SANT’ANA, NOSSA PADROEIRA

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Prof. Luiz MASCARENHAS*

INTRODUÇÃO

Um pouco de nossa História

Entre os meandros e brumas da História rememoramos a presença do homem branco nessas terras desde – provavelmente-  o recuado ano de 1720. Já é quase notória a aventura dos três portugueses, sócios e donos de data de mineração que aqui se fizeram presentes. O Sargento-mor Gabriel da Silva Pereira, Thomás Teixeira e Manoel Neto de Mello; dentre outros possíveis residentes, posseiros e viandantes que por aqui aportaram junto às águas do rio São João.

            A primeira picada em meio a mata na direção de nossa Itaúna, foi aberta pelo Sargento-mor Gabriel da Silva Pereira; um meio caminho entre dois núcleos urbanos importantes daquele período colonizador, Bonfim e Pitangui.

            Temos notícia do casamento do Sargento-mor Gabriel da Silva Pereira e de seu sócio Thomás Teixeira, no mesmo dia, do ano de 1739, com Florência e Ana Maria, ambas filhas do abastado bandeirante João Lopes de Camargos, um dos principais povoadores do Ouro Preto.

            Foi a necessidade de se cumprir os deveres para com Deus, como se dizia e se acreditava naqueles recuados tempos, principalmente de suas esposas de tradicional família católica,  que os maridos se viram envolvidos com a construção de um oratório para o culto católico no alto do morro…Oratório provavelmente erigido de taipa de pilão e coberto de capim, próximo a um cruzeiro já existente; isso por volta de 1739, onde nele se depositou a imagem em cedro de Sant’ana, oriunda da cidade de Setúbal, Portugal, adquirida junto com outra imagem da mesma invocação e um Senhor do Bonfim;  que foram compradas pelo principal pioneiro de Bonfim, Manoel Teixeira Sobreira, como pagamento de uma promessa. Transcorrido alguns anos, temos o Manoel Pinto de Madureira e demais moradores da Passagem do São João requisitando ao Sr. Bispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz as devidas licenças para a ereção da Capela. Isto no ano de 1750.

            Veio a licença e por este documento, sabemos da existência inequívoca do oratório.

Dom Frei Manoel da Cruz, Bispo de Mariana, diocese a qual pertencia a Passagem do São João da Comarca do Pitangui ( Itaúna) ordenou que se levantasse a Capela de Sant’ana no mesmo local onde estava o seu oratório. Esta ficou pronta em 11 de outubro de 1765, quando o seu patrimônio ( terras) foi passado para a Cúria de Mariana e foi benta conforme o ritual romano. Nesta data, o sr. Bispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz deu nome à nossa povoação; agora, a Passagem do São João passava a ser a POVOAÇÃO NOVA DE SANT’ANA DO RIO SÃO JOÃO ACIMA!

            No ano de 1766, a 4 de fevereiro, o Cabido de Mariana (órgão eclesiástico que governava a Diocese que se encontrava sem seu bispo – dado o falecimento do mesmo) nomeou para Capelão de Sant’ana o Pe. José Teixeira de Camargos (filho de um dos pioneiros, Tomás Teixeira com Ana Maria Cardoso de Camargos, nascido em 1740); foi portanto o primeiro Capelão de Sant’ana e hoje, merecidamente, seu nome está na Praça da Igreja do Rosário, à sua  época Igreja da Senhora Sant’ana.

            Um pouco mais adiante nas páginas de nossa História, temos um dado interessante: um censo demográfico, realizado no Império do Brasil, no ano de 1831. No nosso Arraial de Sant’anna, este recenseamento foi organizado pelo então Juiz de Paz Cel. Quintiliano Lopes Cançado e nos dá uma ideia do que seria a nossa futura paróquia: quatrocentas residências e 2.756 habitantes; sendo 1728 livres e 1028 escravos.

            Com a criação da Agência do Correio de Sant’ana do São João Acima em 17 de fevereiro de 1877, surge embrionário o sonho de nossa emancipação político-administrativa. E em 1895, com a fundação da Companhia de Tecidos Santanense, Sant’ana do São João Acima, confirma o seu progresso na região e entra finalmente pelas veredas da industrialização.

