Chuvas e inundações em Itaúna viram palanque eleitoral na Câmara

Vereadores usam o assunto como pauta de campanha; secretários, defesa civil e empresa de engenharia são convocados para debaterem o problema das enchentes

0
603

Ainda continuam pela cidade as conversas sobre as chuvas torrenciais que caíram na cidade no final de outubro e início desse mês, sobretudo na terça-feira (31), que expuseram novamente os gargalos que há muito necessitam de ações políticas e administrativas sérias. Nas redes sociais o tema ainda é recorrente e na Câmara, na reunião desta semana, os vereadores elegeram o tema como assunto principal, diante da presença de um comerciante da Avenida Jove Soares, que usou o espaço destinado à participação popular para expor o problema e pedir solução urgente para a situação.

O vereador Gleison Fernandes (PSD) propôs a convocação dos secretários de Regulação Urbana, de Infraestrutura e Serviços, membros da Defesa Civil e representantes da empresa Projeta Engenharia, que fez o projeto para reconstrução do canal do Córrego do Sumidouro, a comparecerem na reunião da Câmara, na próxima semana, para debaterem o problema das inundações na Prainha. Outros vereadores pediram que no encontro com os agentes públicos sejam tratadas também as ocorrências de enchentes nas proximidades do Rio São João, Ribeirão dos Capotos e Córrego da Joanica, mais especificamente na Nova Vila Mozart, no Bairro Sion, na Avenida Manoel da Custódia, no pontilhão do Bairro Irmãos Auler, entre outros.

ViaSul ressuscitada e aprovação de empréstimos

Enquanto isso não acontece, os políticos, vereadores e pré-candidatos à Câmara e à Prefeitura, “nadam de braçada no mar de lama”, usando o problema das inundações na cidade – especialmente na Prainha – para conquistar algum dividendo eleitoral. Culpam o prefeito, os ex-prefeitos, São Pedro e se deploram por não terem “a caneta na mão para tomarem as decisões”.

Os vereadores contestam a fala do prefeito Neider Moreira (PSD), em entrevista ao Jornal S’PASSO, que explicou que as reações das mudanças climáticas estão provocando – e irão provocar ainda mais – as intempéries da natureza, muita chuva em pouco tempo, além das obras dispendiosas, em todos os sentidos, para corrigir a vazão do Córrego do Sumidouro pelo canal da prainha. Eles até ressuscitaram o problema da concessão de subsídio milionário para reequilíbrio contratual da concessionária do transporte coletivo ViaSul.

Desta forma, afirmam que é melhor, agora, a Prefeitura gastar com as obras na Prainha do que conceder ajuda financeira à empresa do transporte. Outros vereadores se comprometeram a apoiar novos financiamentos da Prefeitura, que devem ser urgentes, para que esses serviços sejam realizados.

Comerciante se queixa da falta de ação do poder público e diz que pessoas podem morrer afogadas ou eletrocutadas

No espaço da participação popular, o empresário de uma loja de sanduíches na Prainha, Wenderson Arley da Silva, se manifestou em nome de uma associação de comerciantes da Jove Soares e disse estar cansado da situação provocada pelas inundações, que fazem o comércio local ser extremamente penalizado. Cada vez que chove mais forte, o problema das inundações vem assombrar os comerciantes e, agora, na semana passada, as águas inundaram tudo, causando destruição e enormes prejuízos materiais.

Mostrando indignação, o empresário argumentou que paga seus impostos religiosamente e mantém seu comércio funcionando a contento, no entanto quando acontecem essas tempestades, se vê numa situação de abandono, medo e revolta. “1,60m de água dentro da loja, o risco de morrer afogado ou eletrocutado, enormes prejuízos materiais. É isso que temos e ninguém faz nada”, reclamou. Para ele, os moradores e empresários que têm comércio na Avenida Jove Soares não podem esperar mais dois, três anos, por uma obra milionária. Tem que ser feito algo, o mais rápido possível, para minimizar os impactos das chuvas e, para isso, ele disse que espera que o município e os vereadores busquem junto aos deputados ligados à cidade meios de conseguirem os recursos.

Secretário de infraestrutura e engenheiro vistoriam interior do Canal da Prainha

Na quarta-feira (8) o secretário municipal de Infraestrutura e Serviços Rosse Andrade e o engenheiro Gláucio Martins percorreram o interior do canal da Prainha para verificar a situação e se havia alguma obstrução de maior volume no escoadouro do Córrego do Sumidouro e de grande parte da água pluvial de Itaúna.

Estrutura de vasão pequena

Em conversa com o Jornal S’PASSO, o engenheiro Gláucio Martins explicou que foi feita a vistoria, com o objetivo de tirar dúvidas de que o canal estaria sujo e impedindo o escoamento da água naquela região. Essa situação não está acontecendo; o canal está limpo, com a passagem liberada em toda sua extensão. “Apesar de ser uma obra antiga, ela foi muito bem feita e o canal está funcionando bem, com sua estrutura perfeita. No entanto, é preciso esclarecer que a sua estrutura de vasão é pequena para o escoamento e precisa ser ampliada”, afirmou.

