Sete perguntas para o médico e secretário de Saúde, Fernando Meira

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Fernando Meira de Faria, 37 é médico formado pela UFMG em 2007 com residência médica em Radiologia e Diagnóstico por Imagem pelo HC-UFMG. É radiologista concursado pela Prefeitura de Itaúna desde 2013 e atua também como médico radiologista no Hospital Manoel Gonçalves. Assumiu a gestão da saúde do município em janeiro de 2017, emprestando à administração seus conhecimentos como pós-graduado em Auditoria em Saúde (Faculdade Ciências Médicas), MBA em Gestão Executiva da Saúde (FGV) e pós-graduado em Gestão Pública (UEMG).

  1. Estar à frente da Secretaria de Saúde em plena pandemia de Covid-19 era algo que você jamais imaginava, certo? Aliás, em algum momento de sua breve carreira como médico, por causa de sua pouca idade, você havia pensado em ser secretário de saúde de uma cidade com o Itaúna?

Certamente nenhum de nós estava preparado para enfrentar uma situação tão dramática igual a pandemia pelo novo Coronavírus. E, justamente, enquanto gestor da saúde do município, um momento como esse, de fato, não estava nos planos.

Durante minha formação acadêmica e principalmente após a residência médica, procurei adquirir conhecimentos relacionados à área de gestão, pela afinidade com a área e pela vontade de tentar fazer diferente, caso aparecesse alguma oportunidade. E essa oportunidade veio com o convite feito pelo prefeito Neider Moreira, a quem agradeço eternamente.

  1. Após tudo isso passar, ao fim da pandemia da Covid-19, quais serão os resultados adquiridos? O seu trabalho como médico e gestor tomará rumos diferentes?

Os sistemas de saúde foram colocados à prova em todo o mundo com a pandemia pela COVID-19 e aqui no Brasil não foi diferente. Profissionais de saúde trabalharam até a exaustão, em condições muitas vezes precárias, para promover um bom nível de assistência aos pacientes, tratando uma doença até então desconhecida. Porém, vimos que, com financiamento adequado, conseguimos melhorar a estrutura de hospitais, ampliar leitos de terapia intensiva e de enfermaria, criar unidades de saúde e aumentar a capacidade de realização de exames de imagem e laboratoriais. Além disso, percebemos investimentos no fortalecimento da atenção primária, assim como a necessidade de informatização de toda a jornada do paciente no sistema de saúde. Temas como telessaúde e telemedicina deixaram de ser tabus e começaram a ser tangíveis à boa parte da sociedade. Estamos vivenciando a transformação digital na área da saúde, mas ao mesmo tempo, vimos a importância de hábitos saudáveis para a prevenção de doenças crônicas e de cuidados básicos de higiene, como lavar e higienizar as mãos.

  1. Ainda com relação a sua atividade à frente da Secretaria, nesse momento de grandes problemas, quais são os principais desafios? O secretário de saúde é um cargo técnico e, ao mesmo tempo, lida o tempo todo com a política. Como você se organiza nesse meio?

Nesse momento, o desafio mais urgente é planejar com eficiência e rapidez, dentro do que é possível, a imunização do restante dos itaunenses, para que consigamos superar essa fase de pandemia da doença, e ela comece a se transformar numa endemia controlada. Ao mesmo tempo, e não menos importante, iniciar o planejamento do período pós-COVID, que terá demandas extremamente importantes, como retorno da realização de cirurgias eletivas e exames complementares, além do controle de agravos crônicos do tipo hipertensão e diabetes mellitus, com suas complicações. Igualmente desafiador será a costura política a ser trabalhada nas três esferas, para que parte da estrutura hospitalar credenciada e habilitada com a pandemia fique como legado à cidade, como por exemplo, pelo menos mais dez leitos de CTI na Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Souza Moreira, além daqueles dez leitos originais. Como agente político, o secretário de saúde tem que entender as nuances da esfera política, procurar sempre ter um bom relacionamento com todos e tentar atender as necessidades da comunidade e de seus representantes, dentro da legalidade.

  1. Em mais de um ano de pandemia e sete meses em que foi aplicada a primeira vacina em Itaúna, que avaliação você faz desse trabalho de imunização no município? Itaúna, bem como todo o país, poderia estar em melhor situação, se houvesse uma política de imunização mais organizada? Acerca do chamado tratamento precoce contra a Covid-19, depois de muita polêmica, o Ministério da Saúde desaconselha o uso do “kit Covid” dada a sua ineficácia. Entretanto, muitas pessoas, inclusive em Itaúna, ainda propagam esses medicamentos. Qual é o seu posicionamento?

Acredito que perdemos tempo precioso na aquisição de imunizantes de diversas marcas, os quais poderiam ter sido aplicados na população ainda no final do ano passado, potencialmente diminuindo essa triste marca de mais de 545 mil óbitos no país. Somente agora nos últimos dias estamos recebendo um quantitativo de vacinas que nos permite dar um ritmo adequado à vacinação. As constantes mudanças realizadas no Ministério da Saúde enfraqueceram a organização do Programa Nacional de Imunização e por consequência a logística e operacionalização da distribuição das vacinas.

