Mulheres à frente de seu tempo

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E como nasci? Por um quase. Podia ser outra. Podia ser um homem. Felizmente nasci mulher. E vaidosa. Prefiro que saia um bom retrato meu no jornal do que os elogios.Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo. Poderia ser um escritor o autor dos versos, mas é uma mulher plena, a Clarice Lispector. Mulheres são assim… desbravam o mundo e enfrentam um leão por dia. Mas, mantêm a ternura sempre… Para homenagear estas divas da vida real, no Dia Internacional da Mulher, o Jornal S’PASSO registra um pouco de algumas que estão marcando seu tempo e são “um quase tudo”.

Escritora: Maria Lúcia Mendes, 76 anos, é a mãe da Guarda do Anjo… o primogênito de suas obras mostra a poesia com a sinceridade e competência de quem merece mais que integrar a Academia Itaunense de Letras. Nasceu para o mundo das letras em 1.983 e, desde então, o gosto por unir as palavras ao agrado da beleza e formosura estética, não a deixaram mais. Enfrentou desafios. Afinal, quem era aquela mulher escritora, indagavam as editoras. Bastou um mais avisado ler seus versos, para que as portas se abrissem e seu espaço fosse eternizado entre as mulheres das letras. Persistiu e já autografou 15 livros. O prestígio e reconhecimento deixaram a terra natal e ganharam o mundo. Maria Lúcia reafirma a importância de as mulheres se posicionarem, independentemente dos obstáculos. Diz que o Brasil é um país que lê pouco e com a internet, infelizmente os livros estão ficando cada vez mais raros. Mesmo assim, gosta do ofício e diz que vale a pena. Afinal, escritor nunca teve a alma pequena…. “Nós, mulheres, temos que ser conscientes de nossa missão como alicerce da sociedade. Meu empenho é para que continuemos com coragem para vencer os obstáculos que a vida nos impõe”.

Direito/Atividades SociaisTânia Regina, têm 56 anos e parece incansável quando a lida requer atenção com as pessoas. Este atributo, ela mostra com os amigos, na profissão de advogada, há 31 anos, ou à frente das causas sociais: há três anos preside a Casa da Amizade, um grupo de mulheres que tem como inspiração o trabalho pelos outros. Mulher, dona de casa, mãe, profissional do Direito e ufaaaa…. Haja disposição, mas isto é coisa que ela tem de sobra para estar à frente da organização de muitos eventos e promoções que se transformam naquilo que os mais carentes precisam. Doações viram alegria, alento e esperança. Tânia é destemida na vida e reproduz coragem na fala: “mulher tem que colocar a cara no mercado, tanto no campo profissional, quanto no social”. E para justificar a sua disposição, conversou com a reportagem pelo telefone, de Fortaleza, onde participava da III Conferência Nacional das Mulheres Advogadas, que, coincidentemente, discutiu o tema, ‘Igualdade, liberdade e Sororidade’, com mulheres únicas como Maria da Penha. Ela não quer tratamento diferenciado, mas faz questão de empatar com os homens quando o assunto é Direito: “Estamos no século XXI, muito já foi conquistado, mas muito ainda falta. Vamos mostrar que somos iguais e estamos aqui, mulheres”.

Cultura: Elina Dirce de Oliveira Bernardes, têm 79 anos, é professora aposentada e atriz. Pequena. Mignon. Ora, que quer dizer tamanho frente ao talento dela? Fez radionovelas na época de ouro do rádio e cabe registro para um de seus prodígios: apresentou o primeiro programa infantil do rádio brasileiro. Ela é reconhecida como tia; a tia Elina, afinal, orientou os primeiros passos do aprendizado de três gerações. Como protagonista da sua existência, não teve dúvidas e se enveredou pelos palcos. Mas não foi uma escolha light, afinal, a sociedade determinava que mulheres artistas eram prostitutas e homens artistas eram gigolôs. Deixou os palcos sentirem muitas saudades de seu jeito e irreverência, mas décadas depois, com filhos e netos, voltou a atuar e “Good Morning” foi um dos textos que interpretou. A pequena é repleta: “Tive que ser forte. Ainda sou. A mulher tem que ser forte para encarar a sociedade. Toda mulher tem a missão especial de exercer cada tarefa a que for solicitada, dando o seu melhor possível, recheado de ternura, para a glória de Deus, para o bem de todos, incluindo sua própria realização”. Taí a fala da pequena tia Elina… Ou seria da grande artista Elina?