            Essa é uma pequena mostra do nosso passado, aonde já se venerava com grande respeito e fé a Senhora Sant’ana, mãe da mãe de Nosso Senhor; sinal de que a Família sempre foi um valor cristão cultivado com muito ardor nestas terras.

A PADROEIRA

Mais uma vez ITAÚNA celebra sua excelsa Padroeira, a Senhora Sant’ana.

            Oficialmente, a solene Novena da Padroeira Sant’ana acontece, de forma ininterrupta desde o ano de 1841, quando o pequeno arraial de Sant’ana – então um Curato, pertencente à Paróquia de Pitangui –  foi elevado à categoria de Paróquia. Criava-se assim, pela Resolução Estadual nº 209, assinada pelo Presidente da Província (cargo hoje de Governador) Marechal Sebastião Barreto Pinto, a Paróquia de Sant’ana (com um território que abrangia toda a cidade de Itaúna, bem como Carmo do Cajuru, Serra Azul e Itatiaiuçu). Itaúna, como município surgiria apenas 60 anos depois.  Portanto, pelo menos há 178 anos acontece nessas barrancas a festividade da Senhora Sant’ana.

            Contudo, a devoção à Mãe de Nossa Senhora é bem mais antiga nestas terras. A veneranda imagem de Sant’ana, entalhada em cedro e com douramentos barrocos, que se encontra hoje no púlpito da Igreja Matriz de Sant’ana, aqui chegou no longínquo ano de 1735; o que nos reporta a uma antiguidade de 284 anos.     Falemos um pouco sobre essa velha judia, Sant’ana, que se tornou oficialmente a Padroeira de Itaúna, através de uma Bula do Papa, Santo João XXIII, no ano de 1961. Estas importantes Letras (documento da Sé Apostólica) encontram-se afixadas na sacristia da Matriz de Sant’ana, em latim, com uma transcrição em português logo abaixo. Em festas anteriores, quando fomos seu Coordenador Geral, a fazíamos levar na Solene Procissão de Sant’ana, pelas ruas de nossa cidade, conduzida por figuras de anjos.

            SANTA ANA OU SANT’ANA (do latim Anna, por sua vez do hebraico transliterado Hannah, “Graça”) foi mãe de Maria, avó materna de Jesus Cristo. Os dados biográficos que sabemos sobre os pais de Nossa Senhora foram legados pelo Proto-Evangelho de Tiago (um dos chamados Evangelhos Apócrifos)  obra citada em diversos estudos dos padres da Igreja Oriental, como Epifânio e Gregório de Nissa.

            Sant’Ana, pertencia à família do sacerdote Aarão e seu marido, São Joaquim, pertencia à família real de Davi.  Seu marido, São Joaquim, homem pio fora censurado pelo sacerdote Rúben por não ter filhos. Mas Sant’Ana já era idosa e estéril. Confiando no poder divino, São Joaquim retirou-se ao deserto para rezar e fazer penitência. Ali um anjo do Senhor lhe apareceu, dizendo que Deus havia ouvido suas preces. Tendo voltado ao lar, algum tempo depois Sant’Ana ficou grávida. A paciência e a resignação com que sofriam a esterilidade levaram-lhes ao prêmio de ter por filha aquela que havia de ser a Mãe de Jesus.

            Eram residentes em Jerusalém, ao lado da piscina de Betesaida, onde hoje se ergue a Basílica de Santana; e aí, num sábado, 8 de setembro do ano 20 a.C., nasceu-lhes uma filha que recebeu o nome de Miriam, que em hebraico significa “Senhora da Luz”, passado para o latim como Maria. Maria foi oferecida ao Templo de Jerusalém aos três anos, tendo lá permanecido até os doze anos.

            A devoção aos pais de Nossa Senhora é muito antiga no Oriente, onde foram cultuados desde os primeiros séculos de nossa era, atingindo sua plenitude no século VI. Já no Ocidente, o culto de Santana remonta ao século VIII, quando, no ano de 710, suas relíquias foram levadas da Terra Santa para Constantinopla, donde foram distribuídas para muitas igrejas do ocidente, estando a maior delas na igreja de Sant’Ana, em Düren, Renânia, Alemanha.