Com relação ao dito “tratamento precoce” ou “tratamento imediato”, é um tema que foi excessivamente politizado, prejudicando o enfrentamento à pandemia. O Conselho Federal de Medicina deu a liberdade aos médicos de tratarem a doença com um rol de remédios que não foram referendados pelas principais Sociedades Médicas e Organizações de Saúde. Aqui no município atuamos de forma não restritiva, oferecendo os medicamentos na Farmácia Básica, porém não obrigando os médicos da atenção primária e secundária a adotarem esse ou aquele tratamento.

  1. Em matéria jornalística publicada recentemente, técnicos da OMS avaliaram que a situação com relação à Covid ainda é muito grave e que as pessoas precisam compreender que somente a vacinação não é suficiente para que a normalidade seja restabelecida. Qual é o recado que o secretário de Saúde de Itaúna daria à população nesse momento? 

Temos que compreender a pandemia ainda não terminou, pelo contrário, apesar da queda do número de óbitos e das taxas ocupação de leitos hospitalares, os cuidados de higiene pessoal, uso de máscaras e distanciamento social devem permanecer, até que toda a população esteja devidamente vacinada. Mais do que isso, a ameaça da COVID-19 continuará até que todos os países tenham controle sobre a doença. As novas mutações do vírus, a proliferação de aglomerações, o uso errado das medidas sociais e a desigualdade no acesso às vacinas são fatores que contribuem para a continuação da pandemia.

  1. Você esteve recentemente na Câmara Municipal para esclarecer a atuação da Secretaria de Saúde no combate ao coronavírus e referente a aplicação de recursos públicos no Hospital Manoel Gonçalves. Alguns edis continuam insistindo que a Prefeitura fez pouco para socorrer essa instituição de saúde, limitando-se a repassar recursos financeiros de outros órgãos. Como você esclarece isso? Faltou entendimento dos edis ou os esclarecimentos por parte de sua pasta é que não foram bem conduzidos? A parceria entre o município e o Hospital Manoel Gonçalves vai além da destinação de dinheiro público?

Reconheço que pode ser polêmico e eventualmente controverso a análise da aplicação dos recursos recebidos pelo município vindo dos governos federal e estadual para o combate à pandemia, porém isso se deve possivelmente ao desconhecimento das diversas portarias e normativas técnicas que regulamentam cada um dos recursos repassados. Conforme foi evidenciado na apresentação realizada no plenário da Câmara Municipal, boa parte dos recursos tem destinação específica, não podendo ser destinados ao Hospital. Outro ponto a ser destacado é que o município tem mais de duas dezenas de unidades básicas de saúde, Farmácia Básica, CAPS II, CAPS AD, CEMO Dr. Ovídio Nogueira Machado, então os recursos têm que ser muito bem distribuídos para que não haja prejuízo das atividades.

Sem dúvida nenhuma, a parceria do município com o Hospital Manoel Gonçalves ultrapassa muito a destinação de recursos financeiros. Nunca a Prefeitura Municipal e a Secretaria de Saúde foram tão próximos da Casa de Caridade. O Hospital é o maior equipamento de saúde da região e precisa receber todo o tipo de apoio, seja através do repasse rápido dos recursos federais e estaduais recebidos, como no pagamento em dia dos valores contratualizados com o município, mas também na busca de novos credenciamentos de serviços especializados (ex: Centro Oncológico), assim como a pactuação de novos serviços (ex: Rede Resposta em Neurologia), que agregam incentivos financeiros permanentes para a instituição. Nesse ínterim, o novo bloco do Hospital que deverá ser inaugurado em breve, necessitará também de uma intensa articulação nas esferas estadual e federal para que seja autorizado e colocado em funcionamento o mais breve possível os diversos e necessários serviços previstos no novo bloco.

  1. Ainda assim, apesar dessas críticas de alguns vereadores da oposição, seu nome tem sido bastante elogiado no meio político, inclusive no legislativo. O presidente da Câmara, Alexandre Campos fez referência a você como um estadista e disse outro dia que você é um forte candidato à sucessão de Neider Moreira. Qual é o seu pensamento acerca disso? Passa por sua cabeça enveredar na carreira política também?

Agradeço todas as menções elogiosas vindas de diversas pessoas do meio político, porém ainda estamos no primeiro ano do segundo mandato do prefeito Neider Moreira. Temos muito tempo até as próximas eleições municipais, muito trabalho a ser executado. O grupo político do prefeito certamente saberá fazer a sua escolha no momento oportuno. Agora, estamos focados e concentrados no trabalho dentro da Secretaria Municipal de Saúde. Aproveito para também descartar rumores sobre eventual candidatura ao Legislativo estadual no ano que vem.

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