O brincar infantil

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Larissa Alves Santos

A criança se identifica com o ambiente a partir da maneira que foi percebida através do olhar do Outro. E no brincar ela apresenta a realidade de forma vivenciada. Consegue apresentar e representar a situação traumática experienciada através da linguagem. Portanto o brincar é terapêutico, nesse momento a criança consegue acessar seu potencial criativo e simbolizar a situação traumática vivida.

O brinquedo e o brincar revelam os estágios psíquicos da criança buscando significado nas ações. Ela tende a internalizar aquilo que são dos pais percebendo a sua imagem através do olhar de seus cuidadores . E sendo assim o adulto também acredita que a imagem da criança é o real dela. E dentro dessa perspectiva, os adultos acreditam também que através de um conhecimento teórico conseguem saber tudo sobre como a criança é, como ela pensa e como ela age. Ocorre então uma confusão do que é esperado da imagem da criança através das teorias de desenvolvimento do infantil, como sendo universal, com a subjetividade dela e o seu modo particular de agir. E por acreditar que são referências para as crianças, é comum percebermos profissionais da educação, nomeando as ações delas como forma de chamar a atenção deles de modo a pensar que essa forma de agir das crianças tem um somente um direcionamento. É perceptível também que ao ser conduzida pela própria vaidade, as (os) professoras (es) relatam sobre um possível diagnóstico da criança através de uma mudança de comportamento, pouco observada, em relação aos profissionais e não com o grupo de maneira geral. Os adultos acreditam ser o centro das atenções da criança e assim como Narciso, que se fascina pela própria imagem, acreditam que o comportamento delas tem somente um sentido e direção , o de ser percebido por eles.

Com o brincar então não é diferente, os adultos nomeiam e definem rápido demais os brinquedos e a forma que a criança está brincando como verdadeiro significado.

Mediante ao tratamento analítico, o sujeito é convidado a usar a linguagem para buscar a criança, abandonando o lugar de ser o desejo do outro. Então o brincar é investigativo para que assim seja possível entender como a criança percebe o mundo em sua volta e constatando de forma clara que elas não tenham, necessariamente , que passar pelo mesmo desenvolvimento e ao mesmo tempo, como é apresentado pelas teorias e esperado pelas (os) professoras (es). O interessante seria que os profissionais se atentassem na forma que cada criança brinca e não padronizá-las de acordo com o que acreditam de seja recomendável.

Portanto, diante ao lúdico cada criança se apresenta em sua individualidade. Mesmo sendo criados pela mesma família, irmãos têm concepções e formas de visualizar e vivenciar o mundo diferentes. E é no brincar que a criança traz consigo toda sua história, e a forma de identificação é percebida através de como elas conseguem lidar com seus conflitos interiores. O que não é muito diferente dos adultos que também se revelam através da fala, brincadeirinhas, piadas, sonhos, lapsos e atos falhos.

O importante para a psicanálise não são os objetos dispostos como brinquedos, mas a imagem e a simbolização que se tem dele. Para entender sobre o sentimento da criança se faz importante orientar através da sua própria realidade psíquica dela e não pela do analista, ou do adulto. Quando pais ou professoras (es) reduzem a realidade psíquica da criança, o que se faz é colocar nela uma máscara para que sejam vistas a suas próprias representações anulando a subjetividade dela.

Referências

MRECH, Leny Magalhães. Além do sentido e do significado: a concepção psicanalítica da criança e do brincar. O brincar e suas teorias. Tradução . São Paulo:

Cengage Learning, 2008. . . Acesso em: 01 set. 2023.