Educação: É de encher os olhos e de aplaudir o cenário de quem entra nos limites da Granja Escola São José. Tudo no lugar, e o mais importante: a educação fazendo pose de campeã das prioridades na vida de mais de 80 jovens. É lá que Fanira Arcanjo Herculano, com a experiência de 55 anos e 32 de educação, mostra seu talento para superar desafios. Ela tem a medida do que pretende fazer, além do que faz parte de sua rotina: integrar educação, assistência social e família. O otimismo não a faz descuidar do que chama de “contexto social agravante, não só em Itaúna, mas de um modo geral”. Porém, já se posicionou sobre a missão que quer cumprir: “incluir os meninos e meninas hoje, no mercado de trabalho para que sejam respeitados na sociedade é um desafio enorme, mas continuo trabalhando para isso. Enquanto ser humano, enquanto mulher, nós não devemos ter medo. Nós temos que ir à luta”.

Esporte: Gilvana Célia da Silva, de 37 anos, é competidora. Das melhores e do CrossFit, modalidade onde dá show. Acumulou vitórias e medalhas. E quem escolheu ser forte, precisa também mostrar que nasceu forte: em 2017, foi diagnosticada com câncer de mama. Mas, e daí? Esta parece ter sido a resposta dela para a surpresa que a vida lhe impôs. Não deixou de treinar, só diminuiu a intensidade e a frequência, durante o tratamento. Com o fim do período em que provou o que de melhor a Medicina poderia lhe proporcionar, em 2019, voltou a treinar para competições. Renasceu a mesma esportista, campeã de competições, mas com medalha de honra na vida. “Não existe lugar específico para mulher. Todas podem e devem fazer o que gostam. Não existe ‘corpo de homem’ e ‘corpo de mulher’, e não são somente homens que podem ser fortes e ter músculos. Um corpo bonito é aquele que tem uma pessoa feliz dentro dele! Todas podem ser e fazer o que quiserem. E independente do seu objetivo, que seja para saúde, para aliviar o estresse, para se distrair, continuem fazendo as atividades que gostam e se preocupem menos com a opinião de pessoas maldosas”.

Assistência Social: Sorriso é a cara da alegria, mas é também sinônimo de esperança. Quem pode dar a medida e a receita de fazer sorrisos brotarem no rosto de crianças e jovens é Maria Luiza Teixeira Vargas Amaral, que, no auge dos 51 anos e do exercício diário no NAC Curumim, há 14 anos, não deixa de sorrir e nem de despertar o melhor de uma turminha de 80 jovens, de seis a 15 anos. A gente poderia até dizer que ela não deixa a peteca cair, mas é melhor lembrar a sua paixão por uma bateria de escola de samba e pelo tamborim que toca, para informar que ela não perde o ritmo. Há dificuldades, faltas de oportunidades, é claro que sim. Mas sobra alma e boa vontade para mostrar para suas crianças e jovens, que educação muda a vida delas e vale a pena. E mesmo quem chega um pouco inquieto e incrédulo, não resiste aos apelos de Maria Luiza, para que faça parte da família que ela construiu no NAC Curumim. Todos juntos, não há como resistir… Nem a danada da vulnerabilidade social, encontra espaço, no espaço que ela escolheu na Vila Nazaré para estar todos os dias. “Para todas as mulheres que eu conheço: conserve o bem que você tem, esqueça o que dói, perdoe os que te feriram e desfrute os que te amam. Uma mulher feliz não tem tudo de melhor, ela torna tudo melhor”.

