QUE HISTÓRIA É ESSA?

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Sílvio Bernardes
smabernardes@hotmail.com

Costureiras e alfaiates

Outro dia, em Belo Horizonte, vendo uma exposição sobre a história da moda em Minas Gerais, fiquei pensando nos profissionais que atuavam na minha cidade. Eram pessoas simples, bacanas no trato, cheias de clientes e de histórias. As costureiras, produtoras de modelos sob medida, eram meio que amigas intimas das mulheres e os alfaiates… ah, os alfaiates. Esses eram comparsas de senhores que envergavam ternos de festas e do dia a dia, que frequentavam os salões de festas, o Bar do Cici – na zona boêmia – e as salas de jogos nas apostas ousadas.

De primeiro, era comum as casas ostentarem como instrumento de aprendizado e trabalho da mulher a máquina de costura. Havia as pequenas, manuais, as maiores, de pedal e, depois, as elétricas. “Máquina de costura tem que ser Singer, o resto é porcaria”, ensinavam as entendidas. O barulhinho da costura das máquinas se misturava à conversa das senhoras e à algazarra das crianças em brincadeiras intermináveis. Depois de toda essa movimentação e conversas, saíam os vestidos coloridos, as calças boca de sino, as camisas justas, os lenços e até mesmo as bonecas de retalhos de pano. Algumas costureiras cuidavam somente do conserto das roupas usadas. Era um botão que se soltara, um zíper a ser trocado, um buraco bem no cotovelo da blusa. O que mais se ouvia naquele tempo era a queixa da costureira: “menina do céu, essa semana eu tô tão apertada de costura”.

As mulheres clientes, por sua vez, gostavam de falar de boca cheia: “a minha costureira”. Era minha costureira pra cá, minha costureira pra lá. “Fulana de tal tem mãos de fada, copiou direitinho o vestido da Grace Kelly”, exibia uma dessas, cheia de razão.

Mais discretos e muito menos exibidos eram os homens que frequentavam os alfaiates. Mas não deixavam de ter nesses profissionais a referência de uma porção de informações sobre a vida dos outros. As alfaiatarias eram frequentadas o dia todo, muitas vezes até altas horas da noite. Ali se conversava de tudo: futebol, política, trabalho, mulher… não se falava de moda. Talvez a “elegance” não era bem compreendida no meio machista. Porém, os ternos eram feitos sob medida, calças com vinco impecável. Era própria elegância de senhores graves, atrás dos óculos e do bigode, como falara o poeta Drummond.

As costureiras funcionavam, em geral, nas suas casas, em bairros afastados ou nos fundos de algum ponto comercial. Já os alfaiates trabalhavam em lojas do centro, abertas ao público o dia inteiro. Por trás das costureiras e dos alfaiates, havia as lojas de tecidos e de aviamentos. Eram grandes lojas, sortidas, muito frequentadas. Esses comércios forneciam a matéria prima para a produção de peças de roupas das pessoas ricas e da gente simples que utilizavam dos serviços da máquina de costura operada pelas costureiras e pelos alfaiates.