Sete perguntas para a Dra. Marília Gabriela, Delegada de Polícia em Itaúna

“O combate à violência doméstica e familiar contra a mulher perpassa pela interlocução de diversos atores sociais, dentre eles a Polícia Civil”

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A nova delegada da Polícia Civil em Itaúna, Dra. Marília Gabriela Melgaço Barbosa de Melo Wenceslau, é natural de Pará de Minas, cidade onde fez faculdade e se formou em Direito em 2012, aos 22 anos. Ela advogou por um período e, posteriormente, iniciou os estudos para concurso público, tendo sido aprovada em 2018 para o cargo de Delegada de Polícia. A primeira lotação do novo cargo foi no Triângulo Mineiro, na cidade de Patrocínio, local em que trabalhou por mais de quatro anos, respondendo pelas Delegacia de Homicídios, Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e Proteção e Orientação a Adolescentes infratores.  Lá também se casou e teve o primeiro filho, Álvaro, que fará dois anos em janeiro próximo.

1.    Como a senhora chegou a Itaúna? Como funcionam essas transferências e por que Itaúna?

Como disse, sou natural de Pará de Minas e minha família mora em Pequi, aproximadamente a 50 km de Itaúna. Já há algum tempo, tinha interesse em retornar para região, para ficar mais próxima de minha família. Em razão disso, me inscrevi no Edital de Remoção, que é a principal forma de “transferência” que existe na Polícia Civil e consiste na abertura de vagas nas unidades, após estudos realizados pela Chefia da Polícia Civil.  Minha escolha se deu em razão de ser uma cidade que já conhecia e muito próxima da minha terra Natal.

2.    Qual é a sua expectativa sobre a cidade? Já tinha ouvido falar de Itaúna, mais especificamente do trabalho da Polícia Civil desenvolvido aqui?

Minha expectativa é a melhor possível; tive referências muito positivas de toda a equipe com quem irei trabalhar e da cidade em si, a qual é muito elogiada pelos moradores locais. Como disse, já conhecia a cidade, cujos índices de criminalidade, atualmente, mostram-se controlados. O último feminicídio, por exemplo, ocorreu há quase dois anos e as demais formas de violência, não extrapolam as estatísticas nacionais. Especificamente quanto à minha área de atuação, será muito parecida com a que eu já trabalhava e estou familiarizada. Diante disso, pretendo dar continuidade ao excelente trabalho que já vinha sendo desenvolvido pela Polícia Civil, mantendo os baixos índices de crimes violentos, sobretudo de feminicídio, que é sempre nosso objetivo, evitá-lo ao máximo.

3.    O trabalho no combate à violência contra a mulher e a família tem sido intenso ainda que haja progresso e resultados positivos através das lutas das mulheres e das políticas públicas, que inclui a ação da Polícia. Fale um pouco disso.

O combate à violência doméstica e familiar contra a mulher perpassa pela interlocução de diversos atores sociais, dentre eles a Polícia Civil, como você disse. Isso porque, a violência de gênero é um problema social, reflexo da desigualdade de gênero, oriunda de uma sociedade patriarcal e machista, que ainda vê a mulher como objeto ou propriedade do homem. Diante disso, o combate deve ser, e cada vez mais tem sido feito, na base, por meio da educação, conscientização e medidas preventivas.

No âmbito da segurança pública, entendo que nosso papel, para além do investigativo, ocorrido depois que o crime já aconteceu, também deve ser de conscientização, por meio de ações sociais que levem ao conhecimento de todos as diversas modalidades de violência a que as mulheres são submetidas, visto  que muitas vezes elas são levadas a acreditar que se não há agressão física, não estão sofrendo abusos. Dessa forma, explicar a existência e em que consiste a violência psicológica, a violência moral, violência patrimonial e sexual é de suma importância para que elas tomem consciência de que estão sendo violentadas e procurem ajuda.

De igual modo, as formas de acionar as autoridades também devem ser acessíveis. Atualmente, a Delegacia virtual e o “Chame a Frida”, são importantes ferramentas colocadas à disposição das mulheres vítimas que, muitas vezes, não conseguem se deslocar até a Delegacia naquele momento.

Aqui em Itaúna, o “Chame a Frida”, funciona por Qrcode e pelo número de telefone (31) 9370-0990, por meio do qual uma Atendente Virtual é acionada e presta um primeiro atendimento, proporcionando orientação, apoio e acolhimento à mulher vítima. Após esta conversa inicial, as servidoras capacitadas da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher dão continuidade ao atendimento, analisando a necessidade de comparecimento pessoal na unidade e demais informações relevantes.

Deste modo, aproveito a oportunidade para solicitar a divulgação desta importante ferramenta no combate à violência doméstica e familiar contra a mulher na nossa cidade.

4.    As dificuldades, ainda, em atuar num ambiente dominado por homens, constituem empecilhos para o trabalho da Delegacia da Mulher? Ainda existem barreiras para a atuação dessas profissionais?

Apesar da notável evolução e de que nós, mulheres, temos cada vez mais ocupado espaços de poder, ainda existem dificuldades e somos minoria na Instituição, sobretudo nos cargos de Chefia. Contudo, apresentando bons resultados, temos conseguido transpor essas barreiras. Além disso, o fato de que, atualmente, a direção máxima da Polícia Civil está sendo exercida por uma mulher, a Chefe de Polícia Dra. Letícia Gamboge, nos inspira e contribui sobremaneira para alcançarmos a tão sonhada igualdade.

5.    Como a sra. foi recebida na PC em Itaúna?

Fui muito bem recebida, tanto pelos colegas de trabalho como pela população civil. Já conheci diversos atores sociais importantes da comunidade local e, principalmente, mulheres atuantes no combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, com quem pretendo estreitar laços e dar continuidade à causa.

6. A sra. chega à cidade num momento em que a PC está planejando a mudança da Delegacia para o prédio do Fórum, na mesma Praça Dr. Augusto Gonçalves. Também a cidade está discutindo novas ações para a segurança pública e um novo presídio está sendo construído. Qual é a opinião da senhora sobre esses eventos diretamente ligados ao trabalho da PC e à segurança pública?

Instalações adequadas impactam diretamente na qualidade do trabalho. Não tenho dúvidas de que esta mudança de sede irá proporcionar mais conforto aos servidores e um atendimento de excelência à população. O fato de o novo endereço situar-se próximo ao atual, local de fácil acesso à população, também são pontos positivos que devem ser ressaltados. As demais ações, como a construção do novo presídio, com certeza, irão contribuir para a segurança pública local.

7.    Além do seu trabalho na Polícia Civil, quais são as ocupações da senhora no dia a dia?

Atualmente, a Polícia Civil e minha função de mãe têm ocupado todo meu tempo, mas pretendo iniciar uma nova pós-graduação, em breve.