Educação Municipal e APAE se unem para atendimentos e em ações contra o preconceito
O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, 2 de abril, foi criado pela Organização das Nações Unidas em 2007 e a data foi escolhida para levar informação à população para reduzir a discriminação e o preconceito contra as pessoas que apresentam o Transtorno do Espectro Autista.
O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado por um desenvolvimento atípico, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades. Sinais de alerta podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, podendo o diagnóstico estabelecido por volta dos dois a três anos de idade.
Atualmente é possível observar o crescimento crescente no número de crianças diagnosticadas com autismo e isso é em decorrência do maior acesso a informação por parte dos familiares, assim como mais possibilidade de acesso aos profissionais que realizam o diagnóstico.
Ano passado, no Instituto Santa Mônica, 83 crianças foram avaliadas pela equipe de Estimulação Precoce, de zero a seis anos e 11 meses, dentre elas 77 caracterizadas com atraso de desenvolvimento. Dentre essas, 50 crianças estavam em processo de investigação diagnóstica ou já com o diagnostico fechado para autismo.
O autismo não tem cura, uma vez que não é uma doença, contudo existe tratamento e o recomendado cientificamente é estruturado na ciência ABA, ou seja, Análise Comportamental Aplicada, que deve ser aplicada por profissionais capacitados, de maneira intensiva, variando entre 10 e 40 horas de intervenção semanal. Os pais precisam ser envolvidos e aprender intervir para oferecer cada vez mais oportunidades de aprendizagem à criança. O tratamento deve ser multiprofissional, envolvendo psicólogo, terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, neurologista, nutricionista, uma vez que o autismo apresenta sintomatologia diversa, e pode acarretar dificuldades em diversas áreas do desenvolvimento.
Para Viviane Gonçalves Vilela, psicóloga e coordenadora da Equipe de Estimulação Precoce da APAE de Itaúna, a maior preocupação da instituição advém da impossibilidade de oferecer o tratamento na proporção necessária. “É preciso reforçar que conforme o nível de suporte da criança, se faz necessário de 10 a 40 horas de intervenção semanal. Enquanto instituição, atendemos em nossa capacidade máxima, e existe no município uma extensa lista de espera, de crianças já com diagnóstico fechado ou em investigação, aguardando para serem chamadas. Isso é muito prejudicial para o prognóstico na vida adulta, pois quanto mais nova a criança iniciar o tratamento, melhor. Atuamos também com o treinamento de pais com o objetivo de capacitar e instrumentalizá-los, para que eles possam levar a intervenção para casa, saber como agir diante de comportamentos desafiadores, como reforçar comportamentos adequados e estimular a criança em momentos rotineiros, para que ela tenha oportunidades de aprendizagem ao longo do dia. Atuamos também oferecendo suporte às escolas que nos procuram, acolhendo, orientando e traçando estratégias de intervenção.
Assim como a família, a escola é uma parte muito importante do tratamento, para que a criança avance e conquiste novas habilidades. Por isso, é indispensável que terapeutas, família e escola caminhem juntos e tenham as mesmas estratégias. Buscamos também envolver e conscientizar os pais sobre a importância de se mobilizarem socialmente, para fazerem a defesa de direitos buscando o acesso ao tratamento adequado”, salienta.
Para a psicóloga Viviane, a celebração do Dia Mundial da Conscientização do Autismo é de extrema importância: “ é um dia de luta, pois alguns passos em direção à inclusão e garantia de direitos foram dados, entretanto, ainda existe um longo caminho para percorrer, que certamente será melhor se caminharmos juntos”.
Profissionais competentes e estagiários atuando nas escolas da rede municipal
O secretário municipal de Educação, professor Weslei Lopes afirmou ao Jornal S’PASSO que casos de crianças e estudantes com Transtorno do Espectro Autista, que incluem uma considerável variedade de condições associadas, são especialmente acompanhados pela Secretaria Municipal de Educação de Itaúna. Ele explica que o Núcleo de Atenção Integral à Criança conta com uma equipe multidisciplinar com profissionais competentes que acompanham, dentre outros casos de necessidades educacionais específicas, as crianças e estudantes com TEA. “O município conta com mais de 130 estagiários incumbidos de acompanhar nossas crianças e adolescentes em situações particulares de aprendizagem, incluindo o TEA. Paralelamente às ações diretamente ligadas ao público autista, o Município desenvolve a formação continuada dos profissionais da rede em educação especial em perspectiva inclusiva”, pontua.
Segundo Wesley, há diferentes ações de formação profissional em curso, direcionadas tanto aos professores do atendimento educacional especializado quanto, e sobretudo, aos próprios professores regentes de turmas. “De fato, e felizmente, esses sujeitos têm tido, cada vez mais acesso aos espaços sociais e, especificamente, à escola. Nossos profissionais têm se qualificado diuturnamente e buscado, a partir dos desafios e oportunidades postos, aperfeiçoarem-se profissionalmente. O trabalho das escolas da rede apresenta-se em contínuo aperfeiçoamento e, a cada dia, melhor e mais completo”, destaca.
Entretanto o secretário de Educação ressalta que existem os desafios e que esses “são exatamente as oportunidades de melhoria: compreender da maneira mais precisa possível as necessidades específicas de cada sujeito e atendê-las de forma satisfatória e efetiva, respeitando, sempre, as características e potencialidades próprias de cada um”.
Família Autista se reúne e convida para evento neste domingo
Em depoimento à reportagem, mãe afirma que uma das grandes dificuldades para o autismo é a não aceitação de familiares, “onde existe amor existe acolhimento”
Um evento da AFA – Apoio à Família Autista vai acontecer na manhã deste domingo (2), na área externa do Poliesportivo JK, em comemoração ao Dia Mundial de Conscientização do Autismo. O convite está sendo feito por uma das integrantes da AFA, Marcela Augusta Nogueira e Souza, em vídeo nas redes sociais. Ela destaca que é o segundo encontro dessa natureza e que várias atividades irão acontecer para toda a família autista e simpatizantes da causa.
Marcela afirma que recebeu o apoio de inúmeros patrocinadores para o evento de domingo e que a entidade está aberta para receber ajuda de empresas e pessoas físicas para um projeto maior, que é a construção de uma sede e de uma rede de apoio à pessoa autista. Ela revela que o tratamento é muito caro e não há profissionais qualificados em número suficiente no município.
Marli Gabriel é mãe de João Paulo, 26, autista em grau três. Ela é uma das fundadoras da AFA que, segundo ela, começou quase que por acaso numa conversa entre mães na mesma situação. Elas tiveram a ideia de criar um grupo de WhatsApp para conversas sobre como lidar com o autismo dentro de casa. Foram chegando outras mães e aí veio a proposta de encontros presenciais, que foram realizados no espaço de apoio da pessoa deficiente, da professora Nesvalnir Gonçalves.
Para Marli, os resultados das conversas deram oportunidade de constatar que uma das dificuldades do autismo é a aceitação da família diante do TEA. “O importante não é o olhar do outro para o nosso filho, mas o nosso olhar para ele. Da forma como eu olho para o meu filho, ele será acolhido ou rejeitado pelo outro. Desde pequenininho que o João Paulo entende o amor à sua volta. As pessoas que o conhecem ficam apaixonadas por ele, porque o nosso amor, de pais, bate nele e reflete nos outros. Ele é amado”, salienta.