@toniramosgoncalves*
É comum surgirem discussões sobre a preferência de leitura entre livros físicos ou digitais (e-books) nos grupos de leitura do WhatsApp e em conversas entre amigos.
Em debates como esses, emerge a discussão sobre as vantagens e desvantagens entre livros físicos e digitais. Os defensores dos livros físicos frequentemente apontam para a experiência do toque, do cheiro das páginas, e da beleza de uma estante cheia. Argumentam que a conexão emocional e a nostalgia vinculada aos livros impressos são insubstituíveis e que estes objetos carregam consigo uma espécie de alma que o digital não pode replicar.
Por outro lado, os entusiastas dos livros digitais destacam as vantagens práticas dos e-books. Estes são mais acessíveis, geralmente mais baratos e portáteis. Com um dispositivo único, é possível carregar uma biblioteca inteira, facilitando a leitura em qualquer lugar e a qualquer hora. A funcionalidade de pesquisa rápida e a capacidade de ajustar o tamanho do texto são também vantagens incontestáveis que melhoram a acessibilidade e a experiência de leitura para muitos, incluindo idosos e pessoas com deficiência visual.
O impacto ambiental dos livros digitais é também citado como uma vantagem significativa, com a redução da necessidade de papel e transporte físico, embora a produção e descarte de dispositivos eletrônicos também apresentem desafios ambientais.
Quando o e-book foi introduzido em 2007, com o lançamento do Kindle pela Amazon, a leitura tornou-se mais dinâmica e interconectada com outras fontes de informação. Na época, muitos especularam que os livros físicos perderiam espaço gradualmente. No entanto, assim como o cinema não eliminou o teatro e a TV não extinguiu o rádio, o livro físico, mesmo sendo um meio mais isolado, manteve sua relevância, contrariando as previsões pessimistas.
Segundo estimativas divulgadas pelo Associação Nacional das Livrarias (ANL), as vendas de livros físicos caíram 20% em 2020 durante a pandemia da Covid-19, mas se recuperaram em 2021, alcançando números similares ao período pré-pandêmico. Nos últimos 12 meses, 54% dos consumidores compraram exclusivamente livros físicos, enquanto 15% adquiriram apenas livros digitais. Estima-se que até 2027, os e-books superem as vendas dos impressos devido ao seu menor custo final. Resta-nos aguardar para ver.
Este debate é antigo e surgiu com a difusão da internet na década de 1990. Coincidentemente, ao vasculhar meus jornais antigos, encontrei uma edição do “Estado de Minas” datada de 21 de junho de 1997, que abordava a mesma polêmica. No caderno especial, escritores, professores e leitores defendiam que o livro jamais perderia espaço para outros meios de comunicação.
Na reportagem, o escritor e jornalista mineiro Carlos Herculano Lopes afirmou que nem o computador, nem a internet, nem a tecnologia em geral conseguirão acabar com o livro. Ele destacou que o prazer de visitar uma livraria, folhear um novo lançamento ou encontrar um volume antigo e desejado em um sebo será sempre eterno. Herculano, que confessou ser um leitor ávido desde a infância, foi recentemente eleito membro da Academia Mineira de Letras e em abril reeditou seu livro “O último conhaque.”
O cartunista mineiro Ziraldo (1932-2024), que faleceu há poucos dias, também deu sua opinião ao jornal. Ele explicou que existem inúmeras maneiras de uma pessoa se informar, seja por meio de uma história, um fato, uma anedota, uma narrativa, na internet, no cinema ou, evidentemente, na literatura. Ele acrescentou que a leitura exercita a imaginação, algo essencial para qualquer ser humano. Ziraldo enfatizou que o hábito da leitura deve ser cultivado desde a infância ou pode nunca se desenvolver, e lamentou não possuir a fórmula exata para instaurar esse hábito, pois, se a tivesse, seria milionário.
Afonso Borges, idealizador do projeto “Sempre Um Papo”, conhecido no meio cultural por suas centenas de eventos, defendeu veementemente a importância da leitura. Para ele, um bom livro é insubstituível. Nesta reportagem de 1997, ele argumentou que sua geração havia lido mais do que as anteriores, devido ao acesso a diversas linguagens. Contudo, enfatizou que a leitura é a única capaz de verdadeiramente formar cidadãos. Afonso Borges, um ávido leitor, considera a leitura um dos maiores prazeres da vida e sustenta que não existe tecnologia capaz de substituir o que a imaginação pode alcançar através dos livros.
É necessário reconhecer que o cenário da leitura está se tornando cada vez mais híbrido. Muitos leitores optam por alternar entre formatos, escolhendo o livro digital para a conveniência e o físico para experiências mais imersivas ou para obras de maior valor sentimental ou estético.
Este diálogo sobre livros físicos e digitais não apenas reflete as mudanças tecnológicas e culturais, mas também destaca um aspecto mais amplo sobre como a sociedade valoriza e interage com o conhecimento e a literatura. Enquanto as previsões sobre o domínio digital continuam, a coexistência dos formatos parece ser o caminho que estamos seguindo, com cada um oferecendo benefícios únicos que atendem às diversas necessidades e preferências dos leitores em todo o mundo.
Como filósofo e educador Paulo Freire disse: “É preciso que a leitura seja um ato de amor.” Seja físico ou digital.
* Toni Ramos Gonçalves (Não é o Global)
Professor de História, Escritor, Editor, ex-presidente e um dos fundadores da Academia Itaunense de Letras – AILE.