O poeta Pedro Santos de Oliveira é um advogado e administrador de serviços de imóveis. Foi, no passado, um dos fundadores do Jornal Brexó, experiência que lhe trouxe uma excelente familiaridade com a vida política e cultural de Itaúna. Desde alguns anos, tem se dedicado às pesquisas, eleitorais. Mas o faz por diletantismo, como costuma dizer. Em resposta ao nosso pedido de minibiografia, escreveu: “Pedro Santos, Advogado/ Corretor/ Pesquisador Itaunense, 60 anos, casado, pai de dois filhos. Brexoense, Defensor da Liberdade”.
1. Em que momento você começou a se interessar pela pesquisa de opinião? Como foi a criação do Instituto Voxpeso?
Foi na eleição municipal de 1992, quando Bandinho ganhou de Simonini na disputa pela prefeitura de Itaúna. Usei umas caixinhas de Sedex como urnas e saímos colhendo a opinião das pessoas. Deu para captar bem a tendência da vitória acachapante do eleito. Nunca fiz cursos específicos, foi mais no autodidatismo mesmo, lendo pesquisas em jornais e livros e, o principal, praticando sem medo de errar e experimentando algumas variações metodológicas de minha cabeça. Voxpeso era o nome de fantasia de minha microempresa, que sonhava em ser grande um dia (e ainda sonha). Fora da área eleitoral, pesquisei outros temas, na área mercadológica e de comunicação, temas que me seduzem bem mais. Hoje estou ligado também a outros projetos profissionais, mas não desisti das pesquisas. No ritmo daquela música do Caetano (Um dia): ”não estou indo-me embora, tô só preparando a hora de voltar…”
2. Nesta linha de trabalho, com a pesquisa, você participou de quais campanhas eleitorais? É possível analisar tecnicamente a tendência do eleitorado em Itaúna? Qual é sua avaliação?
Na área eleitoral, fiz algumas boas em campanhas nas disputas estaduais de Neider Moreira, na candidatura de Gláucia Santiago à prefeitura, naquela memorável disputa entre Osmando/Ramalho/Dr. Élvio (2000); fiz, por minha conta, na primeira e surpreendente vitória de Eugênio Pinto contra Dr. Élvio (2004)… e outras mais, umas boas e outras nem tanto. Fora de Itaúna, fiz também muitos trabalhos eleitorais e noutras áreas. Sobre a tendência do eleitorado itaunense, na média das eleições locais, ele parece ostentar um perfil mais conservador (centro/direita, até), no sentido de não querer arriscar tanto em fortes mudanças, na maioria das vezes. De vez enquanto, ele dá uns repentes de rebeldia, como foi na vitória de Ramalho em 1982 e Eugênio em 2004, mas…logo passa. Esse conservadorismo ficou bem evidente na vitória arrasadora de Bolsonaro por aqui. Reeleger mandatários majoritários é também uma tendência recorrente dos eleitores daqui (só não ocorre caso a avaliação daquele que busca permanecer no cargo não esteja nada boa, como parece ter ocorrido com Osmando na última, sob a sombra da taxa de lixo e da tentativa de aumentar IPTU), quando ele foi muito atacado).
3. Você nos contou que hoje tem feito pesquisas apenas como interesse pessoal, sem nenhuma vinculação profissional. Qual são as avaliações que você faz em torno de suas pesquisas? O que os novos tempos, sobretudo em relação ao distanciamento físico provocado pela covid-19, têm revelado acerca das pesquisas?
Tem muita gente que não acredita em pesquisa, principalmente por nunca ter sido entrevistado (lembrando que pesquisa não é um Senso, quando se escuta quase todo mundo, mas é como uma gota de sangue colhida em exame de laboratório, que revela todas as nossas mazelas). Na última eleição para presidente e governadores, alguns resultados de pesquisas que não se confirmaram nas urnas, aumentaram ainda mais essa descrença do eleitorado, como nos casos de Witzel (no Rio) e Zema (em Minas), dentre outras. Mas um novo ingrediente naquele pleito (e que estará presente também em 2020 e para sempre), a atuação das redes sociais, colocou as pesquisas eleitorais contra a parede, acometendo seus resultados com envelhecimento precoce. A rapidez com que os novos fatos (positivos, negativos ou fake news) se dão a conhecer, tornam ultrapassados os motivos que alimentaram os resultados das pesquisas feitas antes deles (por exemplo, até bem pouco tempo atrás, um acontecimento em um bairro de Itaúna, demoraria mais de uma semana para a cidade toda saber, hoje…sabe-se em tempo real). Novos tempos… vão exigir novos métodos e sempre em evolução. Sem falar nas dificuldades advindas com a atual pandemia na coleta de dados. No meu caso, enquanto não volto ao mercado, hoje tenho mergulhado nos dados do TSE, onde a história eleitoral de todos os candidatos está escrita. E garanto, muitas vezes, com raras exceções, essas histórias se repetem, exibindo a competência ou a mediocridade de cada um. Exibe uma tendência.