            Seu culto foi tornando-se muito popular na Idade Média, especialmente na Alemanha. Em 1378, o Papa Urbano IV oficializou seu culto. Em 1584, o Papa Gregório XIII fixou a data da festa de Sant’Ana em 26 de Julho, e o Papa Leão XIII a estendeu para toda a Igreja, em 1879.Em França, o culto da Mãe de Maria Santíssima teve um impulso extraordinário depois das aparições da santa em Auray, em 1623.

            Tendo sido São Joaquim comemorado, inicialmente, em dia diverso ao de Sant’Ana, o Papa Paulo VI associou num único dia, 26 de julho, a celebração dos pais de Maria, mãe de Jesus.

            Assim sendo, no dia 26 de Julho comemora-se também o Dia dos Avós.

            Em nossa cidade de Itaúna, Sant’ana ocupa um lugar de grande honra e destaque. Afinal, “foi Sant’Ana de São João Acima /desta forma criada em Gerais”. Nosso gentílico primitivo era santanense; ou seja, aquele nascido em Sant’ana do Rio São João Acima. Lá nos preâmbulos de nossa colonização, nos albores do séc. XVIII, éramos a Paragem do São João – um lugar de pousio dos tropeiros que vagavam pelas minas. Após a construção da Capela de Sant’ana ( hoje conhecida como Igreja do Rosário) em 1765 ganhamos a nova denominação de Povoação Nova de Sant’ana do Rio São João Acima, dada pelo Bispo de Mariana, diocese a qual estávamos inseridos naquele tempo.

            A Paróquia Sant’ana foi criada a 07 de abril de 1841. A cidade de Itaúna veio somente 60 anos depois, em 16 de setembro de 1901. ITAÚNA nasceu à sombra da Capela de Sant’ana. ITAÚNA é filha da Paróquia Sant’ana!

            NESTE ANO DA GRAÇA DE 2022, a Paróquia Sant’ana de Itaúna novamente movimenta-se para honrar sua Padroeira. Uma equipe diretamente envolvida de aproximadamente mil pessoas; espalhadas pelos mais variados servidos litúrgicos, pastorais e da parte social e recreativa das festividades.

            Nosso revmo. Pároco, Pe. Everaldo Quirino demonstra mais uma vez todo o seu zelo pastoral, dedicação evangélica e acuidade e profícuo trabalho na organização e condução desta grande solenidade. Verdadeiro pastor que guiam o rebanho de Cristo para a Itaúna do alto…nossa Jerusalém Celeste!

            Os santos são a Glória de Deus. Porém, como católicos professamos publicamente a Fé em JESUS CRISTO, nosso único Senhor e Redentor da Humanidade. A santidade dos santos, provém de Deus. Da Santíssima Trindade. Os santos são modelos de homens e mulheres que viveram a Palavra e amaram ao Senhor com suas Vidas!

            Para os católicos, após as Festividades da Páscoa e do Natal; a maior das solenidades é a de seu padroeiro. O novenário é um verdadeiro kairós, ou seja, um tempo forte e propício à oração e a escuta vivaz da Palavra de Deus. É dever e grave do povo católico conhecer bem a Doutrina da Igreja; assim como buscar vive-la e com alegria em seu dia a dia, uma vez que toda ela provém da Sagrada Escritura.

            Terminamos com o convite do Papa Francisco: “Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de o procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito, já que «da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído». Quem arrisca, o Senhor não o desilude; e, quando alguém dá um pequeno passo em direção a Jesus, descobre que Ele já aguardava de braços abertos a sua chegada. “

            E seguimos a Vida nessas barrancas, cantando sempre alegres: “sem perder de Sant’ana bondosa, a certeira e fiel proteção…”

*Bacharel em Direito / Licenciado em História pela UNIVERSIDADE DE ITAÚNA

  Historiador/ Escritor/ Membro Fundador da ACADEMIA ITAUNENSE DE LETRAS/

Autor de “Crônicas Barranqueiras” e coautor de “Essências”, “Olhares Múltiplos” e

 “O que a vida quer da gente é coragem”/

Cidadão Honorário de Itaúna

1 COMENTÁRIO

  1. Parabéns Professor Luiz Mascarenhas. Sempre bom ler suas histórias sobre nossa querida ITAÚNA. Que Deus e Nossa Senhora te ilumine sempre para nos alegrar com seus contos tao instrutivo para o nosso conhecimento. Um forte abraço de Ze dos Santos.

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