Novamente, parte da oposição na Câmara vem trazer a narrativa de que em Itaúna está sendo construída uma “indústria da multa” desde que foram implantados radares de controle de velocidade nas vias da cidade, em abril deste ano. Essa semana, por causa da fala de uma cidadã, na Câmara Municipal, contestando a existência de um radar nas proximidades do Hospital Manoel Gonçalves, os vereadores trouxeram o tema à pauta e o líder da oposição, Antônio de Miranda Silva (PSC), arriscou em cálculos matemáticos sobre o quanto a Prefeitura estaria “lucrando” com as multas.
O vereador tinha em mãos documentos de respostas ao seu pedido de informações feito à Gerência Superior de Trânsito e Transportes sobre números de multas aplicados, até então. Ali mesmo, ele fez suas análises matemáticas dizendo que foram aplicadas 5.958 multas, mas para sua conta ele iria arredondar os números para 5 mil e o valor médio de cada, R$ 130,00, passaria a ser considerado como R$ 100,00. Na conta final, o parlamentar disse que a Prefeitura arrecadou R$ 5 milhões provenientes de multas.
Na verdade, os números apresentados pelo vereador estão superfaturados já que R$ 100,00 x 5.000 resultam em R$ 500 mil e não R$ 5 milhões. Pelas redes sociais, o vereador não somente repetiu o absurdo como apresentou novos números, baseados nas informações de multas aplicadas e valores, pela Gerência de Trânsito. Toinzinho arredondou a quantidade de multa para 5.500 e multiplicou o valor cobrado de cada uma em R$ 130,00. Para ele, os valores arrecadados são de R$ 7,15 milhões e não R$ 715 mil, que são os reais da arrecadação. O vídeo do vereador tem circulado na cidade com muita zombaria e as falas e imagens apresentadas viraram piadas nas redes sociais.
Nem todas as multas são pagas, pelo menos agora
As informações trazidas pelo vereador – embora com valores superfaturados pela matemática errada – foram passadas pela Gerência de Trânsito e Transportes. Para Cíntia Valadares, nem todas as multas serão transformadas em dinheiro, já que muitas pessoas autuadas não as pagam imediatamente.
“Temos um total a receber, mas alguns valores são apenas teóricos, não correspondem ao pagamento real. E, além disso temos um número grande de recursos deferidos. Até março temos que publicar no Jornal Oficial todo o exercício de 2023 e ali esses números são bem definidos”, explicou.
“Temos um histórico enorme de acidentes, todas as nossas ações são para mitigar essa situação e dar segurança às pessoas”
Gerente superior de Trânsito e Transportes, Cíntia Valadares, responde as questões sobre atuação e contesta novamente a crítica da “indústria da multa”
As multas de trânsito e o funcionamento do serviço da Gerência Superior de Trânsito e Transportes foram os assuntos abordados pela reportagem do Jornal S’PASSO à Cíntia Valadares, em entrevista exclusiva. Ela recebeu o repórter no prédio do departamento, na avenida São João, no Centro.
Dificuldade para obedecer aos limites de velocidade
Todos os pontos sobre o trânsito esbarram na questão da velocidade. O cidadão itaunense tem uma dificuldade enorme de obedecer a velocidade média das vias. Não somente o que está posto na placa, como o semáforo vermelho, temos um histórico de acidentes muito grande. Todas as nossas ações, todas, são pautadas e fundamentadas na legislação pertinente. Temos agora uma legislação nacional que exige dos municípios um plano de ação, principalmente na redução do número de acidentes para zero. Se não tiver uma intervenção mais rigorosa do poder público, a gente não consegue alcançar esse índice. Então, criamos instrumentos e mecanismos para conter essa velocidade excessiva.
Todas as ações são respaldadas por uma equipe
Sim, todas as ações são respaldadas pelo prefeito e pelo secretário. Eu sou gerente, existe uma hierarquia e superiores. Não tomo nenhuma decisão sozinha. Temos uma equipe que contempla arquiteto e urbanista, engenheiro, além de estudiosos do trânsito. A minha formação me assegura a formular as propostas, mas a decisão é coletiva. Não são decisões isoladas, não pegamos um radar e colocamos numa via, aleatoriamente.