Empresária: Multi é um elemento de composição de palavras que indica muito ou múltiplas vezes. E pode ser incorporado à profissional e mulher Nágela Chaves Maromba. Psicóloga, também formada em artes, esteve à frente da implantação as oficinas de arte terapia do Hospital Dia e foi militante da luta antimanicomial em Itaúna. Pós-graduada em Marketing, é empresária de sucesso e executiva da Casa Rena. Mãe, esposa e mulher também fazem parte do currículo dela que nunca deixou de ousar… Assina verdadeiras obras de arte no segmento de decoração de ambientes e eventos, deixando fluir a beleza natural dos detalhes. “É possível sim, se realizar na carreira fazendo o que se ama, sendo mulher e mãe. A partir do momento em que você acredita em si mesma, estuda e trabalha duro, o respeito e o espaço dentro da sociedade, são uma consequência da maneira que você se posiciona”.

Artes plásticas: Bia Vargas é das Artes Plásticas desde 1.991, espaço que conquistou como autodidata. Ou melhor, ela não apenas é, mas respira e transpira arte, em esculturas minimalistas ou objetos artesanais de puro bom gosto. Começou sua trajetória na pintura, depois “Objetos” e atualmente “Instalação”. Expôs a sua essência diversas vezes, aqui em Itaúna, BH e Uberlândia. É artista e referência entre as mulheres das artes; já foi premiada como tal, mas deveria ser também como ser que transcende o real e dá vida ao imaginário e belo que todos nós gostaríamos de assinar. Diz que a força da mulher vem do interior e dá o tom exato: “não deixem de acreditar em vocês. Feliz Dia das Mulheres”.

Cooperativa: Ela já viajou para o exterior dezenas de vezes, representando o Brasil e o movimento dos catadores. Foi reverenciada pela primeira dama da França, Danielle Miterrand, e recebeu as mais diversas distinções pelo trabalho que faz e pela fundação da Coopert, Cooperativa de Reciclagem e Trabalho. Maria Madalena Rodrigues Duarte Lima, de 59 anos é uma Maria de dar inveja… Na Europa fez palestras em inúmeros países e é referência nacional quando se fala em reciclagem e coleta seletiva. Em março de 1.999, pôs a mão na massa para fazer nascer a cooperativa, com o objetivo de gerar renda para homens e mulheres desempregados. Batalhou para erguer o projeto que hoje é reconhecido no planeta. Madá, levou o projeto da Coopert para a França, Paraguai, Uruguai, Chile, Colômbia, Venezuela e chegou a Nova Iorque. Diz com orgulho que reciclar é um dom e que a riqueza maior é ver o sorriso no rosto de suas companheiras, ao fazerem o que gostam, com dignidade e companheirismo. “89% das cooperativas são geridas por mulheres. Nós seguimos forte, lutando por nossos direitos, no nosso trabalho, na política e na sociedade, de forma geral. As mulheres devem ser fortes e acreditar que são capazes”.

Transporte: Mulher no volante é….. boa motorista, competente, atenciosa. Aos 43 anos, Silvânia de Faria Fernandes Amorim, dirige o coletivo da Viasul. São 17 anos indo e vindo pela cidade, trazendo e levando gente que já tem rosto conhecido pelo contato diário. Silvânia faz parte de um grupo pequeno: é uma das seis mulheres que dirige ônibus em Itaúna. Se não há estatísticas em Itaúna, importamos uma de São Paulo: segundo o relatório Infosiga 2017, apesar de as mulheres representarem 37% do total de motoristas do Estado de São Paulo, elas estão envolvidas em apenas 8% de todos os acidentes graves. Pronto. Taí um motivo mais que justo para confiar nelas na direção. As estatísticas confirmam e os números não mentem. “É uma honra representar profissionalmente as mulheres, não só da empresa de transporte coletivo, mas de toda cidade”.