Ponto crítico entre a ‘Manoel Corrêa e a linha férrea’

O engenheiro lembra que existe um projeto para a realização dos serviços de ampliação do canal e, como o prefeito Neider Moreira (PSD) revelou na semana passada, a obra é cara e terá que ser feita em etapas para se tentar minimizar os problemas decorrentes das inundações.

“O ponto crítico é entre a rua Manoel Corrêa até a linha férrea, na avenida Miguel Augusto. Por que ali é o ponto crítico? Porque toda a água que cai a montante da cidade, pegando lá no Sumidouro, das áreas do Morro do Sol, Novo Horizonte, Nogueirinha… cai toda no canal da Prainha e o ponto de concentração é ali. Toda a água vai se acumulando e chega neste ponto ela não tem saída, aí vêm as enchentes, prejudicando os moradores próximos. No meu ponto de vista, o que deve ser feito de imediato é uma abertura do canal da Prainha desde a Manoel Corrêa até antes do pontilhão da linha. Em uns dez metros acima da linha existe uma área bem maior que o canal, um tipo um funil. A água chega neste ponto, não tem saída e sobe. Se a gente conseguir fazer essa abertura no canal ali para baixo, iremos reduzir as enchentes. Não vou te dizer que irá resolver, mas poderá reduzir muito a inundação naquele ponto”, explicou.

Chuvas atípicas

Gláucio Martins repete o que outros já falaram de que a tempestade do dia 31 é decorrente de “chuvas atípicas”, concentradas numa pequena área, com volume e intensidade muito grandes.

“Mesmo a gente fazendo esse trabalho na Prainha, corremos o risco de termos chuvas que irão encher o canal novamente. Aí as pessoas vão dizer que foi mal dimensionado etc., mas não, na natureza você não tem controle, consegue minimizar os estragos, mas resolver cem por cento não consegue. Teremos que conviver com esse drama para o resto da vida, infelizmente”, considerou.

Entidades de classe auxiliam empresários que tiveram prejuízos com as inundações

Sicoob Centro-Oeste abre linha de crédito de até 60 meses, com carência de 6 meses

A tentativa de resolução de problemas de perdas materiais que afetaram diretamente os comerciantes instalados em pontos mais impactantes da Prainha faz parte de inciativas de órgãos de classe, como o Sindicomércio Itaúna. O presidente da entidade, Alexandre Maromba, revelou que está atento à situação dos empresários que perderam bens móveis e foram prejudicados em sua prestação de serviços por causa do temporal que atingiu a cidade na semana anterior. Maromba enfatizou que o Sindicomércio, por meio dos serviços da Fecomércio-MG, oferece apoio jurídico aos empresários do comércio e que, no caso das situações vivenciadas, terá condições de auxiliar os lojistas da Prainha.

O SICOOB CENTRO-OESTE, parceiro das entidades comerciais do município, abriu crédito especial a fim de auxiliar empresários atingidos pelas inundações das chuvas recentes.

O presidente do SICOOB, empresário Márcio Villefort, explicou à reportagem que a iniciativa é uma tentativa de socorrer os comerciantes e outras pessoas que tiveram prejuízos materiais por causa das chuvas. “É uma linha de crédito, de até 60 meses, podendo ter seis meses de carência. Também, as pessoas que tenham dívida na cooperativa e foram prejudicadas, perderam bens em decorrência das chuvas, a gente propõe uma prorrogação da dívida. Basta que o cooperado procure os nossos gerentes na rua Capitão Vicente ou na avenida Jove Soares, com os comprovantes, ou seja, fotos e registros. O processo é rapidamente concluído e a linha de crédito é liberada. E se a pessoa não for cooperada, é só vir à Cooperativa, tornar-se um cooperado e requerer o benefício do empréstimo de até 60 parcelas com seis meses de carência”, sugeriu.

Márcio Villefort informa também que o SICOOB está abrindo outras linhas de crédito, com “taxas muito competitivas” para a pessoa renovar o estoque de final de ano, para efetuarem pagamento do 13º e de outras despesas. Basta procurar as agências de Itaúna.

A Câmara de Dirigentes Lojistas e a Associação Comercial Empresarial deram entrada na Prefeitura de solicitação para implantação do Programa Juro Zero no município, em parceria com o SEBRAE, sendo que um dos objetivos é atender pequenas empresas e empreendedores tipo MEI, Microempreendedor Individual,  em situações de calamidade, de prejuízos, como as que ocorreram na Prainha.

A Assessoria de Imprensa da ACE e da CDL informa que as duas entidades estão avaliando medidas internas que ajudem os associados prejudicados pelas chuvas, como, por exemplo, a isenção de taxas para participação em campanhas promovidas pelas entidades. Além disso, têm estudado medidas em que as mesmas possam viabilizar outras formas de ajuda para os estabelecimentos comerciais impactados, avaliando caso a caso.