Os tempos da criança

0
1155
Larissa Alves Santos

Como continuidade do texto anterior, neste será apresentado o seguimento dos tempos do sujeito. Vale ressaltar que esses tempos podem ou não acontecer de forma sequencial, e às vezes juntos.

O terceiro tempo nomeado como “ ser ou ter o falo”, a criança agora pode começar a dizer não ocorrendo a separação que resulta em conflitos. Portanto percebe a modificação na ilusão dessa mãe completa ou perfeita que conseguia antecipar todos os desejos da criança. Ela tende agora a negar o que a mãe acredita saber o que está sendo desejado pela(o) filha(o). A criança demonstra um saber sobre si que essa mãe desconhece, o que parecia ser conhecido em um primeiro momento. Aos pais, é importante inserir a criança nas escolhas que são possíveis, talvez em escolhas de roupas, qual brinquedo ela brincar, estabelecer combinados e outras. É importante ela participar de algumas escolhas, mas não de todas . Talvez não seja uma escolha viável a criança decidir que não quer comer verdura, ou não quer tomar banho pois ainda precisa haver uma lei, ela precisa de limites para entender que há um lugar do adulto nessa relação. Para a criança, quando inserida nessas escolhas, ela consegue perceber e identificar que essa mãe é falha e incompleta, e que ela pode não entender o que está sendo desejado. Então é preciso haver um diálogo nessa partilha do gozo entre o que pode ser decidido pela criança, o que é possível a partir das condições dos pais.

Para o quarto tempo,” tempo de compreender” ou de forma mais conhecida “latência” , é um dos períodos mais longos, criativo e curioso da criança. É percebido então os intermináveis questionamentos iniciados com porquês que se revela a preocupação que a criança tem sobre sua existência no mundo, sobre o lugar que ela ocupa. Nesse momento é identificado pelos pais algumas angústias e inquietações das crianças que são levadas a clínica com falas de mudanças repentinas, pois agora nem mesmo as brincadeiras de faz de conta são satisfatórias. Agora brincar com as brincadeiras de regras faz com que ela perceba como se pode ter satisfação mesmo com limites, então ela mesma testa e muda as regras da brincadeira para entender como o outro perceberá essa mudança. Neste momento, responder a esses questionamentos faz com que ela consiga perceber a valorização que é dada às suas perguntas e consequentemente fazendo com que ela consiga ampliar e elaborar seu lugar e a maneira que ela pode ter prazer na relação com o outro . Esses porquês não exigem uma resposta elaborada ou de conhecimento técnico, o que a criança quer saber é entender o que tem por trás da fala das pessoas, o que elas desejam da criança. Ela consegue questionar se há outra mensagem por trás das falas ou ações das pessoas. Na atualidade é percebido alguns atrasos na fala das crianças, com volume baixo e mais retraídas pela falta desse interesse das pessoas adultas, sobre os questionamentos.

Durante o último tempo, “ o segundo despertar sexual ” é um momento rápido percebendo que há alguma mudança repentina nas ações da criança. Os pais relatam que a criança estava bem mas de repente ela mudou, a partir de algum ato em que ela se reconheça que não é mais criança como algo que se aflorou do que estava guardado. O corpo que ficou escondido no período de latência, agora se reabre. Aos pais nesse período conhecido como pré-adolescência, é importante não banalizar o drama vivido como se o sujeito não tivesse suas questões ou sofrimento, justificado por não precisar ainda se haver com algumas responsabilidades que os adultos têm. Isso demonstra uma insignificância ao sentimento do sujeito, retornando ao corpo de maneira mais agressiva, o que não pôde expressar na linguagem como questões de transtornos alimentares, mutilações, questões com a imagem e outros.

Portanto percebe-se que em cada período há um comprometimento e atenção necessária para a condução desse educar desafiador e subjetivo que cada mãe e/ou pai se apresenta como responsáveis.

Referência

Oliveira, Humberto Moacir de, & Maior, Virgínia Souto. (2015). O intercâmbio impossível da adolescência: análise pscinalítica sobre o despertar da sexualidade por meio do filme “Hoje eu quero voltar sozinho” de Daniel Ribeiro. Estilos da Clinica, 20(1), 120-133. https://dx.doi.org/http://dxdoi.org/10.11606/issn.1981-1624.v20i1p120-133

Larissa Alves Santos.
Graduada em psicologia. Psicanalista. Pós-graduanda em psicanálise com crianças e adolescentes- teoria e clínica.
Atuo em clínica com atendimento on-line e presencial para o público crianças, adolescentes e adultos.
@larissalvesantos
lalvespsi@gmail.com