A última semana foi marcada pelas campanhas da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, acompanhando as diversas atividades que acontecem na cidade, o Jornal S’PASSO entrevistou Geórgia Stefânia Duarte Chaves Mendonça, superintendente da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE de Itaúna e coordenadora estadual da Família na Feapaes/MG.
Geórgia é itaunense, fisioterapeuta, mãe do André Luiz e João Emmanuel. André tem deficiência múltipla e, em 2009, a família procurou a APAE de Itaúna em busca de tratamento. Desde então, Geórgia se identificou com os propósitos da instituição e tornou-se militante na causa da pessoa com deficiência.
Ela foi vice-presidente da APAE de Itaúna, presidente voluntária em dois mandatos, consultora técnica da regional das APAEs Centro-Oeste e conselheira regional. Atualmente é 1ª diretora-secretária da Federação das APAEs de Minas Gerais.
- Conte um pouco da história da APAE de Itaúna.
A APAE de Itaúna, Instituto Santa Mônica, foi fundada há 50 anos pela Dona Celina, mãe do Marcelo, portador de Síndrome de Down. Atualmente, o presidente é Alex Júnio da Silva, pai de Alex, também aluno da escola especial da APAE. A diretoria da Instituição é composta pelos associados que são mães e pais de pessoas com deficiência atendidas.
A APAE de Itaúna é classificada como uma APAE de grande porte e atua em três eixos, que são: Educação, Assistência Social e Saúde. Um importante Programa da APAE é a Escola de Famílias, um projeto de formação voltada para a preparação e capacitação das famílias, abordando diversos temas, desde os ligados à história do movimento apaeano e gestão das APAEs, a temas que tratam do conceito da deficiência intelectual e da Relação da família com a deficiência.
- Quantos são os atendidos pela APAE de Itaúna? De que forma a instituição avalia as situações para o atendimento?
Atualmente a APAE de Itaúna atende aproximadamente 430 usuários e suas famílias. Somos filiados à Federação das APAEs e seguimos uma política de atenção integral e integrada à pessoa com deficiência com um público alvo definido que é a pessoa com deficiência intelectual e/ou múltipla e autista.
A porta de entrada da Instituição, desde o ano passado, passou a ser determinada pela junta reguladora do município e, para entrar e receber os atendimentos, a pessoa deve passar por uma avaliação multidimensional com equipe multiprofissional e essa equipe atua de acordo com o modelo biopsicossocial da deficiência. Quando a pessoa é diagnosticada com deficiência intelectual e/ou autismo é indicado o apoio ou atendimento na APAE.
Nem sempre há vagas porque a APAE tem capacidade instalada de atendimento e com o crescimento da demanda, a instituição infelizmente não está conseguindo atender todos que têm a indicação.
- De que forma a instituição sobrevive?
A APAE é uma instituição do terceiro setor, ou seja, é uma empresa de iniciativa privada com finalidade pública e atua nas lacunas do poder público, sendo uma importante parceira do município. Por lei, é de responsabilidade do poder público garantir os direitos dos atendimentos das pessoas com deficiência. A sustentabilidade financeira da instituição se dá através de parceria com o poder público e doações da comunidade.
- Como está a situação de trabalho da APAE nos dias de hoje? O que mudou nesses tempos de pandemia?
Com a pandemia, os profissionais tiveram que se reinventar, readequar a forma de trabalhar através de teleatendimentos e aulas remotas. Foi criado um Comitê Covid na instituição com o objetivo de nortear as ações de forma segura. De forma gradual, os atendimentos presenciais do Centro Dia e da Educação estão retornando e a área da saúde manteve os atendimentos presenciais e teleatendimentos durante a Pandemia.
- Vamos falar da Semana da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla. Já estamos no final da programação. O que aconteceu durante esses dias para celebrar a data?
Falar sobre a Semana da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla é um prazer muito grande, principalmente para nós que estamos dentro dos movimentos das APAEs. E é muito bonito ver as APAEs se mobilizando para mostrar seu trabalho, para dar visibilidade às pessoas com deficiência.
Essa luta pela inclusão, processo que a gente vem vivenciando há algum tempo, nos faz lembrar de antigamente, de como as pessoas com deficiência eram excluídas. As pessoas tinham vergonha, a sociedade não aceitava e hoje a gente vê um grande movimento de inclusão e, por mais que a gente saiba que ainda existe preconceito, nós já caminhamos muito. As pessoas já estão aprendendo mais sobre a importância de lidar com as diferenças.
Cada um tem a forma de ser e de estar no mundo. Então, hoje a gente tem um jeito de encarar a deficiência de uma outra forma. A deficiência não está na pessoa, está na sociedade que não é inclusiva. As barreiras atitudinais, as barreiras arquitetônicas, tudo que impede essa pessoa de estar no meio social e de conviver.
É o ambiente que é deficiente, não as pessoas. As pessoas são como são. Ver as APAEs se mobilizando nesse sentido é muito bonito e emocionante mesmo.
- Para esse ano foi escolhido um tema destinado a direcionar as atividades?
Esse ano o tema é: “É tempo de transformar conhecimento em ação”. A nossa legislação é muito boa e contempla muito bem os direitos da pessoa com deficiência. O que acontece é que muitas vezes a pessoa não tem acesso a esse direito, por isso é que a gente traz esse tema para ser debatido.
A nossa programação da APAE de Itaúna começou no sábado, dia 21, quando lançamos um vídeo de abertura pelo canal do You Tube. Convidamos as pessoas a se inscreverem no canal da APAE e acompanhar nossas atividades, assistirem aos vídeos que foram lançados ao longo da semana, às lives, aos fóruns.
Chamamos atenção para o debate em torno da questão do mercado de trabalho para a pessoa com deficiência e também a arte como forma de inclusão. É importante darmos protagonismo para a pessoa com deficiência. Hoje, sábado, haverá a carreata da inclusão, que sairá da nova sede da Prefeitura, às 9 horas.
- Para finalizar, gostaria que você comentasse a fala recente do ministro da Educação, Milton Ribeiro, de que o aluno com deficiência atrapalha as salas de aulas das escolas regulares.
A fala do ministro da educação teve grande repercussão. Ele foi extremamente infeliz e demonstrou enorme despreparo para o cargo, principalmente pelos termos que utilizou e a forma como se expressou. Desrespeitosa com as pessoas com deficiência, com as famílias dessas pessoas, com as pessoas que acreditam na inclusão e que lutam por ela.
A inclusão é um direito adquirido e não podemos retroceder em relação a isso. Um ponto muito positivo para as pessoas com deficiência e a família é que essas pessoas tenham direito de escolha. Eu não acredito em posicionamentos radicais, sempre defendi e vou continuar defendendo as escolas especiais, mas essas escolas são para um público específico, que são pessoas com deficiência grave, que necessitam de apoios extensivos e generalizados.
Posso citar o meu filho como exemplo. O André tem deficiência múltipla. Ele sempre estudou na escola da APAE. Eu e meu marido acreditamos que é o melhor para ele, que tem tido benefícios na escola especial, onde existem professores capacitados, bem preparados e um ambiente propício. Agora, existem crianças que terão mais benefícios na escola comum e elas têm todo o direito de estar lá e receberem o apoio necessário para de fato serem incluídas.
Penso que precisamos caminhar para frente, sem visões radicais, sem forçar demais os processos e entender também o espaço da escola especial, que é importante, voltado para um público mais específico. Devemos preservar isso e o direito de escolha também.