Beleza: Se formos até a antiguidade, vamos constatar que as mulheres de seios fartos e quadris largos eram adoradas como uma divindade, associadas a fartura, saúde e fertilidade. E então cabe a indagação: beleza tem padrão definido? o que dizer das belezas de Botero ou das musas do Renascimento. Não deixemos de lembrar da era vitoriana, no século XIX. A bela Karina Silva Moreira Menezes, aos 32 anos foi aclamada Miss Plus Size Itaúna e, conquistou também a coroa de Miss Minas Gerais. Modelo de sucesso, ela talvez não tenha a medida exata da inspiração que representa para milhares de mulheres, mas conta e escreve sua história com superação. “A sociedade é cruel com aquele que decide julgar. Assim, o amor próprio é o principal alimento para combater os julgamentos. Não há outro caminho! Amar-se do jeito que você é, é o principal motivo de felicidade”.

Cidade: Vânia Maria de Lourdes Silva, têm 59 anos. Segundo ela, muitos nem a percebem. Mas, ela e suas amigas fazem sim a diferença na cidade, quando estendem o trabalho que de cuidados de suas casas, para as ruas da cidade. Limpam o lugar comum de todo nós… a cidade onde nascemos. A varredeira, há dois anos, está por aí, diariamente, basta que queiramos enxergá-la. Preconceito é coisa para varrer da vida e tristeza é sentimento para varrer, temporiamente, para debaixo do tapete, até que haja forças para varrer definitivamente da alma. “Uma mulher me parou e perguntou como eu tinha coragem de trabalhar varrendo rua. Respondi com orgulho que é um trabalho honesto”. A resposta à pergunta é simples, mas cheia de significado. Quem perguntou, deve fazer parte dos pequenos que se esquecem de dar bom dia ou de oferecer um copo de água para quem está limpando o espaço comum a todos nós. Uma pena, que estes tipos não possas ser varridos para a eternidade… O que digo para todas as mulheres varredeiras é que elas sejam fortes sempre. Temos que nos orgulhar de ver a nossa cidade limpa por nós. Quero parabenizar todas as varredeiras no Dia Internacional da Mulher pela força, a coragem e a solidariedade que temos com a cidade. Nosso trabalho é honesto e perfeito, se não fosse nossa atuação, o que seria da cidade?” A reflexão para ser feita.

Saúde: Dizem que os seres humanos podem ser comparados aos animais. Então, Marilda França Chaves é fênix. Sem qualquer possibilidade de dizer que a ave é figura mitológica, Marilda está na lida para comprovar que viver é um renascer constante. Aos 72 anos, está mais preocupada do que nunca em marcar sua existência com construções erguidas na doação e solidariedade. Nunca parou… há 49 anos o escritório França Chaves é ela e na bagagem profissional lembra dos dois mandatos à frente da 34ª subseção da OAB/MG, da atuação como subprocuradora geral da prefeitura e presidente do Instituto Municipal da Previdência. Provedora da Casa de Caridade Manoel Gonçalves de Sousa Moreira desde 2016, não aquietou até que vou inaugurado o Centro de Oncologia…E quanta gente vai agradecer a Marilda por este esforço…. “A mulher exerce papel de destaque na sociedade, um papel que sempre cumpriu, mas que não era reconhecido. Suas inúmeras habilidades, sua sensibilidade, determinação, disposição e capacidade de assumir diversos papéis ao mesmo tempo foram primordiais para que hoje recebesse este merecido reconhecimento. De forma especial posso destacar o quanto é importante o papel da mulher na área da saúde, pois sua sensibilidade e capacidade de lidar com situações delicadas diante de uma assistência mais humana aos pacientes, de forma especial aos do SUS, faz toda a diferença”.

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