hospitais. Com a morte recente de um enfermeiro do hospital para a Covid-19, o diretor clínico explica que a equipe ficou sim muito abalada, mas que o desejo de continuar trabalhando é maior. “Querendo ou não, mesmo tomando todos os cuidados, todo mundo fica alarmado com a situação. Muitos funcionários ficaram chateados, lamentaram, estão pesarosos, mas a grande maioria continua trabalhando e não vai desistir. Vai continuar se protegendo e ajudando a população da melhor maneira possível. Tanto é que não houve saída de funcionários por isso; eles estão sentidos, mas sabem da missão que têm e vão continuar”, destacou.

O Hospital Manoel Gonçalves adotou ações de segurança específicas para cada área, além de medir a temperatura de todos os que acessam a unidade, ter suspendido visitas e estar permitindo acompanhantes apenas nos casos preconizados em lei, entre outras ações. Foram passadas também orientações aos empregados e implantado um serviço de psicologia ampliado dentro do hospital. “O desafio nosso agora é continuar com o hospital funcionando da melhor maneira possível, com todos os setores abertos. Estamos caminhando para isso, tentando não sacrificar a população. Até o presente momento, não precisamos transferir ninguém para outro hospital ou outra cidade, porque estamos conseguindo resolver tudo aqui”, frisou o diretor. Dr. Vinícius também aproveitou para reiterar um pedido para a população. Ele lembrou que as estatísticas apontam para a aproximação do pico da doença e que, uma vez atingido, esse pico deve permanecer por até três semanas até que os casos comecem a diminuir, sendo esse um momento crucial de prevenção. “Do fundo do meu coração, fiquem calmos. Mantenham as precauções, fiquem tranquilos, porque o hospital está aberto, funcionando, não está faltando nada e nem ninguém lá dentro. Temos capacidade técnica, capacidade de pessoal, tudo à disposição para o que for possível. Estamos trabalhando arduamente para dar o melhor atendimento, não só para os casos de Covid, como para os outros que precisam. Então, que todos evitem aglomerações, usem máscaras, evitem contato desnecessário, porque agora estamos entrando na frase crítica”, finalizou.

Óbitos na cidade

Até essa sexta-feira, 10, dois itaunenses perderam a vida em função da contaminação pela Covid-19. Os demais óbitos apontados no boletim do hospital são de cidades da região e isso, na opinião do Dr. Vinícius, pode gerar certo choque na população. Ele explicou que muitos pacientes vêm de outras cidades já em estado grave e, como o hospital divulga um boletim diário, é preciso contabilizar esses óbitos também. No entanto, no panorama municipal, eles serão notificados pelas cidades das quais os pacientes eram moradores. Entre as vítimas falecidas nesta semana, está o enfermeiro Libério Tadeu Pereira Fonseca, de 22 anos, que trabalhava no Hospital Manoel Gonçalves e também na Fundação Frederico Ozanan.

A morte do rapaz, natural de Itatiaiuçu, gerou grande comoção e abalou a equipe da unidade de saúde. A mãe de Libério também faleceu em decorrência da Covid19. O caso do enfermeiro está sendo estudado pelo Ministério da Saúde pela suspeita de que tenha ocorrido uma reinfecção. Libério foi internado pela primeira vez com sintomas da doença em abril. Ele fez o teste, que deu positivo, cumpriu o processo da quarentena, foi tratado e, após apresentar o teste negativo, retornou ao trabalho. Dois meses depois, no dia 27 de junho, ele apresentou sintomas gripais e precisou ser internado novamente, vindo a óbito no dia 06 de julho. “O caso dele está em estudo para analisar os vários fatores envolvidos: se houve falha de teste, algum problema de imunidade já que ele não produziu anticorpos, ou realmente se houve reinfecção. Saber se o nosso corpo produz alguma memória imunológica ou não, é uma preocupação do mundo inteiro”, comentou Dr. Vinícius. Diversas homenagens de funcionários da Casa de Caridade foram feitas em memória de Libério. Em nota, a direção do Hospital manifestou sentimentos pela perda do enfermeiro. “Todos nós, a direção, o corpo clínico e os funcionários do Hospital Manoel Gonçalves, manifestamos nossos mais profundos sentimentos pela imensa perda do funcionário Libério Tadeu Pereira Fonseca”.

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