Da Guarda de Candombe, só de mulheres, para a organização da festa na casa da rainha

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Joana d’Arc Ferreira Marra Teodoro foi uma das dirigentes da Guarda de Candombe Nossa Senhora do Rosário, criada por suas tias e formada somente por mulheres. É a única agremiação do Congado no Brasil exclusivamente feminina evem homenageia as mulheres negras brasileiras, como Dandara, Luíza Mahin, Chiquinha Gonzaga, Tia Ciata, Carolina Maria de Jesus, Elisa Lucinda, Lecy Brandão, Benedita da Silva, Marielle Franco, Dona Çãozinha, Dona Maria do João Criolinho, Dunga, Dona Maria Ana e tantas outras.

Joana d’Arc, é itaunense, casada, mãe de três filhas e avó de cinco netos. Todos estão na Festa do Reinado e emprestam seu talento e devoção à Santa do Rosário. 

No ventre da mãe

Eu sou do Reinado desde quando estava na barriga da minha mãe. Sou filha e neta de congadeiros, pelos dois lados, de mãe e de pai. Minha mãe é filha da rainha perpétua Dona Çãozinha e meu pai, filho do antigo congadeiro, Geraldo Marra. Ainda muito criança acompanhava todo o tempo as atividades do Reinado. Sempre estive presente.

Ao lado da avó, Dona Çãozinha, na preparação das comidas para os visitantes

Hoje, não danço, não atuo diretamente na Guarda de Candombe Nossa Senhora do Rosário, estou à frente das atividades na casa de minha avó, Dona Çãozinha, para auxiliar na cozinha, nos preparativos da festa de recepção das pessoas, dos visitantes que vêm de todos os lugares, das guardas e pessoas da comunidade.

É a fé. Não tem outra explicação

O que representa para mim a Festa do Reinado? É a fé, em Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito. Não tem outra explicação. O Reinado não acontece somente em agosto, é o ano inteiro, com as atividades de preparação, as visitas das guardas, as rezas. A gente fica envolvido e essa fé nos movimenta e nos dá força.

Dona Çãozinha, rainha pérpetua

Minha avó, aos 98 anos, está debilitada. Participa pouco, mas quando as guardas chegam e as pessoas vêm à sua casa, ela quer participar. No levantamento das bandeiras, ela fica junto das pessoas, ganha uma força nova. É a nossa rainha.  

As crianças

Em todas as guardas, as crianças estão presentes mostrando que a Festa do Reinado não vai se acabar nunca, porque sempre estão chegando outras. Se renovando. Minhas filhas, já adultas, participam desde crianças, hoje estão ao lado das filhas, como minha neta de nove anos e, agora, uma de um e outra de dois anos. Todas participam.

Terreiro de chão batido e barraquinhas de lona

Minhas mais antigas lembranças da Festa do Reinado? A própria festa com seus coloridos, os povos mais antigos, o terreiro de chão batido, onde os congadeiros dançavam e as barraquinhas lá no Alto do Rosário feitas de lona. Não havia dinheiro, nem verba da Prefeitura. A festa era realizada de forma muito simples, mas com muita fé. As roupas eram dadas pela Fábrica, a Cia. Industrial Itaunense, que doava o pano. Havia muita fé e participação, principalmente das rainhas festeiras que serviam as comidas.

Prefeitura: verba pouca

Depois que a Prefeitura começou a dar os recursos, tudo ficou diferente. As guardas ficam um pouco dependentes disso, mas o dinheiro é pequeno para tantos gastos. A Prefeitura tem condições e pode aumentar esses recursos.