Que história é essa?

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Sílvio Bernardes

Visitas

Ninguém faz mais visitas, ou como diria o outro: já não se fazem mais visitas como antigamente. A falta de tempo e outras justificativas – muitas vezes fajutas – são assinadas por amigos para dizer porque não aparecem mais, porque levaram uma sumida grande. De primeiro, as pessoas apareciam com muita frequência umas para outras – talvez é por isso que havia tanta Aparecida e quase número igual de Aparecido. É devera. De primeiro não precisava nem de convite, tipo assim: “aparece lá em casa”. As pessoas saíam muito para fazer “uma visitinha” por qualquer motivo, ou sem motivo nenhum que a simples camaradagem. Coisas de comadres, gentileza de compadres.

– Vamo chegando, meu povo!

– A demora é pouca, compadre. É só um dedinho de prosa.

– Como anda a comadre e os mininos?

– Tudo como Deus é servido…

Visitas. Café. Biscoitos, bolo e broa de fubá. Ah, as visitas de antigamente! Tenho um amigo, um filósofo, mineiro de Divinópolis, José Amaral, que escreveu uma delícia de crônica sobre as visitas de antigamente. E sobre os comes e bebes das visitas de antigamente recordou ele em suas anotações. Visitar parentes e amigos era sempre um agradável passeio da  infância lá de trás. A gente grande ficava nas conversas sobre amenidades e os moleques iam brincar no quintal. Depois vinha a hora do café… café com quitanda. Mais conversas, mais brincadeiras, mais café… À saída da casa das visitas apareciam sempre mais uns agradozinhos para a gente grande e para a gente pequena: frutas, balas, verduras, ovos, galinhas, dinheiro. Mas, as pessoas se visitavam pelo simples prazer de ver o outro, de estar com o outro. Os amigos gostavam de conversar juntos, de apertar as mãos e de estreitar os laços de amizades. Um carinho que passava de pai para filho.

 Não me esqueço de uma visita que fizemos – eu, a mãe e aquela “perrada” de irmãos – à casa da madrinha Elisa. Enquanto as duas comadres proseavam na cozinha e os irmãos enchiam o “pandu” de quitanda com café, eu fui ter com o dono da casa, Sr. Wolney, que andava cuidando do quintal. Queria eu ter uma “conversa de homem pra homem” com aquele senhor. Sem rodeios e  floreios, fui logo ao assunto que me levara ali: pedir a sua permissão para casar-me com a Dona Elisa, a sua patroa. Aquele catatau, de calças curtas e que ainda fazia xixi na cama, se achou gente para um pedido de casamento estapafúrdio daquele. O velho interlocutor deu uma risada gostosa e não somente concedeu a solicitação como presenteou o pequeno enamorado da sua esposa com um colosso de dinheiro (umas notas amarelas), “para comprar o terno” do matrimônio. Doces lembranças.