Radar próximo do Hospital
Temos histórico de acidentes nessas vias, como na porta do Hospital Manoel Gonçalves. De quem está saindo do hospital, quem está passando pela rua. Pessoas que atravessam a rua para pegar o ônibus, às vezes idosos, pessoas acidentadas e a velocidade ali precisa ser controlada. As ações visam a segurança das pessoas e são pensadas coletivamente. Toda vez que eu achar que estamos privilegiando um grupo, beneficiando determinada pessoa, provavelmente estarei tomando uma atitude errada. E essas ações precisam de prestação de contas. Então, é com muita segurança que eu falo que próximo ao Hospital Manoel Gonçalves, precisa de um instrumento mais rigoroso. Temos aqui números que apontam infrações de uma determinada pessoa várias vezes neste lugar. Velocidade muita acima do que é permitido. Isso é o que a gente tem que frear. E é claro, com recapeamento asfáltico da via e sinalização adequada. Em breve, vamos refazer a rotatória e a sinalização horizontal. E, à medida que o instrumento alcançar o objetivo de redução de velocidade, que é educativo, poderá ser realocado para outro local. Desta forma, vamos estudando maneiras de mitigar esses números de acidentes.
Tem lugar por exemplo que não cabe uma lombada ou uma faixa elevada. E tem lugar, por exemplo, que não cabe um radar. Esses estudos e a realocação de instrumentos são feitos gradativamente.
Indústria de multa
Desculpe-me a pessoa que pensa dessa forma, mas a maioria das pessoas que verbalizam isso não está acostumada a obedecer a legislação. Indústria da multa seria se fosse uma situação para todas as pessoas, mas a punição, a penalidade de pagar multa, é apenas para quem comete a inflação. Mesmo assim, aqui, na avenida São João, 3.260, é o local de apresentar os recursos. Se você se sente lesado de alguma forma, venha aqui e faça o protocolo com recurso. Todos os casos são avaliados individualmente. Todas as pessoas que entraram com recurso e provaram que no momento que foram autuadas entraram no hospital para um atendimento, para serem atendidas, funcionários ou pacientes, a gente considera cada caso. Esses, não pagaram as multas. Os casos diferentes em que há infração deliberada do limite de velocidade ali estabelecido é um desrespeito muito grande e um risco.
O dinheiro da multa muito bem aproveitado
A arrecadação com multas tem destino certo. Se alguém ainda não viu, passe a observar as ruas e verão que temos um plano de ação periódico e sistêmico para revitalização de toda a sinalização, vertical e horizontal. Temos um plano novo, inédito, de sinalização vertical na zona rural. Isto custa dinheiro. É com o dinheiro das multas que a gente faz isso. Temos que manter aqui os cavaletes, os cones, as pinturas, uma frota de atendimento que tenha o mínimo de condições de circular nas vias. Os veículos do Trânsito são novos, as placas são de excelente qualidade. Isso é mantido com o dinheiro público. Eu gostaria que as pessoas vissem isso antes de abrir a boca para falar de indústria da multa. Me desculpem, mas os que falam assim, só falam até a tragédia chegar na casa deles, um carro desgovernado que mata um familiar, uma batida… depois da tragédia essas pessoas nunca mais vão falar isso.
Todas as receitas e despesas são publicadas anualmente
A transparência de nossas ações é um dos princípios da administração pública. Até março de 2024 temos que publicar no Jornal Oficial todas as receitas e as despesas do Trânsito. De 2022 está publicado, de 2023 será publicada. Eu tenho e posso justificar cada centavo gasto. É muito bom poder falar isso, assim como é muito bom andar nas ruas bem asfaltadas, sinalizadas, é muito confortável. Isso custa dinheiro. Essa frase indústria da multa eu nem considero, principalmente num lugar em que em 17 meses tivemos 3.000 acidentes.
Faixas elevadas
Temos outro plano que queremos desenvolver até o próximo semestre que é de colocar faixas elevadas em alguns locais. Isso é caríssimo, mas dá conforto e segurança aos pedestres e diminui o número de acidentes. As pessoas precisam parar de ver as ações isoladamente. Poucos veem a revitalização da sinalização da cidade, mas tem milhares de visualizações numa letra que ficou errada numa placa. Somos humanos e erramos também.
As críticas incomodam?
Não sou de Itaúna, mas conheço essa cidade muito mais do que muita gente que nasceu aqui. Não é à toa que recebi o título de Cidadã Honorária. Minha capacidade técnica me dá a bagagem suficiente para tecnicamente opinar e tomar decisões, lembrando que essas decisões não são individuais, elas são coletivas; são tomadas por outros técnicos e superiores. Alguns não veem assim e acham que eu não tenho capacidade. Eu justifico cada centavo que recebo. Hoje, às 6h10 eu já estava aqui, vou continuar trabalhando até tarde. Tudo que a gente faz vai dar 100% de aprovação? Não.
Nova intervenção nas ruas Arnaldo Lima com Dona Neca
Um ponto que gostaria de destacar, aquele cruzamento das ruas Arnaldo Lima com Dona Neca, que está totalmente sinalizado, vertical e horizontalmente, e só esse mês tivemos cinco acidentes no local. O que acontece com esse pessoal? É uma esquina em que você tem total visibilidade e tem esse número grande de acidente. Teremos que fazer uma outra intervenção ali.