4.Que relação existe entre redes sociais e novas tecnologias com a pesquisa de opinião?
Como foi dito, a rapidez na circulação dos acontecimentos nas redes sociais é um grande desafio para as pesquisas de opinião tradicionais. Não é novidade também para ninguém o acesso, dia e noite, por qualquer pessoa aos nossos dados e costumes escancarados no Facebook, Instagram, whatsapp e outras plataformas e meios, onde clamamos por todas as curtidas. O sociólogo (falecido) Zigmunt Bauman demonstra muito bem isso, ao falar do mundo líquido… quando fazemos questão de eliminar a separação entre o público e o privado em nossas vidas.
5. É possível arriscar um palpite sobre a condução das atividades dos institutos de pesquisa para as eleições 2020 nas principais cidades do Brasil? E em Itaúna?
Não arriscaria. Estou curioso para conferir as previsões (dos institutos e do “Data-Povo”) com os resultados oficiais. O Brasil tem grande empresas na área (Datafolha, Ibope e outras), certamente se prepararam para isso.
6. Mudando de assunto, você foi um dos fundadores do Jornal Brexó há quarenta e dois anos. Conte um pouco para nós desse projeto jornalístico. O que representa a lacuna deixada pela falta do jornal desde 2016?
Participar do Jornal Brexó, ainda que como um mero coadjuvante, foi um dos maiores acontecimentos em minha vida. O Brexó foi algo único e insuperável na história jornalística de Itaúna (e uma das raras pelo mundo afora, quem quiser que me conteste!). Não houve, não há e não haverá outro com sua grandeza por aqui. Talvez nem o próprio Brexó consiga reeditar sua história nos dias de hoje. O jornal foi um palco aberto para todas as opiniões, sem censura e sem outros interesses, abrindo suas páginas até para seus inimigos declarados (ou ocultos). Algum outro faria isso? E quem passou por lá (seja fazendo ou apenas lendo) sabe que a alma do Brexó sempre foi o seu Diretor Célio Silva, um homem de rara índole. O verdadeiro jornalista.
7. Vamos falar dos seus projetos literários. Recentemente você lançou um livro. Fale um pouco dessas suas atividades. O que está sendo gestado?
Pobre de mim! Mandei fazer um livrinho com meus poemas, muitos deles publicados no Brexó. Dei-lhe o pomposo nome de “O Sentido de Tudo”. De alguns poemas eu gosto, de outros não, mas respeito a todos eles, em consideração ao momento vivido no parto de cada um. Pensei até em fazer uma noite de autógrafo (ia até te convidar pra declamar alguns e ajudar na declamação de outros…viu, você correu risco!), chamar o pessoal da Academia Itaunense de Letras, mais gente do meio, parentes e amigos, fazer uma vaquinha para a cerveja… mas… não deu, ou melhor, deu uma preguiça e não me senti a altura de um evento assim! Tô lançando ele em câmera lenta, às prestações, quem me pede eu o dou. Mas tê-lo feito… foi muito bom!
Continuo escrevendo, foi o que mais adorei nesta quarentena infinita. Resolvi escrever as minhas memórias, algo bem divertido (já deram umas 80 páginas ou mais). Denominei puxando pela memória. Tem sido quase uma terapia…fazer análise sem gastar com terapeuta. Mas o problema não é lembrar de tudo…é ter coragem de contar tudo. Nessa brincadeira, vou fazendo um link com fatos paralelos na minha caminhada, desde o útero de minha mãe, minha mais antiga lembrança. E continuo também fazendo poesias. Se um dia virar livro, se chamará O Asteróide e nele terá um poema (já pronto) com mais de 180 estrofes, O Anjo, narrando a anunciação do Anjo Gabriel à Miriam (Maria), que cruzará no caminho com as maldades de Lúcifer, o anjo decaído. E mesmo sem saber tocar nenhum instrumento e sem voz para cantor, me preparo para o “lançamento secreto” de meu 5º CD de marchinhas de carnaval (no meu projeto Marchinhas Caseiras), que chamar-se-á Nemcoronaqué (quase todas as marchinhas falando de temas da pandemia). Alguns mais chegados, coitados, são obrigados a ouvi-las às vésperas do Carnaval…vamos ver quando será. E, finalizando, continuo enchendo os muros de minha casa com cópias de pinturas famosas. Como diz um debochado amigo meu…” sou um artista de muitas artes”.