Que história é essa? “Calor, hein Osório?”

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Sílvio Bernardes

smabernardes@hotmail.com

O título aí de cima era uma fala constante do homem do rádio, conhecido por Mineirinho – que comandou por muito tempo o programa vespertino: “Tarde Sertaneja”, na Rádio Clube de Itaúna. “Calor, hem Osório?”, perguntava ele nas ondas curtas da “rádia”, naquele tempo de ondas quentes do calor da nossa cidade. Creio que pouca gente sabia quem era o tal Osório a quem o locutor Mineirinho fazia referência no seu microfone. Tenho desconfiança de que era um sujeito grandalhão, de nome Osório, conhecido por enormes mãos e que usava óculos com lentes tipo “fundo de garrafa”. Certeza eu não tenho, mas desconfio ser o mesmo. Mas, o calor que o Mineirinho reclamava era igual ou parecido com os do tempo de agora. Calor de fritar ovo no asfalto. Um calor que fazia o povo de antigamente buscar alternativas refrescantes.

A meninada, para fugir do calor – ou por pura molecagem – pulava no laguinho da praça da matriz e se banhava, driblando a vigilância dos homens da lei (a puliça e os “comissários de menor”). Eu era engraxate na praça e, por muitas vezes, assisti aos meninos nadando no laguinho numa alegria contagiante. Algumas vezes também eu arrisquei molhar os pés e as nádegas nas águas encardidas do laguinho. Naqueles tempos de calor excessivo os moleques também gostavam de se banharem nas águas do rio São João, abaixo da Vila Mozart. Águas límpidas e abundantes as do rio São João de antigamente. Não somente os moleques de toda a cidade, mas os marmanjos de várias idades frequentavam o rio em dias úteis e inúteis – e em alguns dias disputavam os espaços com as mulheres que lavavam roupa naquelas águas.

Os dias quentes levavam moços e moças às cachoeiras (de Campos, dos Chaves e das Borboletas), à barragem do Maurino ou mesmo à prainha de Cajuru. Os que tinham melhor poder aquisitivo frequentavam as piscinas da Praça de Esportes JK ou do “ITC”, como gostavam de falar do “Itaúna Tênis Clube”.

Muitos meninos não perdiam de jeito nenhum os banhos de mangueira nos quintais de casa. Sem a ameaça do desabastecimento, a molecada ficava horas brincando com os esguichos da mangueira, sonhando, talvez, com uma enorme ducha ou com uma piscina com cascata.

“Calor, hein Osório?”. Esta era a senha para os passeios das tardes-noites na praça. Namorados ao ar livre comendo pipoca ou tomando sorvete – ou chupando picolés. As opções eram muitas: picolé roliço do Bar Azul, Skimone, Cremel ou os mais baratos, condizentes com os parcos trocados da molecada: os picolés quadrados (feitos na forma de gelo) da venda do Seu chico ou Gruta Tip Top, na Praça  do Capeta. E tinha também o indefectível Ki-Suco geladinho, os refrigerantes de toda hora (Grapette, Crush, Mirinda, groselha, aluá, garapa, água torneral etc.). E, para a alegria da molecada, por todo lado e a preços módicos, havia os saquinhos de chup-chup.