Capela do Rosário: um Oratório que se transformou em Igreja

0
4152

Por Luiz Mascarenhas

Dentro dos meandros e brumas de nossa História, lembramos a presença do homem branco nessas terras desde – provavelmente- o recuado ano de 1720. Já é quase notória a aventura dos três portugueses, sócios e donos de data de mineração que aqui se fizeram presentes…O Sargento-mor Gabriel da Silva Pereira, Thomás Teixeira e Manoel Neto de Mello; dentre outros possíveis residentes, posseiros e viandantes que por aqui aportaram junto às águas do rio São João.

Dentro dos meandros e brumas de nossa História lembramos a presença do homem branco nessas terras desde – provavelmente- o recuado ano de 1720. Já é quase notória a aventura dos três portugueses, sócios e donos de data de mineração que aqui se fizeram presentes…O Sargento-mor Gabriel da Silva Pereira, Thomás Teixeira e Manoel Neto de Mello;

dentre outros possíveis residentes, posseiros e viandantes que por aqui aportaram junto às águas do rio São João.

A primeira picada em meio a mata na direção de nossa Itaúna, foi aberta pelo Sargento-mor Gabriel da Silva Pereira; um meio caminho entre dois núcleos urbanos importantes daquele período colonizador, Bonfim e Pitangui.

Temos notícia do casamento do Sargento-mor Gabriel da Silva Pereira e de seu sócio Thomás Teixeira, no mesmo dia, do ano de 1739, com Florência e Ana Maria, ambas filhas do abastado bandeirante João Lopes de Camargos, um dos principais povoadores do Ouro Preto.

Foi a necessidade de se cumprir os deveres para com Deus, como se dizia e se acreditava naqueles recuados tempos, principalmente de suas esposas de tradicional família católica, que os maridos se viram envolvidos com a construção de um oratório para o culto católico no alto do morro…Oratório provavelmente erigido de taipa de pilão e coberto de capim, próximo a um cruzeiro já existente; isso por volta de 1739, onde nele se depositou a imagem em cedro de Sant’ana, oriunda da cidade de Setúbal, Portugal, adquirida junto com outra imagem da mesma invocação e um Senhor do Bonfim; que foram compradas pelo principal pioneiro de Bonfim, Manoel Teixeira Sobreira, como pagamento de uma promessa.

A imagem do Senhor do Bonfim hoje se encontra na cidade de Bonfim; a outra de Sant’ana, na cidade de Sant’ana de Paraopeba e a terceira – também de Sant’ana – veio aportar em nossas barrancas.

O sargento-mor Gabriel da Silva Pereira, como era muito comum naqueles tempos, teve uma filha com uma de suas escravas. Se dizia filha “ilegítima”, os obtidos fora dos sagrados laços do Matrimônio…Pois bem, essa filha, Francisca da Silva Pereira, ao se casar com um posseiro que morava na região, Manoel Pinto de Madureira, recebeu como dote do casamento, as terras do alto do Rosário.

Pois bem. Transcorrido alguns anos, temos o Manoel Pinto de Madureira e demais moradores da Passagem do São João requisitando ao Sr. Bispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz as devidas licenças para a ereção da Capela. Isto no ano de 1750.

Veio a licença e por este documento, sabemos da existência inequívoca do oratório.

Dom Frei Manoel da Cruz, Bispo de Mariana, diocese a qual pertencia a Passagem do São João da Comarca do Pitangui (Itaúna) ordenou que se levantasse a Capela de Sant’ana no mesmo local onde estava o seu oratório.

Esta ficou pronta em 11 de outubro de 17645, quando o seu patrimônio (terras) foi passado para a Cúria de Mariana e foi benta conforme o ritual romano.

Nesta data, o sr. Bispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz deu nome à nossa povoação…agora, a Passagem do São João passava a ser a Povoação Nova de Sant’ana do Rio São João Acima!

E nesta capela (hoje a Capela do Rosário) disse sua primeira Missa, o Pe. José Teixeira de Camargos, no ano de 1766. Ele era filho do sócio do Sargento-mor Gabriel da Silva Pereira, Thomás Teixeira. Em sua homenagem, hoje a Praça do Rosário leva seu nome: Praça Pe. José Teixeira de Camargos.

Pois bem, tudo assim seguiu sua trajetória até o ano de 1841, quando o Curato de Sant’ana foi elevado à Paroquia de Sant’ana, no dia 07 de abril. A Capela de sant’ana passou a funcionar como Igreja Matriz. Prova cabal deste episódio histórico é a presença de sua pia batismal em pedra lavrada, que só existia na entrada das igrejas matrizes.

1853. Os frades franciscanos capuchinhos, vindos da Itália, passando por Sant’ana do São João Acima e estudando as necessidades do arraial que crescia, trocaram as capelas…a Capela do Rosário dos Negros no pasto (construída em 1840) pela Igreja Matriz de Sant’ana que ficava no alto do monte e era de difícil acesso.

Esses mesmos frades recomendaram antes de sua partida, a construção da Capela de São Miguel no interior do novo cemitério (hoje EE “José Gonçalves de Mello”) e da Capela do Senhor do Bonfim, no alto do Morro de Santa Cruz (hoje Morro do Bonfim) …que a displicência de muitos e a negligência de tantos a levaram a virar cinzas…e agora ninguém faz seu “mea culpa”…lamentamos e seguimos adiante…triste, porém verdadeiro.

Um dia, um dia vamos entender com clareza que as construções do passado são parte de nossa História. Um dia vamos entender que a História nos dá nossa identidade. Identidade coletiva; identidade enquanto o povo das barrancas do Rio São João.

Um dia vamos aprender a preservar, conservar, resguardar – como manda a Lei – o nosso Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural…material e imaterial. São as pegadas, são o sinal da presença, são como cartas dos nossos antepassados para nós; nos dizendo: estivemos aqui. Vivemos antes de vocês e lutamos muito para que vocês hoje possam desfrutar de muitas coisas….e ainda nos dizem: “nos respeitem”. Respeitem nossa Memória que está aí, no meio de vocês, não apenas em suas lembranças mais próximas, mas nas capelas, igrejas, monumentos, marcas que nós-os antigos- deixamos para vocês”.

Um dia, ainda vamos evoluir nosso pensamento e entender as marcas do Tempo e as marcas do Eterno entre nós. Para progredir não é necessário destruir. Não se preserva tudo, mas se preserva a Memória Coletiva.

História = Identidade. Somos um povo. E devemos ter muito orgulho disso!

Não permitiremos nossa Itaúna ficar sem Memória, sem História e muito menos sem rosto, sem nossa Identidade Cultural.

Sobre o autor:

Bacharel em Direito e licenciado em História pela Universidade de Itaúna, historiador, escritor, membro fundador da Academia Itaunenses de Letras, autor de “Crônicas Barranqueiras” e coautor de “Essências”, “Olhares Múltiplos” e “O que a vida quer da gente é coragem”. É cidadão honorário de Itaúna.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

seis − dois =