Teatro nas escolas com patrocínio da Arcelor Mittal vai continuar, garantem responsáveis pelo Diversão Em Cena

Professor diz que as pessoas têm que “visitar as escolas, sentar com a direção e com os professores para parar de falar besteira”

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A denúncia feita pelo vereador Kaio Guimarães (PSC) de que uma peça teatral levada às escolas municipais na semana passada colocava em risco valores morais que devem pautar o ensino-aprendizagem direcionado a crianças e adolescentes, ainda continua tendo repercussão. O próprio vereador – ao lado de outros colegas do grupo de “conservadores de direita” – tem esticado o assunto, enfatizando que estão protegendo a infância contra elementos estranhos à sua educação. A adaptação do clássico infantil “Chapeuzinho Vermelho” é o espetáculo em questão, de responsabilidade do programa “Diversão em Cena”, que teria sido questionado por alguns pais de alunos da Escola Municipal Artur Contagem Vilaça, no bairro Cidade Nova.

O vereador afirmou que irá protocolar na Câmara, juntamente com outros colegas, um projeto de lei que estabelece critérios prévios para apresentação de espetáculos e outros eventos nas escolas infantis. Para muitos, o “filtro” sugerido pelo vereador é uma censura, bem ao estilo de outros políticos e mandatários que seguem a orientação “Deus, pátria, família”, defendida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Professor recebe tudo pronto para suas aulas

Em vídeo que circula nas redes sociais, o professor de História e ex-diretor de uma escola da rede estadual, Luiz Mascarenhas, mostrou como é o funcionamento de uma instituição de ensino, onde os conteúdos das aulas – em todas as grades curriculares – são definidos pelos órgãos superiores, no seu caso, a Secretaria de Estado da Educação.

O professor, explicou o autor do vídeo, tem pouca autonomia de decidir conteúdos e está longe de “doutrinar” mentes de alunos. Esses conteúdos de aulas são fiscalizados pelas analistas da Superintendência Regional de Ensino, em Divinópolis, e pela equipe pedagógica da instituição.

“As pessoas têm que conhecer para falar, visitar as escolas, sentar com a direção, com os professores. E parar de falar besteira. O professor não inventa nada. Está no plano de curso. Tem teatro? Sim. Faz parte das aulas de Arte, por exemplo, que pode estar combinada com outros conteúdos também.

O que eu soube em Itaúna na semana passada é que houve um teatro, levado nas escolas do município, não do estado, foi oferecida à Secretaria Municipal de Educação. Quem estava financiando essa peça? A ArcelorMittal, uma grande empresa que trabalha com o fomento à cultura. Arte faz parte da vida, é preciso esclarecer as ideias, abrir a cabecinha para não criar monstros e fantasmas onde eles não existem. Resumindo, a educação, ela própria, tem leis, tem regulamentos. Faz ela própria a fiscalização do que o professor está fazendo em sala de aula. Por favor, respeitem o professor. Parem de colocar as famílias contra as escolas, contra os professores. É preciso valorizar o professor. Onde nós estamos? Agora vai ter alguém para fiscalizar o professor? Que coisa mais ridícula. Envenenando as escolas. Poucos pais participam das reuniões nas escolas alegando que não têm tempo. A escola sempre esteve aberta para a comunidade, para a família”, enfatizou.

“Lamentamos o desconforto, mas o programa vai continuar”

A coordenação do programa Diversão em Cena afirmou que as atividades desenvolvidas constituem na promoção de acesso e formação de público para o teatro infantil em mais de 60 cidades de todo o Brasil. Mais de um milhão de pessoas já viram os espetáculos. “Lamentamos o desconforto sentido e estamos buscando entender com todas as partes o ocorrido, para que possamos continuar levando teatro de qualidade a cidades nas quais estamos presentes, como temos feito há 13 anos”, salientou.

O Jornal S’PASSO perguntou se o episódio pode significar o cancelamento do programa em Itaúna e a resposta foi negativa. Até mesmo o patrocínio da empresa ArcelorMittal vai continuar em razão do enorme sucesso das atividades em todos os municípios em que atua e de sua importância para o fomento da cultura, da arte e da formação de público.

Vereador é o mesmo que usou  icarro oficial da Câmara e foi obrigado a assinar TAC com o Ministério Público

O vereador Kaio Guimarães (PSC), que se arvora em defensor das crianças e assume para si a proteção da “infância ameaçada”, é o mesmo que foi condenado por uso indevido de carro oficial da Câmara no ano passado. Por causa disso, ele teve que assinar junto ao Ministério Público um Temo de Ajuste de Conduta, que o obriga a custear as despesas com a viagem no carro do Legislativo a Belo Horizonte, em maio de 2022.

Kaio Guimarães, juntamente com os colegas Ener Batista (União Brasil) e Gustavo Dornas (Patriota), e o então assessor parlamentar do primeiro, Gabriel Costa, usaram o veículo para um evento na capital, de recepção ao então presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), à época candidato à reeleição.

Nesse dia, 26 de maio, também acontecera a posse da nova diretoria da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg).  “Um evento sem nenhum caráter político-partidário”, justificaram. Depois disso, soube-se que o veículo oficial teria ido a Belo Horizonte no evento de apoio à campanha de reeleição do Bolsonaro, inclusive participando da “motociata” improvisada, seguida por inúmeros veículos de passeio.

O Jornal S’PASSO teve acesso a documentos de  requisição de veículo da Câmara Municipal assinado pelo parlamentar Kaio Guimarães no dia 25 de maio de 2022, inclusive com solicitação de diária no valor de R$ 235,28. O próprio pedido de liberação de veículo desmente a fala dos vereadores em plenário e não menciona posse da diretoria da Fiemg, ocorrida nesse mesmo dia, mas sim recepção ao “Excelentíssimo Sr. Presidente da República Jair Messias Bolsonaro, para discutir benefícios à cidade de Itaúna”.

‘Motociata’ do Jair

O relatório de viagem demonstra que o veículo saiu de Itaúna por volta das 13 horas e retornou às 2h da madrugada do dia 27, sendo que a previsão de retorno era 20h. Nesse tempo em que esteve em Belo Horizonte, o veículo da Câmara circulou por várias ruas e bairros, indo até ao aeroporto, para a recepção ao presidente. A imprensa da capital noticiou que após sair do aeroporto, Bolsonaro foi acompanhado rumo ao centro de Belo Horizonte por cerca de dois mil motociclistas e carros, passando por várias ruas da capital, as mesmas citadas no roteiro do veículo do legislativo itaunense. No documento de requisição do veículo, assinado por Kaio, o destino era rua Bagatelle, 204, bairro São Luís. Na verdade, a Praça Bagatelle, no Aeroporto da Pampulha. A posse da diretoria da Fiemg aconteceu no Minascentro, muito distante desse lugar.

Diária devolvida à Câmara

A diária concedida aos vereadores não foi utilizada, o vereador Kaio Guimarães a devolveu no dia posterior à viagem.